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Senado aprova texto-base de 1º projeto do pacote fiscal após desidratação com apoio da oposição

Proposta prevê novos gatilhos ao arcabouço fiscal para conter despesas, mas Congresso rejeitou corte de emendas parlamentares

19 dez 2024 - 20h56
(atualizado às 23h40)
Senado aprova projeto de lei complementar do pacote fiscal após desidratação na Câmara.
Senado aprova projeto de lei complementar do pacote fiscal após desidratação na Câmara.
Foto: Pedro França/Agência Senado / Estadão

BRASÍLIA - O Senado aprovou o texto principal do projeto de lei complementar que faz parte do pacote de corte de gastos apresentado pelo governo Lula. O texto recebeu apoio até mesmo da oposição, que ainda tentou mudar a proposta, mas apoiou o texto-base, após ser desidratado na Câmara.

O projeto do pacote fiscal foi aprovado por 72 votos a 1 - apenas o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) votou contra. A oposição orientou a favor dizendo ser favorável ao corte de gastos, ainda que considerando o pacote do governo como insuficiente para a sustentabilidade das contas públicas.

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Os senadores analisam agora os destaques (sugestões de mudanças ao texto principal). Após a conclusão da votação, o texto vai à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Senado aprova projeto de lei complementar do pacote fiscal após desidratação na Câmara.
Foto: Pedro França/Agência Senado / Estadão

O projeto cria novos gatilhos para reforçar o arcabouço fiscal e permite o uso de recursos parados em fundos públicos para abater a dívida pública. Ainda na Câmara, o projeto foi desidratado impedindo o governo federal de cortar emendas parlamentares impositivas (obrigatórias) para cobrir gastos obrigatórios e cumprir o limite de despesas.

A proposta também revoga a lei que instituiu o Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT), antigo DPVAT. O Novo DPVAT foi aprovado no Congresso em maio e sancionado no mesmo mês pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), apresentou uma proposta para alterar o projeto e forçar o governo a perseguir o centro da meta fiscal (com déficit zero nas contas públicas, sem as bandas de tolerância atual), com contenção de gastos em caso de resultado negativo e de aumento da dívida pública. De acordo com a assessoria do parlamentar, a proposta cortaria R$ 120 bilhões em despesas em um ano.

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Desde o início da tramitação, o governo avaliava que o pacote passaria de forma mais fácil no Senado - os principais impasses foram enfrentados na Câmara. O pacote só andou, no entanto, após pagamento de emendas parlamentares que estavam travadas após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e mais promessas de liberações até o fim do ano.

Projeto aciona novos gatilhos ao arcabouço fiscal, mas só a partir de 2027

O projeto aprovado cria "reforços" ao arcabouço fiscal, prevendo disparo de novos gatilhos para congelamento de gastos em caso de piora das contas públicas. O ajuste, porém, só valerá a partir de 2027, no próximo mandato presidencial.

Um dos gatilhos do projeto prevê que, em caso de déficit primário a partir de 2025, será proibido a concessão, ampliação ou prorrogação de benefícios tributários. Além disso, haverá limitação de crescimento no gasto com pessoal em 0,6% ao ano acima da inflação - o piso do aumento de despesas estabelecido pelo novo arcabouço fiscal. Como o déficit será calculado em 2026, o gatilho valeria para 2027.

Outro gatilho determina que, em caso de redução nominal das despesas discricionárias (não obrigatórias, como investimentos e custeio), a partir de 2027, haverá essa restrição para benefícios tributários (tal qual ocorre em caso de déficit primário) e a mesma limitação para o crescimento de despesas com pessoal.

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A proposta aprovada também determina que a criação ou prorrogação de benefícios da seguridade social ficam limitadas às regras de crescimento do arcabouço, ou seja, com teto máximo de 2,5% ao ano.

Uma das medidas proposta pela equipe econômica, contudo, caiu ainda na Câmara: a que limitava a restituição de créditos tributários pelas empresas. A proposta enfrentava forte resistência entre vários setores da economia, além de ter integrado uma Medida Provisória (MP) editada pelo governo em junho e que foi devolvida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Superávit de fundos para pagar dívida

A proposta aprovada estabelece que, entre 2025 e 2030, o superávit financeiro de fundos públicos só poderá ser usado para amortizar a dívida. O projeto do governo previa que o uso dos recursos seria de livre aplicação, o que foi amplamente criticado por economistas, como mostrou o Estadão, uma vez que abria margem para ampliar gastos.

Na proposta do governo, eram oito fundos listados, mas o relator manteve apenas cinco: os fundos de Defesa de Direitos Difusos (FDD), Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (FUNSET), do Exército, Aeronáutico e Naval. Foram excluídos o Fundo Nacional Antidrogas (Funad), o Fundo da Marinha Mercante (FMM) e Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) com a justificativa de que seus recursos "são utilizados para importantes investimentos".

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