Por que Grécia autorizou semana de trabalho de 6 dias, na contramão da tendência mundial

A nova legislação, em vigor desde o início de julho, permite que os funcionários trabalhem até 48 horas por semana em vez de 40.

4 jul 2024 - 07h57
A nova legislação entrou em vigor no início de julho
A nova legislação entrou em vigor no início de julho
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A Grécia acabou de introduzir a semana de trabalho de seis dias para determinados setores, numa tentativa de impulsionar o crescimento econômico.

A nova legislação, que entrou em vigor no início de julho, permite que os funcionários trabalhem até 48 horas por semana, em vez de 40.

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A política se aplica apenas a empresas que operam 24 horas por dia — e é opcional para os trabalhadores, que recebem um adicional de 40% pelas horas extras que fazem.

No entanto, a medida do governo grego está na contramão da cultura trabalhista em outras partes da Europa e dos EUA, onde as semanas de trabalho de quatro dias estão se tornando mais comuns.

As empresas que adotam o esquema de semanas mais curtas costumam argumentar que trabalhar menos horas aumenta, na verdade, a produtividade e o bem-estar dos funcionários.

A expectativa é de que a política da Grécia de semanas de trabalho de seis dias ajude a combater o trabalho não declarado que leva à evasão fiscal, segundo a emissora pública grega ERTNews.

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As empresas do setor de turismo e da indústria alimentar não estão incluídas na nova política.

Uma política 'voltada ao crescimento'

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, disse que "o núcleo desta legislação é favorável aos trabalhadores e está profundamente voltado ao crescimento", segundo o jornal britânico The Guardian.

"E equipara a Grécia com o resto da Europa", acrescentou.

A nova política se aplica a empresas e negócios que funcionam 24 horas por dia e em turnos rotativos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A "diretriz de tempo de trabalho" da União Europeia exige que os Estados membros garantam um limite de 48 horas para a jornada de trabalho semanal, incluindo horas extras.

Uma porta-voz do Ministério do Trabalho e Segurança Social da Grécia explicou que a política se aplica a "dois tipos específicos de empresas":

- Empresas que operam continuamente, 24 horas por dia, sete dias por semana, em turnos rotativos;

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- E negócios que funcionam 24 horas por dia, cinco ou seis dias por semana, também com turnos rotativos.

"Em ambos os casos, a opção de jornada extra é uma medida excepcional, permitida apenas em resposta ao aumento da carga de trabalho", disse a porta-voz à BBC.

"É importante notar que esta medida não afeta de forma alguma a semana de trabalho de cinco dias estabelecida por lei. Em vez disso, serve para atender demandas operacionais urgentes que não podem ser atendidas por meio da oferta disponível de trabalhadores especializados."

O governo grego acrescentou que as novas regulamentações também protegeriam os trabalhadores contra "trabalho não declarado ou insuficientemente declarado, e garantiriam uma compensação justa".

Na contramão da tendência mundial

Mas quando se trata de semanas de trabalho, a Grécia parece estar avançando na direção oposta de outras nações.

Na Islândia, a semana de trabalho de quatro dias foi classificada como bem-sucedida
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Desde a pandemia de covid-19, as empresas têm adotado modelos de trabalho flexíveis, e muitas testaram semanas de quatro dias, sem perda salarial.

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Na Islândia, o teste da semana de quatro dias foi considerado um "sucesso arrebatador", e levou muitos trabalhadores a optar por jornadas mais curtas, segundo os pesquisadores, que afirmaram que a produtividade permaneceu a mesma ou melhorou na maioria dos locais de trabalho.

Experimentos semelhantes foram realizados em diferentes países do mundo desenvolvido, tanto por iniciativa dos governos, quanto por parte das empresas.

A Grécia está tentando impulsionar seu crescimento econômico, após um longo período de graves dificuldades.

A crise financeira mundial do fim da década de 2000 teve um efeito devastador nas famílias gregas, num país com gasto público elevado e evasão fiscal generalizada.

Como consequência da crise, a nação europeia se viu mergulhada em dívidas.

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Nos últimos anos, a Grécia voltou a crescer, depois que a crise obrigou o país a pedir três pacotes de resgate internacional.

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