O sindicato da Volkswagen na Alemanha disse nesta quinta-feira que está se preparando para declarar paralisações em todas as fábricas da montadora no país a partir de 1º de dezembro, depois que as negociações sobre salários e ameaça de fechamento de fábricas na maior economia da Europa não avançaram.
O sindicato IG Metall havia pedido à VW que desse um "grande passo" em uma terceira rodada de negociações, mas disse que as conversas terminaram sem acordo e com posições ainda muito distantes.
Além de fazer perguntas sobre o plano apresentado pelo sindicato para a montadora economizar 1,5 bilhão de euros por meio de medidas que incluem redução de horas de trabalho e renúncia a bônus, a administração da Volkswagen não apresentou novas propostas próprias, disseram os representantes sindicais. As negociações continuarão em 9 de dezembro.
Milhares de trabalhadores da montadora se reuniram durante as negociações sobre os salários de 120 mil dos cerca de 300 mil funcionários da Volkswagen na Alemanha. Esses trabalhadores atuam em seis fábricas regidas por um acordo coletivo de salários separado do restante da força da empresa.
A Volkswagen exigiu um corte salarial de 10%, argumentando que precisa reduzir custos e aumentar resultados para defender sua participação no mercado diante da concorrência da China e da queda na demanda na Europa. A empresa também está ameaçando fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em seus 87 anos de história.
"Fomos informados de que a empresa ainda gostaria de fazer uma avaliação do pacote que apresentamos, o que é legítimo, mas também deixa claro que o fechamento de instalações e as demissões em massa não estão fora de cogitação", disse o negociador sindical do IG Metall, Thorsten Groeger. "A diferença entre nossas posições ainda é enorme."
O IG Metall também sinalizou na quarta-feira que deseja que os acionistas da VW recebam uma redução nos dividendos, sem eliminá-los por completo, mas não especificou um valor.
A Volkswagen disse que acolheu a disposição dos trabalhadores de considerar uma redução nos custos e na capacidade de trabalho, mas acrescentou que qualquer acordo salarial deve oferecer "alívio financeiro sustentável".
Arne Meiswinkel, chefe de pessoal da marca VW que lidera as negociações para a montadora, disse que "a realização sustentável das metas financeiras continua sendo crucial para garantir a competitividade em uma fase extremamente desafiadora para a indústria automotiva alemã".
As paralisações em dezembro seriam as primeiras greves em grande escala na empresa alemã - VW AG - desde 2018, quando mais de 50 mil trabalhadores foram às ruas por causa de salários.
As paralisações seriam inicialmente as chamadas "greves de advertência", com duração de várias horas. Os membros do sindicato poderiam então votar para aumentar as greves para 24 horas ou mais.
Groeger, no entanto, deu a entender que está disposto a aceitar que as fábricas sejam vendidas a compradores de fora do Grupo VW como forma de evitar a perda de empregos e o fechamento das instalações, dizendo: "Para nós, trata-se de alcançar uma perspectiva de longo prazo para todas as unidades, garantindo empregos e evitando demissões em massa."
MONTADORAS EM DIFICULDADES
Milhares de trabalhadores de várias cidades se reuniram no estádio de futebol em Wolfsburg, onde fica a sede da Volkswagen, no início desta quinta-feira, soprando apitos, agitando bandeiras, gritando e vaiando. Salsichas e pretzels foram servidos em temperaturas quase congelantes do lado de fora.
Dados da empresa e do setor analisados pela Reuters mostraram que a montadora gasta uma proporção maior da receita com custos trabalhistas do que seus principais rivais. Mas outras montadoras também estão enfrentando dificuldades.
A Ford disse na quarta-feira que cortará cerca de 14% de sua força de trabalho na Europa. A Mercedes-Benz planeja reduzir custos em vários bilhões de euros por ano nos próximos anos, informou o jornal Handelsblatt nesta quinta-feira.
As ações preferenciais da Volkswagen caíram até 1,4%, atingindo o nível mais baixo desde 13 de novembro. As ações ordinárias da empresa, controlada pela Porsche SE - a holding das famílias Porsche e Piech - caíram 1%, atingindo a menor cotação em mais de 13 anos.
"Os sindicatos mencionam especificamente que os acionistas também devem contribuir, ou seja, a política de dividendos deve ser ajustada", disseram analistas da Stifel em relatório. Isso seria negativo para a Porsche SE, a principal recebedora dos dividendos da Volkswagen.
Claudia Jobe, membro do conselho de trabalhadores da VW na fábrica de Hanover, disse que a administração havia mudado de tom desde que ela entrou na empresa em 1991, passando a tomar decisões unilaterais no interesse dos acionistas, e não dos trabalhadores.
"Você também tem medo, está na fábrica há tantos anos e tudo isso não conta para nada", disse ela.