A alta de 50 pontos-base da taxa básica Selic, amplamente esperada pelo mercado, e o comunicado do Banco Central sobre a decisão tendem a ser fatores neutros para a curva de juros brasileira nesta quinta-feira, conforme profissionais do mercado.
A avaliação é de que, mais do que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira, que colocou a Selic em 11,25% ao ano, os desdobramentos da vitória de Donald Trump na eleição dos EUA, comentários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o pacote fiscal e a decisão do Federal Reserve sobre juros na tarde de quinta-feira tendem a fazer preço nos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
"Basicamente a mensagem é a mesma da reunião anterior, então segue o jogo. Não há por que fazer alterações em termos de cenário. O mais provável é (o Copom) subir a Selic em 50 pontos-base (em dezembro), mas existe chance de acelerar se o cenário não ajudar", avaliou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, após a divulgação do comunicado.
"Assim, não vemos grandes alterações no formato da curva nesta quinta. Pode haver ajustes de curto prazo, eventualmente os (juros) curtinhos podem cair, mas a dinâmica dos vértices vai depender mais do restante do noticiário", acrescentou.
Para Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, o tom do comunicado do Copom foi neutro, seguindo a mesma linha do documento anterior.
"Em relação à abertura dos mercados amanhã, acredito que o comunicado não vai fazer grande preço, porque já era amplamente aguardado pelo mercado", afirmou em comentário enviado a clientes.
Esta também é a avaliação de Mayara Rodrigues, analista de Renda Fixa na XP.
"Toda a estratégia de renda fixa já estava dentro deste cenário mesmo, de elevação de meio ponto percentual", afirmou em comentário distribuído após o Copom.
"Em termos de curva de juros, a gente espera que não tenha tanta volatilidade amanhã. Já estava precificado este aumento na ponta mais curta da curva, mas nos próximos dias a gente tem que monitorar o pacote de despesas que deve ser divulgado, e aí sim (ele) pode mexer na curva de juros, principalmente nos vencimentos mais longos", acrescentou.
Em entrevista à RedeTV, conforme trecho divulgado na noite desta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou adiantar as medidas fiscais a serem adotadas pelo governo, porque segundo ele o pacote ainda não está fechado.
"Estou em um processo de discussão muito, muito sério com o governo, porque conheço bem o discurso do mercado, a gana especulativa do mercado", afirmou Lula no vídeo divulgado antes mesmo do anúncio do Copom.
Já após a decisão do BC o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou comentar, afirmando que não havia tido tempo para ler o comunicado.
Nesta quarta-feira, as taxas dos DIs de longo prazo e o dólar fecharam em queda firme no Brasil, com o mercado à espera das medidas fiscais do governo.