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Quando os indicados pelo governo serão maioria no Copom e que impacto isso pode ter nos juros

Primeira reunião do Copom com maioria de indicados pelo governo será apenas em janeiro de 2025; lei de autonomia do Banco Central mudou dinâmicas do órgão

2 ago 2023 - 15h01
(atualizado em 3/8/2023 às 07h36)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve ter a maioria da sua composição com nomes indicados pelo governo em janeiro de 2025. Porém, essa maioria não deve resultar em mudanças significativas na atual condução da política monetária, segundo especialistas.

BRASILIA DF 23-06-2020 ECONOMIA NEGOCIOS LINK BANCO CENTRAL SEDE BANCO CENTRAL DO BRASIL FOTO Marcello Casal Jr-Agencia Brasil
BRASILIA DF 23-06-2020 ECONOMIA NEGOCIOS LINK BANCO CENTRAL SEDE BANCO CENTRAL DO BRASIL FOTO Marcello Casal Jr-Agencia Brasil
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil / Estadão

A reunião do Copom desta semana, em ficou decidido o corte de 0,5 ponto porcentual na Selic, foi a primeira a contar com a presença de dois diretores indicados pelo governo Lula: o de Política Monetária, Gabriel Galípolo, e o de Fiscalização, Ailton de Aquino Santos.

Em janeiro de 2024, o colegiado deve contar com mais duas indicações do presidente Lula, totalizando quatro diretorias de oito existentes. No entanto, o presidente do BC Roberto Campos Neto, que também vota, foi indicado pelo governo de Jair Bolsonaro e termina seu mandato no último dia de 2024.

No ano que vem, espera-se que o governo indique nomes para a Diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos e para a Diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Já em janeiro de 2025, o colegiado deve ter novos diretores de Administração e de Regulação.

O órgão, formado pelo seu presidente e oito diretores, define por votos a taxa básica de juros da economia, a Selic. Atualmente, com a lei recente que garante a autonomia do Banco Central, os nomes dos integrantes da diretoria colegiada do Copom são escolhidos pelo presidente da República e depois precisam ser aprovados pelo Senado. Os mandatos duram quatro anos e não podem coincidir com o mandato do presidente em exercício. Os diretores podem ser demitidos em situações previstas por lei, também com aval do Senado.

Atualmente, o Comitê é formado pelos seguinte diretores, além do presidente Campos Neto:

  • Diretora de Administração - Carolina de Assis Barros (fim do mandato em 31/12/2024);
  • Diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos - Fernanda Guardado (fim do mandato em 31/12/2023);
  • Diretor de Fiscalização - Ailton De Aquino Santos (fim do mandato em 28/02/2027);
  • Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução - Renato Dias de Brito Gomes (fim do mandato em 31/12/2025);
  • Diretor de Política Econômica - Diogo Abry Guillen (fim do mandato em 31/12/2025);
  • Diretor de Política Monetária - Gabriel Muricca Galípolo (fim do mandato em 28/02/2027);
  • Diretor de Regulação - Otávio Ribeiro Damaso (fim do mandato em 31/12/2024);
  • Diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta - Maurício Costa de Moura (fim do mandato em 31/12/2023).

Impactos da nova diretoria

Desde o início do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes da sua gestão no Executivo têm reforçado críticas sobre a atuação do BC e a persistência da alta taxa de juros. No entanto, especialistas apontam que mesmo com uma maioria de indicados pela atual gestão, os rumos da política monetária estão mais limitados e não devem seguir apenas o desejo do governo.

Isso porque a lei da autonomia do BC, em vigência desde 2021, durante a gestão de Jair Bolsonaro, faz com que o órgão precise seguir as metas estabelecidas e apresentar justificativas ao Senado. "Isso restringe o grau de liberdade com a política monetária, o que impede a repetição do que já aconteceu no passado, com a aceleração da inflação e o desarranjo da economia brasileira", diz Vladimir Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.

Por isso, mesmo que ao longo do tempo o Copom passe a ter mais diretores indicados pelo governo atual, a gestão do BC ainda precisa perseguir as metas e justificar decisões ao Senado. Maciel explica que a tendência é que os diretores sejam mais lenientes em relação à inflação e à taxa de juros. "Se começarmos a ter muita flexibilização das metas, o mercado já irá projetar para frente uma inflação e juros maiores, o que pode impactar numa definição de uma Selic mais alta", afirma Maciel.

Com a legislação, a herança de governos anteriores na composição do Copom ocorre pela primeira vez. A lei estabeleceu mandatos fixos para o presidente e para os diretores da autarquia federal, além de regras mais rígidas para a admissão e demissão desses dirigentes.

Em geral, a troca da diretoria não deve gerar grandes mudanças, na opinião do professor de economia da FGV Renan Pieri. "As decisões do Copom são similares, interligadas. Dificilmente diretores recém-indicados terão decisões muito diferentes do restante do colegiado e do presidente do BC", diz.

Por enquanto, o cenário econômico aponta para mudanças de rota, com a redução da Selic. Esse cenário mais otimista, com melhores perspectivas para a inflação, aumento da nota de crédito, avaliações positivas do arcabouço fiscal e aprovação da reforma tributária, deve influenciar uma redução na taxa básica de juros, independente da mudança da diretoria, afirma Pieri.

Em 2025, com a maioria dos diretores indicados pelo governo, é possível ter uma outra condução da política monetária, o que deve depender do cenário econômico, mas não são esperadas mudanças radicais, diz Pieri. "O perfil dos diretores tem sido mais ou menos parecido no jeito de conduzir a política monetária. O que muda é a velocidade de reação ao subir ou derrubar a taxa de juros. Talvez essa nova diretoria possa responder mais rapidamente ao cenário econômico", diz o professor.

Apesar de um debate público muito focado em política monetária, Pieri e Maciel afirmam que o maior ponto de incerteza é a política fiscal, que pode chegar a influenciar as decisões da política monetária. "Não sei se vai ser tão fácil aumentar a receita como o esperado. Então temos essa fragilidade sim, ainda que o arcabouço já seja um ganho", diz Maciel, que discorda do ajuste feito apenas pela receita.

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Primeira reunião do Copom com maioria de indicados pelo governo será apenas em janeiro de 2025
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão
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