O setor público brasileiro registrou déficit primário de R$ 2,3 bilhões no mês passado, puxado por um forte resultado negativo do governo central e registrando nos fluxos em 12 meses rombo fiscal recorde nas contas públicas, num cenário que torna mais difícil o cumprimento da meta de superávit do ano.
O resultado foi pior que o esperado por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana apontava saldo positivo de R$ 1,5 bilhão.
Em 12 meses até fevereiro, o déficit primário ficou em 0,69% do Produto Interno Bruto (PIB), recorde para as contas públicas, conforme informações apresentadas nesta terça-feira pelo Banco Central.
"Ainda não há reflexo das medidas. É momento ainda de transição, em que se busca readequação de receitas e despesas", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, dizendo que os efeitos do ajuste fiscal serão observados mais à frente.
Estados e municípios no azul
O resultado primário negativo de fevereiro foi composto por déficits primários de R$ 6,671 bilhões do governo central (governo federal, Banco Central e Previdência Social) e de R$ 828 milhões de empresas estatais, não integralmente compensados pelo superávit primário de R$ 5,2 bilhões de Estados e municípios.
Em fevereiro houve elevado gasto com juros nominais de R$ 56,337 bilhões, concentrado na despesa de R$ 27,292 bilhões com as operações de swap cambial.
Com isso, e considerando o déficit primário no mês, o resultado nominal de fevereiro foi deficitário em R$ 58,637 bilhões. Nos fluxos em 12 meses, o déficit nominal ficou em 7,34% do PIB, recorde histórico.
No mês passado, a dívida líquida total ficou em 36,3% do PIB, acima dos 36,1% estimados em pesquisa da Reuters, mas abaixo dos 36,6% de janeiro.
Já a dívida bruta atingiu 65,5% do PIB ante 64,4% do PIB em janeiro.
No acumulado do primeiro bimestre deste ano, a economia de gasto para o pagamento dos juros da dívida pública foi de R$ 18,763 bilhões ante R$ 22,052 bilhões em igual período do ano anterior.
A meta de superávit primário de 2015 é de 1,2% do PIB para o setor público consolidado, um alvo considerado ambicioso após o Brasil ter registrado déficit primário de 0,63% do PIB no ano passado e em meio a forte efeito da economia fraca sobre a arrecadação federal.
Para atingir o alvo deste ano, o governo adotou um duro ajuste fiscal, que enfrenta resistências no Congresso, baseado em aumento de impostos, restrição de gastos, revisão de desonerações e redução de subsídios. O passo seguinte será o anúncio do contingenciamento de despesas do Orçamento a ser feito nas próximas semanas.
Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reforçou a necessidade do ajuste fiscal e disse que o que está em jogo é a manutenção do grau de investimento do País.