A Petrobras divulgou nesta quinta-feira (07/08) que teve um lucro líquido de R$ 531 milhões no segundo trimestre de 2015. O valor contrasta fortemente com o ganho do trimestre anterior, de R$ 5,33 bilhões, ou com o resultado do segundo trimestre de 2014, de R$ 4,96 bilhões.
O lucro pequeno surpreendeu os analistas de mercado, que esperavam um valor em torno de R$ 4 bilhões, e deixa a pergunta: como explicar essa diferença tão gritante entre expectativa e realidade? "Esse relatório é um tanto 'sujo', há várias coisinhas não recorrentes que aparecem o tempo todo", explica o analista Daniel Marques, da Gradual Investimentos.
Os fatores não recorrentes são uma despesa tributária de IOF com a Receita Federal no valor de R$ 4,4 bilhões e uma baixa no valor de ativos (impairment, no jargão financeiro) de R$ 1,3 bilhão. A inclusão desses fatores no balanço reduziu drasticamente o lucro líquido trimestral. Sem eles, ele até passaria dos R$ 4 bilhões esperados pelos analistas.
Resultado obscurecido
"Ninguém no mercado acertou o resultado do balanço porque ninguém esperava valores de impairment e IOF dessa magnitude", resume Marques. Ou, como diz Walter de Vitto, da Tendências Consultoria, o pagamento de IOF e o impairment obscureceram o resultado final e dão a impressão de que ele é uma desgraça. "Mas não, ele é razoavelmente positivo."
Deixando de lado esses fatores, o resultado operacional do segundo trimestre de 2015 é até melhor do que o do segundo trimestre de 2014. Isso é visível sobretudo no lucro operacional, que cresceu 7%, para R$ 9,5 bilhões. Já a geração de caixa (Ebidta, no jargão financeiro, ou seja, o lucro antes de se pagar impostos e juros e sem descontar as depreciações) subiu 21,7%, para R$ 19,8 bilhões. O lucro operacional do primeiro semestre de 2015 é 39% ao dos primeiros seis meses de 2014.
"Se você olhar o resultado operacional, ele na verdade melhorou. Ou seja, o resultado daquilo que a Petrobras produz e vende menos os custos melhorou", afirma Vitto. Para ele, é possível ver o início de um processo de recuperação da empresa. "O fato de o lucro líquido ter sido muito baixo maquia os primeiros resultados dessas medidas que estão sendo tomadas", diz. Entre as medidas está o realinhamento de preços dos combustíveis, que aos poucos deixam de ser subsidiados pelo governo.
Endividamento segue maior problema
Apesar dos sinais positivos, há um problema que segue sem solução: o pesado endividamento da petrolífera. A dívida da Petrobras soma R$ 415 bilhões. A maior parte desse valor – cerca de 305 bilhões – está em dólar e, portanto, sujeita às variações de câmbio.
Analistas de mercado são unânimes em afirmar que não há solução de curto prazo para esse problema. A dívida é, em parte, resultado de um plano de investimentos para elevar a produção de petróleo e que se mostrou ambicioso demais. Além disso, a empresa arcou por muito tempo com os prejuízos causados pela política de controle de preços de combustíveis do governo. O objetivo desse controle era impedir o aumento da inflação.
A solução, agora, passa por cortar investimentos. A Petrobras chegou a responder por 10% de todos os investimentos feitos no país. "É um percentual brutal, que estrangulou a empresa", avalia Vitto. "O importante agora é priorizar os investimentos rentáveis e abandonar os não rentáveis." Outra medida para reduzir a dívida é a geração de caixa, que pode ser alcançada também com a venda de ativos ou a com planejada abertura de capital da BR Distribuidora.