Há alguns dias li uma reportagem publicada pelo jornal The New York Times que me levou à reflexão. No texto, o jornalista David Streitfeld destaca que apesar de a pandemia ter nos preparado para o autogerenciamento e para uma comunicação realizada por meio de máquinas, caso dos aplicativos, estamos todos sendo surpreendidos – muitas vezes de maneira negativa – pela Inteligência Artificial (IA).
De acordo com a publicação, há um bom volume de profissionais, dos mais diversos setores e cargos, abalados por ver seus empregos se tornando obsoletos. Isso, porque colaboradores cujas funções têm relação com a análise de mercado e discussão de tendências, já veem os computadores cumprindo esses papéis de forma mais eficiente.
Aqueles que se dedicam à comunicação têm visto suas atividades serem automatizadas com geradores de voz e imagem. E até aqueles que se dedicam à tomada de decisões difíceis já começam a vivenciar a era em que as máquinas passam a decidir – e de maneira mais impessoal, diga-se de passagem.
Estamos vivendo uma transição importante e assistindo ao fim de empregos extremamente bem remunerados, que vão gerar economia de custos importante para companhias em todo o mundo. O próprio cargo de CEO está cada vez mais ameaçado pela IA e empresas bem-sucedidas já consideram testar a possibilidade de ter líderes nesse "formato".
Pessimismo em demasia?
Apesar desse olhar, que para alguns pode ser pessimista ou até apocalíptico, ainda vejo a Inteligência Artificial e o Machine Learning como ferramentas e tecnologias capazes de nos levar a um nível de evolução jamais imaginado. Acredito que vamos ter muitas mudanças na maneira como nos organizamos em relação aos negócios. Também acredito no uso da Inteligência Artificial como uma potencializadora das capacidades e habilidades humanas.
Talvez, as companhias realmente enxerguem que não precisam do volume de líderes que possuem atualmente, no entanto, continuará existindo a necessidade de lideranças nas empresas.
Pode não parecer, à primeira vista, mas o advento de tecnologias e soluções com a IA chegam ao cenário corporativo e ao mundo, de forma geral, para contribuir. É fato que atividades repetitivas e, por vezes, burocráticas, poderão ser realizadas pelas máquinas. Isso trará uma vantagem especial a nós, que somos seres pensantes, uma vez que otimizaremos nosso tempo.
A tecnologia funcionará para abrir caminho para que novas habilidades estratégicas possam ser desenvolvidas por cada um de nós no tempo que ficará disponível. Ou seja, é possível que alguns cargos deixem de existir? Claramente sim. Mas também é verdade que novas ocupações surgirão e serão muito mais estratégicas para a comunidade e a sociedade como um todo.
Vimos, em diversas outras oportunidades em que a sociedade passou pela automação, o mesmo temor nas pessoas. É claro que esses avanços colocam, muitas vezes, algumas profissões em risco, mas não significa que elas necessariamente tenham que ser extintas. Será que não conseguiremos fazer adaptações à forma de atuação? Será que com o avanço tecnológico também não avançaremos como seres humanos e descobriremos novas habilidades e aptidões que nos levem igualmente ao crescimento?
Convido as todos para que parem por alguns minutos, seja agora ou em um momento mais tranquilo, para pensar sobre esse tema e, mais, a refletir sobre como poderiam aprimorar sua atuação profissional. O que pode ser feito de forma diferente? Como elevar o nível não apenas para entregar resultados maiores e melhores, mas para reinventar a própria atuação enquanto profissionais?
Sei que esse é um exercício complexo e que em muitos momentos pode ser cansativo, mas também pode ser um caminho interessante para inovar, deixar de olhar para a Inteligência Artificial como uma vilã e passar a encará-la como fonte de inspiração e aliada para gerar mudanças positivas. Pense a esse respeito!
(*) Mauricio Frizzarin é fundador e CEO da QYON Tecnologia, empresa especializada no desenvolvimento de softwares para gestão empresarial com IA.