O rapper americano Kanye West, agora conhecido como Ye, não está mais na lista de bilionários da revista Forbes.
A publicação estima que o artista perdeu US$ 1,5 bilhão do seu patrimônio líquido depois que a Adidas encerrou seu contrato com ele por "não tolerar antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio".
A decisão da empresa foi tomada 17 dias depois de o rapper ter postado comentários antissemitas nas redes sociais.
No início do mês, o Instagram e o Twitter baniram a conta do rapper após classificar comentários seus como antissemitas.
Kanye teve sua conta no Instagram suspensa depois de acusar o rapper Diddy — que havia criticado Kanye por usar uma camiseta 'White Lives Matter' — de ser controlado por judeus.
West respondeu à sua suspensão do Instagram pelo Twitter, dizendo que iria adotar "'death con 3' em relação aos judeus", uma referência ao termo Defcon (estado de alerta usado pelas Forças Armadas americanas), o que rendeu a ele a expulsão do Twitter.
Ambas as plataformas removeram as postagens do rapper — e disseram que ele violou as políticas de discurso de ódio.
Em 15 de outubro, durante participação no podcast americano Drink Champs, Ye defendeu sua postagem: "O povo judeu é dono da voz negra... seja por meio de nós assinando com uma gravadora ou tendo um empresário judeu. A mídia judaica me bloqueou".
O Drink Champs pediu desculpas por veicular as opiniões de Kanye e removeu o episódio.
Adidas
Em comunicado divulgado na terça-feira (25/10), a Adidas classificou as postagens do rapper americano como inaceitáveis:
"A Adidas não tolera antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio. Os comentários e atitudes recentes de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos, e violam os valores da empresa de diversidade e inclusão, respeito mútuo e justiça", escreveu a companhia, que já havia informado no início deste mês que estava reavaliando sua parceria com a marca Yeezy, de West.
O rapper, que foi diagnosticado com transtorno bipolar, já havia causado polêmica durante a Paris Fashion Week ao usar uma camiseta estampada com os dizeres "White Lives Matter".
A Liga Antidifamação (entidade que combate o avanço do antissemitismo) classificou a frase como "discurso de ódio" e a atribuiu a supremacistas brancos, que começaram a usá-la em 2015 em resposta ao movimento Black Lives Matter.
De acordo com a Forbes, a fortuna estimada de Ye caiu de US$ 2 bilhões para US$ 400 milhões com o fim do contrato com a Adidas — e ele saiu da lista de bilionários da revista.
O rapper sempre questionou, no entanto, os números publicados na imprensa sobre sua fortuna, alegando que era muito mais rico.
A Adidas afirmou, por sua vez, que perderá US$ 251 milhões ao encerrar o contrato. E informou que vai retirar imediatamente os produtos com a marca do rapper do mercado.
A companhia havia dito anteriormente que a parceria com a marca Yeezy foi uma das mais bem-sucedidas da história da empresa.
E afirmou à BBC que havia tomado a decisão no início do mês de reavaliar a parceria com Ye depois de "repetidos esforços para resolver privadamente a situação" de ser acusada pelo rapper de "roubar" seus designs.
Ye havia acusado publicamente a Adidas em um post agora apagado do Instagram.
Outras perdas financeiras
Mas o fim do contrato com a Adidas não é a única perda que ele acumula: o banco JP Morgan e a varejista de roupas Gap anunciaram nos últimos meses que estavam encerrando seu relacionamento com o rapper.
O artista acusou a Gap de não honrar os termos de seu contrato, inclusive por não abrir lojas independentes para sua grife de moda Yeezy.
A Gap informou em comunicado na terça-feira que vai retirar os produtos da coleção Yeezy Gap de suas lojas e que fechou o site YeezyGap.com.
"Antissemitismo, racismo e ódio de qualquer forma são imperdoáveis e não tolerados... Estamos em parceria com organizações que combatem o ódio e a discriminação", disse a Gap em sua conta no Instagram @yeezyxgap.
A grife de luxo Balenciaga e a agência de talentos Creative Artists Agency também cortaram relacionamento com Ye no início de outubro.
Já a produtora de cinema e televisão MRC disse na segunda-feira que não exibirá seu documentário recém-concluído sobre o rapper.
"Kanye é produtor e sampler de música. Na semana passada, ele sampleou e remixou uma música clássica que está nas paradas há mais de 3 mil anos — a mentira de que os judeus são maus e conspiram para controlar o mundo para seu próprio ganho... Como líderes desta empresa (um judeu, um muçulmano e um cristão), nos sentimos no dever de dizer a todos vocês que este é um uso pernicioso e terrível de falsa lógica", escreveu a MRC.
O jogador de futebol americano Aaron Donald e a estrela do basquete Jaylen Brown também rescindiram seus contratos com a agência de marketing esportivo de Kanye West, Donda Sports, após seus comentários antissemitas.
Na segunda-feira, Brown chegou a dizer que planejava ficar com a Donda, mas voltou atrás no dia seguinte.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63410504