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Setor de carros elétricos luta para se impor na Europa

12 fev 2024 - 12h37

Cortes de subsídios elevam preços e tornam consumidores alemães ainda mais reticentes em investir na mudança para os veículos movidos a baterias. Enquanto isso, China avança no mercado europeu.Pouco antes do Natal de 2023, as dificuldades orçamentárias do governo alemão subitamente atingiram o setor do automobilismo elétriconacional. Dentro de um contexto maior de aperto de cintos, Berlim encerrou o esquema conhecido como Umweltbonus (bônus ambiental), que há sete anos concedia aos consumidores subsídios de vários milhares de euros na compra de veículos elétricos.

Consumidores desconfiam da infraestrutura de recarga e  desempenho das baterias
Consumidores desconfiam da infraestrutura de recarga e desempenho das baterias
Foto: DW / Deutsche Welle

Os tempos já vinham sendo duros para o setor: poucos meses antes, o governo dera fim aos subsídios para as empresas que compram frotas de carros, que representam cerca de dois terços do mercado automobilístico do país.

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Isso explica, de certo modo, por que os licenciamentos de carros elétricos caíram tão dramaticamente em novembro e dezembro. Segundo a European Automobile Manufacturers Association (ACEA), as vendas na Alemanha encolheram 48% em dezembro. Na União Europeia, como um todo, venderam-se 17% menos veículos elétricos. Para o setor, a grande questão é se se trata apenas de um tropeço ou se é algo mais sério.

Patrick Schaufuss, sócio da consultora global McKinsey & Company, observa que as vendas na Europa ficaram "estáveis" em 2023 devido à queda nos veículos híbridos plugin (PHEVs, que funcionan com um motor a combustão interna e outro elétrico).

"Isso foi impulsionado pela ausência ou escassez de subsídios e poucos novos modelos para essa tecnologia de transição", disse à DW.

Ele espera um quadro semelhante para 2024, mas prevê melhoras em 2025 e 2026, com a comercialização de modelos com preços mais acessíveis.

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Mike Tyndall, diretor de pesquisa de financiamento automotivo do banco HSBC, alerta que, embora o crescimento total na Europa tenha sido "bastante forte", ele também vê o potencial para uma mudança de marcha.

"Havia uma expectativa de que o crescimento ia ser mais forte, acelerar. Então, quando vimos a adoção ganhar impulso, esperamos aceleração. Em contraste, parece que o crescimento está desacelerando."

Quando o preço entra na equação

O corte de subsídios chamou a atenção para uma das questões centrais para a penetração dos elétricos nas vendas automotivas totais na Europa: os preços. Desde fins de 2023, as montadoras de diversos países europeus têm oferecido descontos maiores para esses veículos, numa tentativa de atrair compradores.

Via de regra, carros elétricos são mais caros do que modelos semelhantes movidos a gasolina. Tyndall crê que o custo está se tornando uma questão maior à medida que o mercado tenta atrair compradores tradicionais, em vez de os chamados "clientes pioneiros", mais dispostos a investir desde o início num veículo elétrico.

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"A gente tem um consumidor muito mais ligado no preço, um pouco mais reticente em fazer a transição, dados os custos dos elétricos no momento."

Além disso, os consumidores têm a impressão de que a infraestrutura de recarga e o desempenho das baterias ainda não são bons o suficiente para justificar o investimento. Na opinião de Tyndall, tais reticências vão se diluir à medida que a tecnologia e a infraestrutura evoluírem nos próximos anos.

Para as grandes montadoras europeias, há muito em jogo. Em março de 2023, a Volkswagen anunciou planos de investir 180 bilhões de euros (R$ 960 bilhões) até 2027, dos quais mais de dois terços destinados à eletrificação e digitalização. A companhia alemã apostou seu futuro na transição para a mobilidade elétrica, contando que até 2030 ela vá perfazer 80% de suas vendas na Europa e 55% nos Estados Unidos.

Segundo um porta-voz da multinacional, embora prevendo que em 2024 o ambiente de vendas será "desafiador", a Volkswagen crê que suas cifras de 2023 - quando vendeu 21% a mais em âmbito mundial - mostram que ela está "no caminho certo".

"Estamos firmemente convencidos de que o futuro será elétrico e estamos impulsionando a transição de mobilidade de modo resoluto", frisou o porta-voz.

Mike Tyndall confirma que conglomerados como a Volkswagen e a Stellantis - proprietária de marcas como Peugeot, Fiat e Opel - estão plenamente cientes da necessidade de um equilíbrio entre preços acessíveis e lucros. Ainda assim, é de se esperar um certo grau de ansiedade, devido ao comportamento do mercado nos últimos meses.

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"Eles vão estar nervosos com o potencial de isso evoluir para algo maior, em que talvez haja uma razão, além e acima das que mencionamos, para os consumidores não estarem comprando carros elétricos", explica.

Absorvendo o "choque da China"

A China é um dos mercados em que a Volkswagen está empenhada em ganhar terreno na mobilidade elétrica. Só em 2023, a empresa investiu cerca de 5 bilhões de dólares na tentativa de ultrapassar adversárias como Tesla e BYD no maior mercado automotivo do mundo.

O país asiático paira como uma ameaça sobre os mercados elétricos da Europa e dos Estados Unidos. A ascensão de marcas chinesas tem sido drástica: enquanto em dezembro as companhias europeias registraram declínio de vendas, no último trimestre de 2023 a BYD vendeu 526 mil veículos elétricos movidos exclusivamente a bateria - um crescimento recorde de 70%, posicionando-a à frente da Tesla no setor.

Embora o sucesso da BYD tenha sido sobretudo no mercado doméstico, cada vez mais ela mira a Europa e os EUA, tendo como principal trunfo seus preços mais acessíveis.

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"Os veículos europeus movidos a bateria costumam ser de 15% a 20% mais caros do que carros de combustão interna comparáveis", explica o sócio da McKinsey Schaufuss. "Na China, a diferença é de só 10%, e muitos já são mais baratos do que os modelos a combustão", destaca.

Contudo, isso não se traduz automaticamente num sucesso chinês na Europa, ressalva Tyndall.

"O mercado da China não é saudável. Há uma absoluta avalanche de fabricantes de produtos fantásticos, mas poucos estão fazendo dinheiro". Ele acredita em uma consolidação do mercado, e que companhias como a BYD não serão agressivas com seus preços para a Europa.

"Elas estão tentando vencer com base em conteúdo e marca, e para mim isso vai levar muito tempo. É preciso ter bolsos fundos, ou seja, lucros, para financiar isso. E exige paciência".

A Volkswagen está convencida que a concorrência chinesa não conseguirá se impor na Europa só com base em preços. "Os concorrentes estrangeiros também têm que se adaptar aos requisitos específicos do mercado europeu", disse a empresa, acrescentando que "os chineses não têm como oferecer seus carros [na Europa] de modo tão potente e barato como na China".

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No entanto, a fabricante alemã saúda a competição e leva a sério os fornecedores chineses, acrescenta o porta-voz, "exatamente como fizemos com os japoneses e coreanos".

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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