A Bovespa abriu dezembro com forte queda, em meio a um quadro adverso para commodities no exterior, após a divulgação de dados econômicos desfavoráveis da China, e com preocupações sobre eventual aumento da carga tributária visando reequilibrar as contas públicas brasileiras.
O Ibovespa recuou 4,37%, a 52.276 pontos, na maior queda diária desde 29 de setembro, quando terminou em baixa de 4,52%. Todos os papéis da carteira encerraram no vermelho. Já o volume financeiro do pregão somou R$ 7,5 bilhões.
O anúncio da nova equipe econômica com Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda na última semana agradou o mercado em um primeiro momento, ao representar um passo na direção de políticas mais ortodoxas.
No entanto, especulações sobre eventuais medidas fiscais, principalmente relacionadas a tributos, trouxeram nessa sessão preocupações sobre o potencial impacto para companhias e investidores, disseram à Reuters profissionais do mercado.
As apreensões com medidas tributárias encontraram suporte em reportagens da Folha de S.Paulo citando que a nova equipe econômica vai optar por aumento de tributos para fechar as contas públicas, bem como que governadores eleitos do PT articulam a volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Em nota a clientes, o estrategita da XP Inventimentos, Celson Plácido, também citou que havia investidores atribuindo a forte queda da bolsa a rumores sobre tributação de dividendos e extinção de juros sobre capital próprio. Plácido lembrou que tramita, desde março, na Câmara dos Deputados projeto de lei dos deputados federais Renato Simões (PT-SP) e Ricardo Berzoini (PT-SP) sobre o tema.
O gestor de uma administradora de recursos no Rio de Janeiro, que preferiu não ter o nome citado, disse que "há preocupação sobre o que o governo pode vir a tributar e o mercado vai ficar bastante atento a isso".
Queda das ações
A alta no mercado futuro de juro respingou na Bovespa, afetando papéis de concessionárias, como CCR, que caiu 5,95%, e shopping centers, como BR Mall Participações, que cedeu 5,7%.
Nem mesmo a Oi sustentou os ganhos nesta segunda-feira e terminou em baixa de 5,80%, depois de ter subido o mesmo tanto, após anúncio de acordo para negociar venda de seus ativos portugueses com grupo europeu de telecomunicações Altice.
Carteiras de ações para dezembro compiladas pela Reuters corroboram o cenário ainda cauteloso para a bolsa, com os estrategistas de seis casas avaliando positivamente o anúncio da nova equipe econômica, mas mantendo posições ainda relativamente defensivas, por considerarem os desafios elevados.
Uma fonte ouvida pela Reuters também atrelou a forte queda do Ibovespa, principalmente por volta do horário do almoço, a uma operação de venda de índice por um importante banco estrangeiro, com um investidor estrangeiro zerando posição em Brasil após sofrer resgate.
Petróleo e China
Os rumores sobre tributação acenturam a pressão negativa vinda do exterior, após o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC/Markit mostrar que o crescimento nas fábricas da China estagnou em novembro, enquanto a produção encolheu pela primeira vez em seis meses, em novas evidências sobre a fraqueza da atividade chinesa.
Os números levaram os preços dos contratos futuros de minério de ferro na China a quebrarem sequência de três altas e recuarem nesta segunda-feira, o que afetou os papéis da Vale, com as preferenciais da mineradora encerrando em queda de 4%.
Os preços do petróleo também começaram a semana com novas perdas, corroborando tom negativo na abertura da Bovespa, com o Brent tocando a mínima em cinco anos, mas a commodity reverteu o movimento buscando um piso, após a Opep decidir na semana passada que não vai cortar a produção.
Os papéis da Petrobras, já afetados pelo quadro desfavorável para a companhia, envolvida em denúncias de corrupção e com elevado nível de endividamento, recuaram 3,75% no caso dos preferenciais. As ações ordinárias caíram 5,27%.
A BM&FBovespa divulgou mais cedo a primeira prévia para a nova carteira do Ibovespa, que será válida de janeiro a abril de 2015, com saída das preferenciais da distribuidora paulista de energia Eletropaulo e entrada dos papéis ordinários da administradora de shopping centers Multiplan.
O movimento já era aguardado, conforme estimativas compiladas pela Reuters na sexta-feira.
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