RIO - A indústria brasileira mostrou perda de fôlego na reta final de 2024. A produção teve uma redução de 0,6% em novembro ante outubro, segundo mês seguido de quedas, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados nesta quarta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Claramente o setor industrial está reduzindo seu ritmo, e isso fica mais caracterizado pelo perfil disseminado de perdas na margem da série", apontou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
Na passagem de outubro para novembro, a produção encolheu nas quatro grandes categorias econômicas. Houve redução em 19 dos 25 ramos industriais, com destaque para veículos automotores (-11,5%) e derivados do petróleo (-3,5%).
Macedo lembrou que, nos últimos meses de 2024, houve arrefecimento nos níveis de confiança de empresários e de consumidores, puxados por uma deterioração nas expectativas futuras. Ele crê que o movimento tenha influência do atual ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic, conduzido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O aperto monetário ainda não tem efeito direto sobre a produção, mas afeta as expectativas de empresários quanto ao futuro, justificou Macedo. Além disso, a desvalorização do real ante o dólar encarece os custos de produção, o que pode afetar tanto a decisão empresarial de produzir quanto a própria demanda de consumidores. Ao mesmo tempo, o aumento de preços dos alimentos contribui para uma diminuição da renda familiar disponível, acrescentou Macedo.
"São fatores que podem contribuir de alguma forma para esse setor industrial com menor dinamismo", explicou o pesquisador.
A nova acomodação na indústria em novembro veio em linha com o esperado, corroborando assim a expectativa de uma contribuição mais modesta do setor para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no período, avaliou Daniel Xavier, economista-chefe do Banco ABC Brasil. O economista reiterou sua projeção de desaceleração do PIB, para uma elevação de 0,6% no quarto trimestre de 2024.
"Com isso, o PIB total deve encerrar 2024 em (alta de) 3,6% e desacelerar para ao redor de 2,0% ao longo deste ano", previu Xavier, em relatório.
Apesar da perda de ritmo na reta final do ano, o saldo final de 2024 é positivo, ressaltou André Macedo, do IBGE. Na comparação com novembro de 2023, a indústria ainda cresceu 1,7% em novembro de 2024, sexta taxa positiva consecutiva. Como resultado, o setor industrial acumulou uma expansão de 3,2% nos 11 primeiros meses de 2024, em relação ao mesmo período do ano anterior. Em 12 meses, a produção acumula uma elevação de 3,0%. Os níveis recordes de trabalhadores ocupados e da massa salarial em circulação na economia contribuem positivamente para a produção industrial.
"O saldo dos últimos meses ainda é positivo", afirmou Macedo. "O ano de 2024 está entregando um patamar superior de produção em relação ao que tinha em 2023?, ressaltou.
O C6 Bank espera que a indústria tenha fechado o ano de 2024 com uma expansão próxima a 3%.
"A despeito da contração em novembro, os números sugerem que a indústria brasileira como um todo avançou em 2024, mesmo com a alta da taxa Selic", estimou Heliezer Jacob, economista do C6 Bank, em comentário. "Em 2024, o setor industrial, ao lado dos serviços, contribuiu positivamente para o PIB, que deve ter registrado uma sólida expansão de 3,5%, de acordo com a nossa projeção. Para 2025, estimamos uma desaceleração do crescimento da atividade econômica para 2%, explicada, principalmente, por nossa perspectiva de retração na produção industrial do país."