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Economia

Reajuste da Petrobras impacta inflação, caminhoneiros e não elimina defasagem internacional

Após anúncio do aumento no preço do óleo diesel, as ações da companhia se valorizaram; medida pode 'contaminar' a economia, já sob pressão do aumento dos preços

31 jan 2025 - 21h47
(atualizado em 1/2/2025 às 09h47)

Depois de um ano e um mês sem alteração, o preço do diesel produzido pela Petrobras será elevado em 6,3% a partir deste sábado, 1º, nas refinarias da empresa, em paralelo à alta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelos Estados, trazendo mais uma dor de cabeça para o governo. Não apenas pelo estrago que pode fazer na inflação, mas por mexer com uma categoria que já se mostrava insatisfeita com as condições de trabalho: os caminhoneiros.

O aumento acontece em um momento em que tanto petróleo como o dólar, fatores determinantes para o reajuste, estão em baixa. Isso, na prática, permitiria à Petrobras postergar qualquer movimento de preços. A opção pelo reajuste valorizou as ações da companhia, que chegaram a operar com valorização próxima aos 2%. As ações ordinárias (PETR3) avançaram 0,68%; as preferenciais (PETR4), 0,80%.

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Para o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, "o aumento do preço do diesel pela Petrobras é um movimento positivo para as ações da empresa, pois diminui eventuais pressões no seu fluxo de caixa decorrentes da manutenção de uma defasagem de preços por um período prolongado".

Já o BTG Pactual afirmou que a governança da empresa ainda não é perfeita, mas que também não permitiu que os preços ficassem desalinhados com o mercado internacional por muito tempo. Segundo o banco, a defasagem em relação aos preços externos da estatal vai cair para 3%, dos 10% que o BTG projetava até o reajuste.

Aumento deve ser discutido pelos caminhoneiros em assembleia no próximo dia 8, segundo líder da categoria
Aumento deve ser discutido pelos caminhoneiros em assembleia no próximo dia 8, segundo líder da categoria
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

O Itaú BBA também citou o movimento como "positivo". "A decisão de reajustar o preço do diesel após a redução do preço do petróleo e do câmbio, e pouco antes do aumento do ICMS a partir de amanhã (sábado, 1º), demonstra a autonomia da empresa na execução de sua estratégia comercial", disse a analista Monique Greco.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a medida é correta, mas o contexto do movimento envia sinal ruim a agentes do mercado mais atentos.

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"No fundo, no fundo, da forma como aconteceu, evidencia que voltamos a ter controle de preços (de combustíveis) no País", analisa Pires.

Ele faz referência ao fato de o reajuste ter vindo dias após uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, em que o assunto dos combustíveis teria sido abordado.

Pires observa ainda que, mesmo com o reajuste, o diesel Petrobras ainda vai ficar R$ 0,09 abaixo do preço de referência de importação, e que o reajuste tardio gera distorções ao longo da cadeia, como aumentos desmedidos pelo varejista a fim de se proteger de um novo congelamento futuro.

Inflação

Mas, se o reajuste agrada ao mercado, a preocupação com a inflação também sobe de patamar. De acordo com o economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas, André Braz, apesar de o impacto ser pequeno na inflação oficial, o IPCA, de apenas 0,01 ponto porcentual (p.p.), a alta do preço do combustível vai contaminar toda a economia.

"Máquinas no campo, transporte público poderá ter um aumento maior em função disso, além dos fretes e geração de energia, que também é afetada por causa das termelétricas", disse Braz ao Estadão/Broadcast.

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Segundo ele, o reajuste de R$ 0,22 por litro de diesel nas refinarias da Petrobras deve levar a uma alta de cerca de 6% nos preços dos postos de abastecimento. O combustível tem impacto direto de 0,23% nos orçamentos das famílias, mas será percebido em outros segmentos, explica Braz, que considera difícil calcular no momento qual seria esse impacto.

Chorão

Também para os caminhoneiros a alta do diesel é uma dor de cabeça a mais para a categoria, que terá de enfrentar um duplo reajuste, já que o ICMS terá aumento de R$ 0,06 a partir de deste sábado, 1º, nos postos de abastecimento.

Ao Estadão/Broadcast, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o "Chorão", disse que esperava que a Petrobras recuasse da decisão, já que tanto o petróleo como o dólar estão em queda. Segundo ele, a pauta será discutida no próximo dia 8 pela categoria, em reunião que já estava programada, no Porto de Santos.

"Piora a vida de todo mundo, não só dos transportadores de carga, mas dos motoristas de aplicativos, de transporte escolar, da população que trabalha e produz. A gente fica muito triste e preocupado com essa situação", avaliou.

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Segundo Landim, o movimento da Petrobras reforça ainda mais o encontro dos caminhoneiros para fechar uma pauta de reivindicações da categoria ao governo.

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