A secretária interina do Trabalho dos Estados Unidos, Julie Su, viajou para Seattle nesta segunda-feira para tentar amenizar a greve dos trabalhadores da Boeing, em meio a anúncio de milhares de demissões na empresa e reação alarmada de uma grande companhia aérea sobre a crescente turbulência na fabricante de aviões.
A primeira intervenção pessoal de Su ocorre dias depois que a Boeing -- que já enfrenta a quinta semana de greve -- revelou planos para cortar 17 mil trabalhadores e assumir 5 bilhões de dólares em encargos.
"A secretária interina Su está se reunindo com ambas as partes hoje para avaliar a situação e incentivá-las a avançarem no processo de negociação", disse um porta-voz.
Embora Su tenha conversado anteriormente com a Boeing e o sindicato, é a primeira vez que ela se reúne pessoalmente com ambas as partes em Seattle, disse o porta-voz.
Cerca de 33 mil trabalhadores da Boeing estão em greve desde 13 de setembro. Os funcionários cobram aumento salarial de 40% e restauração de um plano de aposentadoria de benefício definido da qual concordaram em abrir mão em 2014.
A Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais não estava imediatamente disponível para comentar a mediação da secretária. Representantes da Boeing e um porta-voz da Casa Branca não se manifestaram.
A Boeing realizará reuniões esta semana para apresentar planos detalhados sobre as demissões, disseram fontes do setor. A empresa também espera uma queima de caixa trimestral de cerca de 1,3 bilhão de dólares, melhor do que o esperado pelo mercado, mas ainda assim será o terceiro trimestre consecutivo de consumo de caixa da empresa.
A Boeing enviará no próximo mês avisos de 60 dias a milhares de funcionários de sua divisão de aviação comercial, o que significa que esses funcionários terão de deixar a empresa em meados de janeiro, disse uma fonte familiarizada com o assunto.
Uma segunda fase de avisos, caso sejam necessárias mais demissões na empresa, será lançada em dezembro, disse a fonte.
Um porta-voz da associação que representa os engenheiros da Boeing disse que a empresa informou ao sindicato na segunda-feira que os avisos de 60 dias para seus membros serão emitidos em 15 de novembro.
ALARME DA INDÚSTRIA
O atraso de um ano nas entregas do avião 777X, previsto agora para 2026, era amplamente esperado no setor e eleva para seis anos o atraso na entrega do sucessor do minijumbo 777, em meio a atrasos na certificação e nos testes.
O presidente da Emirates Airline, Tim Clark, cujo pedido inicial de 150 jatos do modelo ajudou a lançar o maior jato bimotor do mundo há mais de uma década, sugeriu repercussões comerciais.
"Teremos uma conversa séria com eles nos próximos dois meses", disse o executivo em um comunicado. "Não consigo ver como a Boeing pode fazer qualquer previsão significativa das datas de entrega."
Clark também se tornou o primeiro executivo de alto escalão do setor a manifestar publicamente os temores da indústria de aviação sobre a capacidade da Boeing de enfrentar intacta sua pior crise de todos os tempos.
"A menos que a empresa consiga levantar fundos por meio de uma emissão de títulos, vejo um rebaixamento do grau de investimento com um pedido de recuperação judicial surgindo no horizonte", disse Clark ao serviço de notícias de aviação Air Current. A Emirates é a maior usuária da família de jatos de longa distância 777.
O pacote de anúncios de sexta-feira mostrou que a Boeing tem pouco mais de 10 bilhões de dólares de caixa bruto, um nível que, segundo analistas, alivia pressão de curto prazo, embora a empresa ainda precise levantar dinheiro até o final do ano, de acordo com eles.
A maioria dos analistas espera que a Boeing consiga levantar até 15 bilhões de dólares por meio de uma emissão de ações. Mas a percepção das principais companhias aéreas em relação ao risco financeiro da Boeing continua sendo um tópico delicado, já que muitas delas têm depósitos de bilhões de dólares com a fabricante de aviões -- uma exposição que algumas já querem limitar devido aos atrasos nas entregas de aeronaves, segundo fontes do setor.
A agência de recomendação de risco S&P alertou que a Boeing corre o risco de perder a condição de empresa grau de investimento.