Reconstruir a Europa após a pandemia de coronavírus será semelhante ao esforço de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial e o bloco precisa reiterar seus valores centrais, apesar dos desafios das potências globais, disse o ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi.
A pandemia arriscou uma destruição do capital humano que não era vista desde a guerra, portanto a reconstrução deve se concentrar nas pessoas que precisam pagar a quantidade sem precedentes de dívida acumulada neste ano, disse Draghi em uma palestra em Rimini, Itália.
Além disso, mesmo enquanto a Europa se transforma, ela deve se comprometer novamente com alguns de seus princípios centrais, incluindo o multilateralismo e o estado de direito global, mesmo que potências como os Estados Unidos e a China questionem esses princípios, acrescentou Draghi.
"Devemos nos inspirar naqueles que estiveram envolvidos na reconstrução do mundo, Europa e Itália após a Segunda Guerra Mundial", disse Draghi, que raramente se pronuncia desde que deixou o BCE no ano passado.
"A dívida criada pela pandemia não tem precedentes e terá de ser paga principalmente por aqueles que são jovens hoje", disse Draghi. "É, portanto, nosso dever equipá-los com os meios para o serviço dessa dívida."
Draghi afirmou que as taxas baixas de juros não tornam a dívida automaticamente sustentável e que os fundos devem ser usados para fins produtivos, incluindo investimento em capital humano, infraestrutura produtiva e pesquisa.
Ele disse que os gastos também devem refletir as mudanças de preferências da sociedade, incluindo em relação à proteção ambiental, melhores cuidados de saúde e digitalização, uma vez que o trabalho remoto deve ganhar destaque.
"Porém, há um setor que é crítico para o crescimento e, portanto, para todas as transformações que acabo de listar, e onde uma visão de longo prazo deve se casar com uma ação imediata: a educação e, de modo mais geral, o investimento nos jovens", afirmou.