Apontada como excessiva pelo presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, 22, a remuneração - quando se soma salários fixos com bônus e outros benefícios - do comando da Petrobrás pode chamar atenção quando comparada com os demais cargos do serviço público e, principalmente, com os ganhos médios do brasileiro, mas parece comum ou até abaixo da média no mundo corporativo.
O salário médio dos presidentes de companhias abertas que compõem o Ibovespa - ou seja, as principais empresas do mercado - foi de R$ 11,3 milhões ao ano em 2019. Principal executivo da Petrobrás, Roberto Castello Branco ganhou R$ 2,7 milhões naquele ano, um quarto do valor médio. Em bases mensais, a remuneração média dá um salário de R$ 940 mil por mês, enquanto o presidente da Petrobrás ganhou "apenas" R$ 226 mil ao mês.
No fim de 2019, a remuneração média do trabalhador brasileiro, entre formais e informais, foi de R$ 2,3 mil por mês, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados sobre executivos de alto escalão são de levantamento do especialista em governança corporativa Renato Chaves, ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil (BB). Os valores foram levantados em outubro, nas informações que as empresas abertas são obrigadas a passar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado. As empresas precisam informar a remuneração anual total da diretoria, discriminando o valor mais baixo e o mais alto - o mais alto, quase sempre, é o do presidente.
O levantamento de Chaves incluiu 71 companhias. Quando ordenadas conforme a maior remuneração paga ao presidente, a Petrobrás fica na posição 58. Entre as dez empresas que pagam melhor seus presidentes, se destacam os bancos - Itaú, Bradesco e Santander estão entre as dez.
Para Marcelo Apovian, sócio da consultoria global especializada em recrutamento de executivos de alto escalão Signium, não parece que os valores de remuneração do presidente da Petrobrás estejam fora da realidade do setor de petróleo e gás, na média global. "A remuneração do primeiro nível e segundo nível está adequada com valor de mercado", afirmou Apovian.
A título de comparação, o presidente da BP recebe o equivalente a R$ 11,8 milhões (1,5 milhão de libras) por ano, enquanto o presidente da Shell teve remuneração anual de R$ 64,7 milhões (9,9 milhões de euros) em 2019.
Remuneração excessiva
Segundo o especialista, a remuneração dos executivos de alto escalão varia conforme o setor. Tradicionalmente, setores cujas margens de lucro são mais apertadas pagam menos. É o caso do varejo de supermercados, exemplificou Apovian. O setor de petróleo e gás, globalmente falando, paga bem a seus executivos de alto escalão, porque é um "negócio que precisa ter pessoas boas e a margem (de lucro) permite pagar bem", disse o consultor.
Chaves, que levantou os dados sobre remuneração, avalia que o montante pago pela Petrobrás está dentro do normal para uma companhia estatal com ações em Bolsa. Por outro lado, o especialista em governança corporativa vê excessos nos salários médios pagos aos altos executivos do País.
"A remuneração de presidentes de companhias no Brasil é excessiva, quase sempre descolada de seus resultados e extremamente desigual em relação às dos demais funcionários", diz Chaves.
O levantamento de Chaves comparou a remuneração do presidente de cada companhia com o salário médio pago aos funcionários como um todo. No caso extremo, o presidente ganha 600 vezes mais do que a média da empresa. No quesito desigualdade, a petroleira está entre aquelas com menores diferenças, com oito vezes. Isso porque a remuneração média de todos os empregados da petroleira foi de R$ 332 mil por ano em 2019, conforme o levantamento de Chaves. São R$ 27,6 mil por mês.
Conforme dados sobre 2019 de um relatório do Ministério da Economia, as estatais brasileiras pagam salários médios de até R$ 31,3 mil, sem contar as diretorias executivas, bem acima do salário médio de R$ 2,3 mil por mês.
Sócio da empresa de recrutamento de executivos Palafita Consultoria, Rafael Meneses chamou atenção para a crítica feita por Bolsonaro à adoção do trabalho remoto por Castello Branco desde o início da pandemia da covid-19.
"A declaração preocupa porque mostra um certo desalinhamento com o que vem acontecendo no mercado de trabalho. As pessoas podem produzir efetivamente o que se espera delas no home office. Não acredito que seja diferente com o presidente da Petrobrás", disse o consultor.