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Risco fiscal elevou "pass-through" do câmbio, diz Kanczuk

9 abr 2021 - 12h48
(atualizado às 13h51)

O impacto do risco fiscal no Brasil sobre a taxa de câmbio elevou o repasse da desvalorização do real à inflação desde março de 2020, disse o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, citando que a moeda brasileira sofre adicionalmente com o movimento de "reflação" no mundo, que pode tornar o cenário especialmente desafiador para o Brasil.

Sede do BC em Brasília. 29 de outubro de 2019. REUTERS/Adriano Machado
Sede do BC em Brasília. 29 de outubro de 2019. REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Pelo número "típico", o chamado "pass-through" indicaria aumento de 65 pontos-base em um ano na inflação em decorrência de uma depreciação de 10% da taxa de câmbio. Mas o aumento do risco fiscal desde março de 2020 aumentou o repasse por esse canal e aumentou a inflação em 400 pontos-base.

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"Essa é a surpresa que tivemos em termos de choque no Brasil. É enorme", disse.

O real desvalorizou 19,7% ante o dólar desde o fim de fevereiro de 2020. Desde o começo do ano passado, o declínio é de 28%.

O diretor repetiu falas de outros integrantes do BC e disse que a inflação deve, contudo, ser temporária. Também por esse entendimento, ele rechaçou avaliações de que a autarquia teria alterado o modo de intervenção no mercado de câmbio com objetivo de amenizar a pressão inflacionária.

"Não há nenhuma chance de mudarmos o jeito como pensamos sobre (atuação no câmbio)", disse Kanczuk. "Se as pessoas pensarem que vamos atuar no câmbio pensando em inflação, em controlar a inflação que não seja via taxa de juros, vemos isso como um grande erro", completou.

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Na primeira metade de março, o mercado se mostrou surpreso com alguns leilões de câmbio realizados pelo Banco Central, pelo volume, frequência e, sobretudo, "timing" das operações --já que o BC chegou a vender dólares com a moeda já em queda.

Em evento virtual promovido pelo Goldman Sachs, Kanczuk reconheceu, contudo, que a alta das commodities e a depreciação do real são as maiores fontes de elevação sobre a inflação.

Nesse ambiente, ele destacou que o chamado "reflation trade", com seu consequente impacto de alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, se tornou uma questão "relevante" para a política monetária brasileira.

O "reflation trade" --quando investidores adotam estratégias voltadas a ativos que tendem a se valorizar em tempos de maior inflação vinda após recuperação de crises econômicas-- tem sido o principal tema dos mercados internacionais desde o começo do ano, e, segundo analistas, assim deve permanecer.

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"Estamos atentos ao que está acontecendo nos rendimentos dos Treasuries de dez anos, especialmente nas inflações implícitas nos Estados Unidos", disse Kanczuk, acrescentando que o mercado se questiona sobre os desdobramentos desse movimento, mas que ninguém sabe.

"O impacto disso em termos de política monetária é relevante, e achamos que o ambiente para mercados emergentes, especialmente para Brasil, pode se tornar um pouco mais desafiador com o tempo se você for para esse cenário de inflação mais alta."

O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para investimentos-- saiu de cerca de 0,91% no fim do ano passado para quase 1,78% no término de março, uma disparada de 85 pontos-base que levou a taxa para máximas em 14 meses e chacoalhou os ativos financeiros no mundo.

O diretor aproveitou para ponderar que esse fenômeno tem afetado moedas emergentes de forma geral e ajuda a explicar por que as divisas não estão apreciando em consonância com os ganhos das matérias-primas --uma correlação clássica.

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"Acho que a melhor explicação para isso é o que tem acontecido com o 'reflation trade' no mundo, que não está causando esse impacto apenas no Brasil, mas em outros mercados emergentes. Essa é uma questão relevante."

O diretor reiterou que não há compromisso em se fazer uma normalização parcial da política monetária.

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