Represas, usinas para geração de energia e outros projetos de desenvolvimento econômico financiados pelo Banco Mundial desalojaram cerca de 3,4 milhões de pessoas, segundo um levantamento realizado pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (Icij, sigla em inglês).
Na Nigéria, por exemplo, autoridades despejaram milhares de pessoas que viviam em Badia East, uma favela localizada na maior cidade do país, Lagos. Elas foram expulsas sem aviso prévio ou indenização, segundo o relatório. No Quênia, milhares de moradores de comunidades tradicionais foram forçados a deixar o local que habitavam em favor de um programa de preservação ambiental patrocinado pelo Banco Mundial.
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Comunidades em outros países emergentes e em desenvolvimento contaram histórias similares para uma equipe de 50 jornalistas internacionais. Há muito tempo que organizações de direitos humanos criticam o banco por não monitorar de forma eficaz os efeitos dos programas que patrocina.
Segundo elas, justamente os pobres são os mais afetados pelos projetos financiados pelo Banco Mundial – as mesmas pessoas que a instituição deveria estar ajudando a sair da pobreza. "Pessoas que são reassentadas muitas vezes perdem muitas de suas opções de subsistência. Por exemplo, se elas dependem da agricultura de subsistência, às vezes leva algum tempo para retomarem suas atividades num outro lugar", afirma a ativista de direitos humanos Jessica Evans, da Human Rights Watch (HRW).
"Sérias deficiências"
Com base nos resultados de uma investigação interna, o Banco Mundial admitiu "sérias deficiências" nos reassentamentos causados pelos seus programas e disse haver necessidade de melhorias. "Estamos revendo nossas medidas de prevenção e estou decidido a aprender com os erros do passado. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para proteger as pessoas e o meio em que elas vivem", afirmou o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim.
Para a Human Rights Watch, isso não basta. "O Banco Mundial não pode simplesmente prometer que não vai repetir os erros do passado. É necessário identificar e indenizar os prejudicados", afirma Evans.
A Anistia Internacional afirma que o Banco Mundial não consegue nem mesmo descobrir quantas pessoas são afetadas pelos seus projetos. Segundo a ativista Alessandra Masci, o banco confia demais nas informações fornecidas pelos beneficiários dos projetos. "O beneficiário tem, obviamente, uma vantagem econômica ao não apresentar potenciais problemas e impactos negativos sobre as comunidades porque quer obter o empréstimo. O banco está dando crédito de forma muito apressada", diz Masci.
Uma equipe no local é necessária para verificar de forma independente as informações fornecidas pelos credores. Segundo Evans, a ênfase do Banco Mundial está em enviar dinheiro e não em implementar e monitorar os projetos para garantir que não haja danos.
No caso dos despejos na Nigéria, o Banco Mundial deveria estar ciente de que os despejos poderiam acontecer, disse o consultor de direitos humanos Ashfaq Khalfan, da Anistia Internacional. "Isso já havia acontecido em outro projeto financiado pelo Banco Mundial. E mesmo assim o banco concedeu empréstimo sem obter uma garantia do governo de Lagos de que o problema não se repetiria", critica Khalfan. "No fundo, o problema é que o Banco Mundiall prioriza o crescimento econômico sobre os direitos humanos."