Estudo global da International Stress Management Association (Isma) aponta que quase um a cada cinco brasileiros – 18% mais precisamente – é vítima de burnout, doença ocupacional reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O Brasil só perde para o Japão em número de casos diagnosticados.
A maioria dos afetados tem menos de 30 anos, segundo pesquisa da faculdade de medicina da USP (Universidade de São Paulo). A síndrome de burnout tem como característica o esgotamento físico, emocional e mental causado pelo estresse crônico no trabalho.
“O equilíbrio entre vida pessoal e profissional nunca foi tão comentado. O bem-estar dos colaboradores subiu na escala de prioridades das organizações, que estão atentas a como combater a síndrome de burnout. Atualmente, a manutenção do trabalho híbrido ou remoto, mesmo com o fim da pandemia, traz uma mensagem positiva em relação à preocupação com o bem-estar dos colaboradores”, diz Oliver Kamakura, sócio de consultoria em gestão de pessoas da EY para o Brasil.
“Surgiu recentemente a proposta da semana de quatro dias, que igualmente vem como resposta à tentativa de reverter esse quadro alarmante de burnout. O raciocínio é o seguinte: considerando que as pessoas estão com dificuldade para equilibrar as demandas pessoais e profissionais, daremos um dia a mais de descanso. Embora seja uma iniciativa repleta de boas intenções, ela não resolve a raiz do problema, que é organizar o fluxo de trabalho nas organizações para que ele seja o mais produtivo possível”, completa.
Reuniões desnecessárias consomem tempo
Ainda segundo o executivo, o que causa ansiedade nas pessoas, podendo evoluir para o burnout, é aquela sensação de que o tempo não está sendo suficiente para entregar tudo aquilo esperado ou exigido pelas organizações.
“É aquele pensamento sobre estarmos ficando para trás, com as demandas se acumulando, conforme os dias passam”, exemplifica Kamakura.
Os profissionais estão sobrecarregados por diversos motivos, mas o principal deles tem relação com a perda de tempo em tarefas que poderiam ser simplesmente eliminadas ou reduzidas consideravelmente.
No topo dessa lista estão as reuniões. Estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, estima que os colaboradores gastam 18 horas por semana em reuniões desnecessárias. O custo anual disso para as grandes empresas pode atingir US$ 100 milhões.
As pessoas se sentem obrigadas a participar pelo receio de ofender seu gestor, que, muitas vezes, é o organizador da reunião. No ambiente de trabalho, a ausência nas reuniões costuma ser interpretada como desinteresse ou desengajamento, prejudicando a avaliação de desempenho do colaborador.
Ajustes na dinâmica de trabalho
“Todas essas atividades comprometem o rendimento dos colaboradores, que sentem enorme dificuldade para dedicar tempo a tarefas complexas que demandam alto nível de concentração. As empresas tendem a fracionar muito o tempo dos colaboradores ao longo do dia, o que prejudica essas imersões necessárias para o trabalho criativo. Não há como desenvolver um pensamento complexo ou profundo se você está sendo interrompido o tempo inteiro com reuniões, e-mails e mensagens instantâneas, advindos de fontes diversas e sobre assuntos diferentes uns dos outros”, afirma Kamakura.
Se esse contexto não for alterado, a redução da semana para quatro dias pode resultar na piora dos números de burnout. Afinal de contas, as pessoas terão menos tempo ainda para se dedicar ao que realmente importa.
“A semana de quatro dias deveria ser a ponta de um processo investigatório mais amplo que levasse em consideração a necessidade de alterar a dinâmica de trabalho para uma lógica que priorizasse o processo criativo ou intelectual, estabelecendo critérios objetivos para as interrupções nas agendas”, finaliza o especialista da EY.
Fonte: Agência EY