Sidnei Piva comprou o grupo de transporte rodoviário Itapemirim por R$ 1 em 2016, quando a empresa já atravessava um processo de recuperação judicial. Assumiu ali também as dívidas da companhia, que hoje somam ao menos R$ 2,2 bilhões.
Pouco menos de quatro anos depois, o empresário fixou seu salário em R$ 300 mil por mês - um valor dentro dos parâmetros do mercado para um presidente de uma empresa grande que apresenta boa performance, mas não para uma com dívidas bilionárias na praça. Diante da polêmica gerada, decidiu abrir mão da remuneração.
Essa não foi a única polêmica da trajetória empresarial de Piva e de sua companhia aérea, a ITA, que parou de operar repentinamente na última sexta-feira, causando caos nos aeroportos e deixando 45 mil passageiros sem atendimento até o dia 31 de dezembro. Envolvido em diversas disputas na Justiça, ele nega todas as acusações das quais é alvo.
Piva trava uma briga na Justiça com a família que controlava o grupo Itapemirim antes dele. Segundo Andreia Cola, neta do fundador da companhia, Camilo Cola, o acordo firmado com Piva previa que o patrimônio da família não entraria no negócio. Piva, porém, conseguiu na Justiça ficar com os bens dos Cola. "Nossa família perdeu quase tudo. Casa, apartamento e outros imóveis que não faziam parte da operação, mas faziam parte do patrimônio da empresa, já que a companhia só tinha um controlador", diz Andreia. A Itapemirim, porém, diz que Andreia não tem provas das denúncias, enquanto a disputa segue.
Desconfiança
Desde o início da operação, o mercado colocava dúvidas sobre a viabilidade da ITA, que chegava a um mercado disputado num momento especialmente difícil, além de ser derivada de um grupo em recuperação judicial.
Nas últimas semanas, quando já havia uma série de reclamações de fornecedores e trabalhadores da Itapemirim por atraso em pagamentos, ganhou destaque a notícia, publicada inicialmente pelo site Congresso em Foco, de que Piva abriu uma empresa de serviços financeiros em Londres no valor de 780 milhões de libras (R$ 5,9 bilhões). Piva afirma se tratar de uma companhia para facilitar o arrendamento de aeronaves e com a qual investiu em títulos da dívida brasileira.
"Não tem nada ilegal. O que existe é o valor presente de R$ 70 mil (em dívida) projetados para daqui a 100 anos. É mentira uma hipótese que você (eu) tem R$ 6 bilhões. Seria o terceiro homem mais rico do Brasil se eu tivesse isso." A fortuna de cada um dos dez mais ricos do País, porém, ultrapassa US$ 30 bilhões (R$ 170 bilhões).
Ainda que não esteja na lista dos brasileiros mais ricos, Piva tem hábitos de consumo refinados. Documentos obtidos pelo Estadão em um processo que corre sob sigilo na Justiça de São Paulo mostram que, em 2020, em um shopping de Dubai, gastou R$ 29 mil no cartão de crédito. Em outra viagem - a Paris - foram R$ 23 mil na Louis Vuitton. Entre fevereiro e março, gastou R$ 40 mil em um resort no Rio. Questionada sobre os gastos, a Itapemirim afirmou que eles foram pagos pela pessoa física de Piva, sem prejuízo à companhia.
Disputa judicial entre Piva e os Cola:
Ex-sócios
Ao comprar a Itapemirim, quando o negócio já estava em recuperação judicial, Sidnei Piva se enredou em uma briga com a família Cola, a antiga dona do negócio.
Bens pessoais
A família Cola afirma que o contrato previa que seus bens pessoais não entrariam no acordo, mas diz que não foi o que ocorreu. "Perdemos quase tudo", contou Andreia Cola, neta do fundador da viação, ao Estadão.