Ao fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa nesta terça-feira, 17, analistas do mercado financeiro esperam o anúncio de aumento da taxa Selic para 10,75%. A mudança deve vir logo após semanas intensas, com divulgação de um crescimento do PIB acima do esperado no segundo trimestre e deflação no último IPCA.
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O que pareciam ser boas notícias não provocaram o efeito esperado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, desde o início de sua gestão, tem defendido a redução dos juros. Para o mercado, não faltam "pressões inflacionárias" que justifiquem o aumento da taxa Selic.
Quais são as pressões inflacionárias
O aumento de 25 pontos percentuais é consenso para 77% dos respondentes da pesquisa do BTG Pactual, feita na semana anterior ao Copom, com 80 participantes do mercado financeiro. O especialista em Finanças Felipe Nasciben, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), acredita, no entanto, que caso tivesse sido feita nesta segunda-feira, 16, a pesquisa poderia até trazer a expectativa de aumento de 50 pontos percentuais.
"O mercado acordou apostando um pouco mais numa subida de meio ponto. Acho que vale ficar bastante atento a essa possibilidade", afirma.
Apesar disso, ele próprio mantém a aposta dos 0,25% a mais. Para ele, o que justifica as negociações projetando um aumento maior na Selic são as pressões que surgiram da semana passada para cá.
"Não pressão política ou algo nesse sentido, mas de informações de mercado, dados econômicos. As pressões subiram tanto, que vai ser difícil o Banco Central ser muito conservador e tentar segurar, porque ele não vai ter muito argumento para segurar essa taxa", considera.
Nasciben elenca como principais pressões inflacionárias o câmbio desvalorizado frente ao dólar, a crise climática, que deve produzir efeitos no IPCA de setembro, e a incerteza fiscal de que o governo conseguirá honrar seus compromissos.
"Apesar da deflação do mês de agosto, de menos 0,02%, que é uma deflação bastante simbólica na verdade, o principal contribuidor dessa inflação mais baixa em agosto curiosamente foi uma energia mais barata. Porém, nós já entramos no mês de setembro com a bandeira tarifária vermelha. Então, provavelmente a própria energia que foi o contribuidor do mês de agosto tende a ser um dos principais detratores no mês de setembro", avalia o professor.
Ele complementa que no segundo trimestre a inflação se afastou do centro da meta, chegando mais ao topo. A meta para o ano de 2024 é de 3%, com margem de 1,5% para mais ou menos.
Também na pesquisa do BTG Pactual, a maioria dos integrantes do mercado financeiro (56%) acredita que o IPCA irá terminar o ano entre 4,25% e 4,50%. A análise está em linha com o boletim Focus desta semana, produzido pelo Banco Central, que prevê a alta de 4,35% no indicador ao final deste ano.
Resultados da "Super Quarta"
Se por aqui é esperado um aumento da Selic, nos Estados Unidos o FED (banco central norte-americano) deve anunciar redução de sua taxa básica de juros. Este será o início do ciclo de queda de juros nos EUA desde 2020, depois de chegar a níveis controlados de inflação após os efeitos da pandemia de covid-19.
Nasciben lamenta, no entanto, que Brasil e Estados Unidos não vão compartilhar, pelo menos por enquanto, desse ciclo de queda.
"Nós tivemos uma reviravolta", afirma o especialista. Ele explica que, no início do ano, o mercado projetava que terminaríamos 2024 com uma Selic entre 9% e 9,5%, mantendo um constante ciclo de baixas.
"Agora nós temos um início de ciclo de baixa atrasado nos Estados Unidos e um frustrante possível início de alta no Brasil. E essa contradição é ruim na perspectiva de crescimento econômico. Porque, se essa combinação tivesse acontecido, potencializaria a alta do Ibovespa, potencializaria os investimentos produtivos", afirma.
Por outro lado, a queda nos juros norte-americanos continua sendo uma boa notícia para setores como o de serviços e comércio, já que vai balancear o movimento contracionista da subida da Selic no Brasil.