A brasileira Global Eggs, que pertence ao empresário Ricardo Faria, sócio da Granja Faria, comprou a norte-americana Hillandale Farms por US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões). Com isso, a empresa, que já é dona da espanhola Hevo, se torna a segunda maior produtora de ovos do mundo, atrás apenas da Cal-Maine Foods, dos EUA.
Somados, o faturamento das duas empresas no ano passado chegou a US$ 2 bilhões e a geração de caixa foi superior a US$ 500 milhões, com um plantel de 41 milhão de aves. Com a crise dos ovos causada pela gripe aviária, no entanto, o valor este ano tende a ser bem maior este ano.
Além de Faria, o fundo de private equity (que compra participações em empresas) Economia Real II do BTG Pactual também se tornou sócio do negócio, com participação de 11% da Global Eggs. O banco assessorou o comprador ao lado do Rabobank e o Houlihan Lockey assessorou a vendedora família Bethel.
Por trás da estratégia de criação da marca global está a mudança no consumo de ovos em todo mundo, segundo fontes. Antes com o amplo consumo mais restrito à baixa renda, o insumo tornou-se "mainstream" em diferentes classes sociais, com o ovo entrando de vez no café da manhã de muitas famílias, que deixaram de lado pães e leite. Recentemente também ganhou nichos, como os ovos orgânicos, com selênio, gourmet, de galinhas criadas soltas, sem gaiola e assim por diante.
A estratégia da Global Eggs será levar essa especialização para os diferentes mercados nos quais atua, com marcas específicas para cada um deles. Por outro lado, ao construir uma empresa global, a empresa também tentará compartilhar expertises entre os diferentes mercados.
Da Europa, poderá ser incorporada o conhecimento para o lançamento de produtos mais sofisticados e em embalagens menores. Do Brasil, o nível de segurança alimentar e a eficiência na produtividade. Já dos EUA, a ideia é aprender e espalhar o conhecimento em automação, engenharia de produção e distribuição, sempre de acordo com fontes.
Apesar de a Global Eggs ter feito um pedido de IPO nos EUA para avaliar uma possível oferta de ações, pessoas próximas ao negócio negam que esse seja o principal objetivo da companhia - que é ser a "melhor empresa do mundo".
A injeção de capital, neste momento, por exemplo, foi feita de maneira privada, sem necessidade de fazer uma oferta pública. Um eventual novo negócio poderia se dar de maneira semelhante. Essa discussão se dará quando necessário, dizem as fontes. Atualmente, a Global Eggs não tem necessidade de recursos, com endividamento inferior a uma vez a geração de caixa.
'Pai' americano
As negociações entre Faria e a família Bethel aconteciam havia cerca de um ano. Com 89 anos de idade, Orland Bethel preferiu dividir dinheiro entre seus herdeiros do que o legado, e partiu em busca de um comprador. Segundo pessoas próximas à negociação, apesar de ter havido outras ofertas, houve uma identificação recíproca entre Bethel e Faria. O empreendedor norte-americano se veria mais jovem no brasileiro, que teria dito ter encontrado um "pai" nos EUA. A ideia é que Bethel continue próximo à empresa.
A gripe aviária, que encareceu o produto nos EUA, teria tido impacto neutro na negociação, segundo fontes. Isso porque, se por um lado aumenta o valor dos ovos, de outro traz uma ameaça ao plantel. Para pessoas próximas ao negócio, o objetivo é olhar longo prazo.
Como esse mercado não é voltado à exportações e sim, bastante dependente da produção local, as consolidações tendem a continuar acontecendo, num momento já bastante aquecido. A Global Eggs pagou 120 milhões de euros pela Hevo, segunda maior produtora da Espanha, em novembro. Em janeiro, a JBS adquiriu a Mantiqueira por R$ 1,9 bilhão, o que marcou a entrada da líder global de carnes no setor.