RIO - O embate entre os servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o presidente do instituto, Marcio Pochmann, pode atingir diretamente o sindicato dos trabalhadores, conhecido como AssIBGE (Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística). Em notificação extrajudicial, Pochmann exigiu que a entidade deixe de usar a sigla IBGE em seu nome.
Procurada, a presidência do instituto não foi encontrada para comentar.
A demanda é mais um capítulo em uma briga que já dura meses e na qual a tensão só vem subindo. O sindicato dos servidores do IBGE tem conduzido diferentes mobilizações de trabalhadores, incluindo paralisações temporárias, contra o que chamam de "autoritarismo" da gestão Pochmann. Os servidores reivindicam diálogo e esclarecimentos da atual direção sobre medidas como alteração no estatuto do instituto, mudança de locais de trabalho de funcionários e extinção do trabalho totalmente remoto.
Um dos pontos de embate tem a ver com o surgimento da Fundação IBGE+, uma entidade de direito privado criada em julho passado no Rio de Janeiro, que poderá captar recursos para financiar as pesquisas do instituto, por exemplo. Citando um "risco institucional", os servidores afirmam que não houve uma comunicação sobre a criação desse "IBGE Paralelo" e que há um desconhecimento em relação ao papel que ele vai desempenhar.
Na terça-feira, a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP) divulgou carta aberta solicitando a "atuação urgente" do Congresso Nacional em defesa da autonomia técnico-científica do IBGE, que estaria ameaçada pela criação da fundação.
Recebida na última sexta-feira, 17, a notificação ao AssIBGE estabelece 15 dias para que a sigla seja retirada do nome fantasia. Argumenta que a atuação do sindicato não está circunscrita ao IBGE, citando os princípios da entidade: defender a prática da democracia; combater o corporativismo; e apoiar iniciativas compatíveis com os objetivos da construção de uma sociedade socialista, pelo fim da exploração do homem pelo homem, entre outros.
Em nota, o sindicato classificou a medida como "retaliatória" e ressaltou que a notificação tem como autor o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, sem assinatura dele. O documento contém apenas a assinatura do procurador-chefe do IBGE, Carlos Alberto Pires de Carvalho Albuquerque Junior, em manifestação anexa.
O sindicato argumenta que o uso de sigla de órgão público em nomes de sindicatos e associações de servidores no Brasil é uma "prática antiga e disseminada" e disse que, no caso do IBGE, o uso da sigla em entidades associativas de seus servidores vem desde 1947, com a criação do Clube Dos IBGEanos.
A entidade disse ainda que poderá reagir se houver notificação assinada pelo presidente do órgão. "O sindicato responderá apontando a invalidade da mera minuta de notificação, e caso esta venha de fato a ocorrer, com a assinatura do presidente, sr. Márcio Pochmann, adotará as medidas legais para defender sua marca registrada na memória de lutas de tantos trabalhadores ao longo de quatro décadas."