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Política econômica do governo Lula foi capturada pelas redes sociais; leia artigo

Sem reformas estruturais, Brasil vai seguir nas mãos dos líderes populistas, sensíveis ao extremo às reações da opinião pública, enquanto a economia patina

14 mar 2023 - 04h11
(atualizado às 07h37)
Política econômica do governo Lula foi capturada pelas redes sociais; leia artigo
Política econômica do governo Lula foi capturada pelas redes sociais; leia artigo
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

Os candidatos podem até falar mal das pesquisas de opinião, mas não dão um passo sem consultá-las. E isso continua no governo que se saem vitoriosos. Os presidentes estão sempre atentos a sua popularidade. Nos tempos atuais, contam ainda com outro termômetro mais irracional: reações da internet.

O governo Lula não é exceção, mas o presidente e seus auxiliares estão obsessivos com "likes" e xingamentos no Twitter e no Instagram. Levantamentos desse tipo circulam em todos os gabinetes. Aliás, como já acontecia na gestão Jair Bolsonaro.

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Só que no governo Lula se tornaram quase uma paranoia por causa do medo da reação da oposição. A eleição apertadíssima já provocava a sensação de mal-estar, e os atos golpistas do 8 de Janeiro vieram como a confirmação de um pesadelo.

"Se o governo enfrentar dificuldades no resultado (da economia), aí abre espaço para a emergência do golpismo", disse o ministro da Justiça, Flavio Dino, ao Estadão. Dino apenas tornou pública uma preocupação que ministros e líderes do governo no Congresso já confessavam em privado antes da destruição dos prédios dos Três Poderes.

Foi essa percepção que guiou a aprovação da PEC do Estouro, que liberou mais de R$ 200 bilhões em gastos antes de Lula tomar posse. E é também essa percepção ou paranoia (a depender do quanto o interlocutor considera sólidas as instituições brasileiras) que capturou a política econômica.

Com as estimativas de PIB abaixo de 1% e uma crise de crédito estourando após o escândalo da Americanas, o governo lançou mão de todas as suas ferramentas de uma vez só. Em poucas semanas, tivemos ou teremos o anúncio do reajuste do salário mínimo e da tabela do Imposto de Renda, a retomada do Minha Casa, Minha Vida, a reformulação do Bolsa Família, o programa para salvar os endividados, etc.

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E, mesmo quando é discutida uma sinalização de responsabilidade fiscal, como a reoneração da gasolina, interlocutores do governo contam que alguém pondera dentro de uma reunião: "Mas vocês viram a reação dos bolsonaristas na internet?".

E, aí, o receio do impacto na popularidade de Lula leva a mudanças de rumo ou à criação de remendos. No caso da reoneração da gasolina, veio um imposto sobre a exportação de petróleo, que já foi contestado judicialmente.

Enquanto isso, o desenho do arcabouço fiscal é guardado a sete chaves, mesmo com o mercado ávido por notícias que favoreçam a queda nos juros. Primeiro, porque cortar gastos não rende popularidade. Depois, porque o Ministério da Fazenda teme a reação da oposição e o fogo amigo do próprio PT nas redes sociais. Integrantes da equipe econômica ficam atentos ao Twitter da presidente do PT, Gleisi Hoffman. É de lá que vêm as maiores pressões.

Quando as novas regras fiscais finalmente se tornarem conhecidas, se não forem muito frágeis, vão dar algum alívio ao mercado. Afinal, um problema a menos. Só que, sem reformas estruturais, o Brasil vai seguir na mesma toada dos últimos anos: nas mãos dos líderes populistas, sensíveis ao extremo às reações da opinião pública, enquanto a economia patina.

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