Olhar a data de validade dos alimentos no supermercado é imprescindível, mas de nada adianta se o produto não tiver tido armazenagem adequada. Ainda mais dentro da embalagem, onde conferências visuais e olfativas nem sempre são possíveis. Há anos pesquisadores tentam desenvolver um rótulo que mostre a qualidade da comida, e o mais recente avanço dessa busca é uma tarja mais sensível que dispara um alerta em smartphones.
A base do funcionamento do mecanismo é uma tecnologia chamada Near Field Communication (NFC) – na prática, um pequeno dispositivo sem fio e sem bateria que pode enviar automaticamente informações para outro aparelho quando os dois estiverem próximos. No caso, o outro aparelho é qualquer smartphone com esse recurso. No NFC, a comunicação entre os objetos é automática, independente de ativação manual.
Os engenheiros juntaram a um rótulo de NFC um sensor de gás com base em polímeros que detecta a concentração de gases produzidos no processo de putrefação. “Moléculas de amina [classe de compostos orgânicos derivados da amônia] são principalmente formadas por meio da descarboxilação de aminoácidos em interação com micróbios, e elas são consideradas um bom indicador da putrefação de alimentos”, disse ao Terra o professor Lijia Pan, da Universidade Nanjing, na China, um dos responsáveis pela pesquisa.
De acordo com o professor, estudos anteriores mostraram que a concentração de amina entre 5 partes por milhão (ppm) e 8 ppm são sinal de decomposição em estágios inicial. De 17 ppm a 186 ppm, trata-se de estágio avançado.
Para deixar a explicação mais palpável, o Terra pediu para o pesquisador exemplificar quanto tempo a carne de porco demora a estragar. Se for armazenada a 5°C, entra em estágio inicial de decomposição em mais ou menos cinco dias. A 30° demora 20 horas ou menos.
Quando a concentração de amina atinge as 5 ppm, o rótulo – que deve estar dentro da embalagem – é ativado. Nessa situação, uma mensagem é mostrada no smartphone que for aproximado. A não-exibição de alerta ao aproximar o aparelho significa que a concentração de amina é insuficiente para disparar o sistema. Ou seja, a comida está boa.
Além da Universidade de Nanjing, a Universidade de Austin, nos Estados Unidos, também teve participação no desenvolvimento desta tecnologia. Os resultados do trabalho foram publicados nesta quarta (27) pela revista científica NanoLetters, da American Chemical Society.
“A ideia de usar tecnologia NFC para analisar comida foi proposta há anos. Nos trabalhos anteriores, porém, a análise ainda requeria confiança em medições de alguns parâmetros nos rótulos. Na verdade, não havia detecção sem fio apenas com telefones celulares”, diz Pan. “No nosso trabalho, o polímero condutor sintetizado é muito sensível e permite a detecção sem fio de fato”, afirma.
Os métodos mais comuns atualmente para conferir se um alimento apodreceu demandam aparelhagem cara e pessoas treinadas, explicou o pesquisador. A nova tag desenvolvida, porém, tem custo de mais ou menos 20 centavos de dólar, aproximadamente R$ 0,77 na cotação de 28 de junho. Produzida em escala, deve ficar mais barata. Ainda é reutilizável, e dura de 1 a 2 meses.
“Esperamos que o dispositivo esteja pronto para o mercado em dois ou três anos, se tudo correr bem”, disse Guihua Yu, da Universidade de Austin, também parte da equipe. Por enquanto, não há empresa interessada em produzir.