A partir do mês que vem, os investidores que têm aportes em alguns títulos de renda fixa poderão notar uma maior volatilidade em sua carteira. Isso acontece porque, a partir de 2 de janeiro de 2023, as corretoras terão de adotar a marcação a mercado para os seguintes ativos: debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).
"Com a mudança, a carteira de renda fixa vai apresentar mais oscilação do que os clientes estão acostumados", explicou Tiago Feitosa, consultor de investimentos e professor na T2 Educação.
Mas não é preciso se preocupar. Entenda abaixo o que é a marcação a mercado e o que vai mudar.
O que é a marcação a mercado nos investimentos?
Tiago Feitosa dá um exemplo para explicar como funciona a marcação a mercado: “Assuma que hoje você comprou um título pré fixado que esteja pagando 10% ao ano. Preço de compra: R$ 1.000,00. Nesse exemplo temos que, após 1 ano, seu investimento estará em R$ 1.100,00. Acontece que essa metodologia não mostra o verdadeiro valor do título”, disse Feitosa.
Isso porque, ao vender antes do vencimento, o investidor está sujeito ao preço de mercado. Feitosa acrescenta ao exemplo: “Agora, assuma que a taxa de juros de mercado subiu. Assim, os novos títulos do mesmo emissor estão pagando 15% ao ano. Você tem um título que paga 10% ao ano. O mercado está oferecendo o mesmo título pagando 15%. Nesse caso, como você pode imaginar, seu título não é tão atrativo, logo, seu título desvaloriza. O contrário também é verdadeiro, se a taxa de juros cai, o seu papel de valoriza”, detalhou Feitosa.
Atualmente, a variação desses títulos nas corretoras segue o que é chamado “marcado na curva”. Veja a diferença, de acordo com Tiago Feitosa:
- • Marcado na curva: esse é o preço de referência do título de acordo com a taxa que você contratou.
- • Marcado a mercado: esse é o preço que você receberia por seu título se o vendesse hoje.
Então, a partir do ano que vem, as corretoras vão apresentar aos clientes a variação ao mercado dos papéis mencionados. Será opcional seguir apresentando o marcado na curva. Feitosa acrescenta que essa marcação será feita ao menos uma vez por mês.
Mudança é positiva aos investidores
Para o responsável por vendas e negociações de renda fixa da XP, Thiago Manso, a alteração é positiva: “Os investidores que forem impactados pela marcação a mercado passarão a ver volatilidade nos seus extratos de posição, e naturalmente eles vão buscar por informações para entender. De outro lado, você terá intermediários distribuidores preocupados em produzir conteúdo e transparência de qualidade para atender esses investidores. Esse cenário configura mais informação ao investidor”, comentou.
De acordo com Manso, a corretora já está preparada para a mudança que será implementada em janeiro.
Outros ativos financeiros populares já são marcados a mercado, como ações, fundos imobiliários, títulos públicos do Tesouro Direto, cotas de fundos abertos como fundos multimercados e fundos de renda fixa.
“A experiência com a marcação a mercado, com a volatilidade no extrato de posição, de acordo com as condições de mercado, não é uma completa novidade ao investidor”, ressaltou Manso.
A adaptação ajudará o investidor a perceber oportunidades de mercado, de acordo com a vice-presidente do Fórum de Distribuição da Anbima, Luciane Effting: “Com a novidade, os investidores terão mais transparência em relação aos valores dos títulos de renda fixa que estão na sua carteira. A ideia é que, ao perceberem a oscilação no preço desses ativos, eles possam identificar eventuais oportunidades de compra ou venda antes do vencimento do papel e se conscientizem sobre a importância de saber mais sobre o emissor”.