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RS: mulheres relatam condições precárias de trabalho na Copa

29 jul 2014 - 14h10
(atualizado às 14h11)
Beira-Rio recebeu cinco jogos da Copa do Mundo
Beira-Rio recebeu cinco jogos da Copa do Mundo
Foto: Paul Gilham / Getty Images

A realização de uma Copa no Brasil trouxe junto a expectativa de oportunidades geradas pelos investimentos e vinda de turistas. Entretanto, apesar do clima de festa e do luxo dos camarotes VIP nos estádio  - padrão Fifa -, quem trabalhou no Beira-Rio sentiu na pele como é ficar por horas em pé, sem água e com salário reduzido. As denúncias geraram a abertura de um inquérito que está sendo investigado pelo Ministério Público do Trabalho da 4ª Região.

As estimativas do governo do Rio Grande do Sul eram de que 12 mil empregos seriam gerados com a Copa. Tendo em vista a oportunidade de ganhar quase R$ 2 mil para trabalhar durante o evento, um grupo de mulheres aproveitou a oportunidade de trabalhar como hostess (recepcionistas) nos camarotes VIP do Beira-Rio.

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Mas os problemas começaram logo após a seleção feita pela agência catarinense Vitrine, subcontratada pela agência Benza, do Rio de Janeiro. “No briefing me passaram que a diária seria de R$ 400 para quem tivesse inglês de nível avançado, R$ 300 para nível intermediário e R$ 200 para o básico, além da ajuda de custo de R$ 15, para nove horas de trabalho, com uma hora de intervalo”, afirma Maria (nome fictício), uma das 35 jovens que trabalhou no evento.

“Quando já tinham fechado o grupo de 35 pessoas que trabalharia, nos mandaram um novo e-mail com as instruções, mas aí o valor do cachê tinha caído em R$ 100. Os problemas já começaram por ai, mas estava difícil de conseguir outro trabalho na Copa“, diz, completando ainda que a ajuda de custo prometida teve o valor reduzido para R$ 12 sem explicação alguma.

Junto a isso o contrato de trabalho foi assinado, sem que elas recebessem uma cópia do documento. Quem pode, fez uma foto para assegurar sua cópia. Na véspera do início do trabalho foi feito um treinamento não remunerado para as contratadas, diferente do que acontece com esse tipo de trabalho, segundo relataram as contratadas. “Estou acostumada a trabalhar com eventos, e esses treinamentos são remunerados, as vezes pagam metade do cachê”, afirma Maria.

Já Rosa (nome fictício) reclama que apesar da empresa dar o uniforme que seria usado, exigiu um tipo específico de sapatos e de meia calça, cujo custo teve que ser pago por elas “Tivemos que comprar meia calça e os sapatos pretos  porque era uma exigência deles, tinha que ser de um modelo específico”, conta, afirmando que teve que gastar cerca de R$ 130 para atender a exigência.

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Seis horas em pé e sem água

O trabalho parecia bom, receber os torcedores e convidados nos camarotes Vips do Beira-Rio, indicando os lugares para os torcedores, mas na prática a situação era bem menos tranquila. Foram horas em pé, sem intervalo e sem direito a água. “No primeiro dia cheguei as 9h30 e só fui beber uma água as 16h30, foi o único momento em eu recebi algo para beber. Tinham duas pessoas responsáveis pelo nosso trabalho, uma coordenadora e uma supervisora, eu pedia água para elas, mas diziam que iam ver e sumiam. Não podíamos sair da posição em que estávamos, tínhamos que esperar alguém para nos substituir”, diz Rosa.

O intervalo que nem sempre era cumprido também foi reduzido, passou a ser de 45 minutos. “Nosso lanche era um saco de batata frita, um sanduiche, um suco e uma fruta, era a única coisa que tínhamos para beber. Para conseguir água a gente tinha que se virar, porque não tinha, e a gente tinha que contar com a boa vontade da cozinha para nos liberar“, conta Maria.

Elas reclamam que eram muito cobradas e que essas cobranças não valiam para todas as pessoas que trabalhavam ali. Foram obrigadas as assinar um termo de responsabilidade no qual se comprometiam a não tirar ou postar fotos durante o trabalho, mas essa regra não era seguida pelas supervisoras.

“A falta de exemplo era algo latente, eles confiscaram nossos celulares, porque assinamos um termo no qual nos comprometíamos a não tirar nem postar fotos até o último dia de jogo, mas vi minha supervisora tirando fotos livremente. Nos éramos muito cobradas por várias coisas, mas quando indagávamos sobre alguma coisa, nunca recebíamos resposta alguma”., conta Maria.

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Outro problema foi o pagamento, programado para ser realizado no dia seguinte ao final do evento, 14 de julho. Sem aviso prévio o valor foi dividido em duas partes, sendo que a primeira parcela foi depositada no dia 16 e o restante programado para o dia 18.

”No contrato constava que receberíamos um dia após o evento, que seria no dia 14, mas foi paga a metade agora no dia 16, e a outra metade será paga no dia 18. Não nos avisaram nada disso, nós mesmas que tivemos que descobrir isso depois de mandar e-mails para a coordenadora, que foi fazer contato com a empresa do Rio, porque senão não iam nos avisar de nada (...)  Não trabalharia de novo com essa agência”, reclama Maria.

Após contato feito pelo Terra o Ministério Público do Trabalho da 4ª Região informou que abriu um inquérito para investigar as denúncias. Foi tentado ainda contato com a Vitrine por telefone e por e-mail, mas ninguém foi encontrado para comentar o caso.

Fonte: Terra
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