BRASÍLIA - Nomeado nesta quinta-feira, 6, como novo ministro do Desenvolvimento Regional, pasta responsável pelo programa Minha Casa Minha Vida, no lugar de Gustavo Canuto, Rogério Marinho viveu altos e baixos dentro do governo Bolsonaro.
Após ganhar espaço e confiança por seu papel crucial na articulação pela reforma que mudou o sistema de aposentadoria no Brasil, o então secretário especial de Previdência e Trabalho, se tornou personagem central de embates dentro do governo. Também virou "para-raios" de disputas paroquiais deflagradas num Congresso que começa a testar o terreno para a escolha de seus próximos presidentes.
Braço direito do ministro da Economia, Paulo Guedes, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, Marinho chegou a ser cotado para coordenar a articulação com o Congresso para a votação da reforma tributária, mas hoje vive um inferno astral.
As críticas generalizadas à decisão de taxar o seguro-desemprego e, agora, mais recentemente, à crise provocada pelas filas no INSS, órgão vinculado à sua secretaria, alimentaram o desconforto.
Por trás do desgaste está a disputa de lideranças partidárias pela vaga de Rodrigo Maia no comando da Câmara dos Deputados, a partir de 2021, e as eleições municipais deste ano. Um quadro que pode atrapalhar o andamento das reformas, principalmente, a administrativa e a tributária. "A janela para aprovação é pequena. No máximo até junho", reconhece um auxiliar de Guedes.
Batizada de RH do serviço público, a reforma administrativa tem o apoio de Maia, mas enfrenta a pressão das grandes corporações dos servidores públicos, que podem ganhar força às vésperas da campanha eleitoral nos municípios. Já PECs de reformas fiscais estão mais encaminhadas e com chances de serem aprovadas, porém com alcance mais enxuto, avaliam assessores econômicos.
Deputado federal por 16 anos, período em que relatou a mudança mais profunda na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Marinho migrou de poder e, como secretário especial de Previdência e Trabalho, tentou levar adiante sua pauta trabalhista sob a bandeira de geração de empregos. Acabou atropelando colegas dentro da própria equipe econômica e se indispondo com congressistas, perdendo parte do bom trânsito que lhe era garantido graças à experiência com o Parlamento. Procurado, Marinho não se pronunciou.
Até a promulgação da Previdência, o secretário atuou como um habilidoso negociador durante a tramitação da primeira - e também espinhosa - reforma da administração Bolsonaro. Seu papel de articulador foi tão bem sucedido que transbordou para outras áreas, à medida que a equipe econômica encontrava dificuldades no diálogo com os deputados e traçava planos para outras reformas e também era formada por muitos neófitos no trato político. Não à toa, virou alvo de brincadeiras de auxiliares, que o chamavam de "assessor de tudo".
Programa Verde Amarelo
A virada para o secretário se deu quando, em novembro de 2019, apresentou o Programa Verde Amarelo, como foi batizado o conjunto de medidas de estímulo ao emprego. Passou por cima de outras áreas do Ministério da Economia que alertavam contra a medida, pelo custo elevado e o risco de baixa efetividade.
Nos dias seguintes, depois do envio da MP do programa ao Congresso, em reação, lideranças da Câmara ficaram dias sem atender os contatos do secretário. "Não sabíamos que a MP viria desse tamanho, agora, que se vire", contou um deles.
O mal-estar causado foi tão grande que outros secretários mudaram o tratamento em relação a Marinho, garantem fontes. Colegas de dentro do Ministério da Economia também passaram a tratar o secretário especial de Previdência e Trabalho de forma protocolar
O desgaste aumentou depois que a Instituição Fiscal Independente (IFI) publicou estudo com críticas à MP Verde Amarelo. O golpe maior veio dias depois, quando foi revelado que estudo da Secretaria de Política Econômica (SPE) apontava um custo bem maior.
Técnicos contam que Guedes deixou o seu auxiliar sozinho na defesa da taxação do seguro desemprego para bancar a desoneração da folha das empresas, uma promessa de campanha. Um quadro semelhante que ocorreu com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na defesa da fixação do limite de 8% ao ano de juros para o cheque especial.
Programa em risco
Isolado, Marinho virou alvo de corporações e também de parlamentares que, por circunstâncias políticas, passaram a atacar seu programa de estímulo ao emprego. A disputa acirrada pela sucessão na presidência do Senado e, sobretudo, da Câmara tem levado ao que é classificado nos bastidores do governo como "necessidade de aceno político". Mesmo congressistas ligados a setores empresariais acabam se posicionando contra a medida, menos por convicção e mais para angariar votos rumo às vagas hoje ocupadas por Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia.
Marinho já chegou a se descrever para interlocutores como o que não fala, mas realiza. Porém, costuma dizer também que o sucesso transforma uma pessoa em alvo.
Se antes era o "assessor de tudo", passou a se coilocar distante de qualquer articulação pelas reformas tributária ou administrativa. Seu objetivo era concluir o que começou na agenda trabalhista e avaliava ter uma tarefa a cumprir. Uma futura retomada da vida política não está completamente descartada, mas qualquer cálculo nessa direção só será feito após as eleições municipais de 2020.
Repercussão
Após a publicação do perfil pelo Estado no dia 19 de janeiro, o presidente da Câmara saiu em defesa do secretário. "Tem colaborado de forma decisiva na aprovação de matérias fundamentais para o futuro do nosso Brasil", postou Maia no Twitter, na noite de domingo.
O secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Uebel, afirmou, também no Twitter, que Marinho é "parte fundamental da equipe econômica e tem tido papel decisivo no avanço das reformas estruturais".