Oferecimento

Só os juros não resolvem; há uma terapia fundamental: a reforma administrativa

Juros não são a doença, mas justamente um remédio que pode ser aplicado até certa dose, antes que mate o paciente

13 jan 2025 - 22h11

A economia está em um momento delicado. O câmbio está valorizado, mesmo com as intervenções do Banco Central no mercado. A inflação está acima do teto (4,5%), mesmo com a política monetária agressiva, levando os juros reais a um patamar próximo dos dois dígitos. Os capitais externos seguem fugindo do País, com o investimento muito abaixo do que precisaria para manter o crescimento próximo a 3%. Se o dólar e a inflação servirem de termômetro, a febre está muito alta e, para lidar com esse quadro, é preciso cuidar, antes, da infecção.

Essa contaminação tem causa: excesso de gastos. O ano passado registrou recordes de arrecadação, e mesmo assim não foi possível atingir sequer o equilíbrio das contas primárias - sem contar o pagamento de juros. A relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) passou de pouco mais de 70% para quase 80% em dois anos. É um quadro insustentável.

Publicidade

Se todo esse movimento fiscal acontece em meio a um contexto econômico melhor do que o esperado, também é verdade que o País pode pagar um preço elevado por tentar lidar com o desajuste de forma artificial, com uma política de aumento constante das despesas que gera ainda mais desconfiança no mercado sobre a capacidade do governo de pagar seus compromissos.

Esse cenário também expande custos de importadores e exportadores, porque, se ninguém arrisca dizer qual será o câmbio da semana seguinte, isso fica ainda mais intenso considerando operações que vencem em um, três ou seis meses. No âmbito das finanças, o risco de descontrole da dívida pública do Brasil afugenta os investidores estrangeiros, que optam por comprar dólares. Isso se torna em mais aumento da inflação.

Enquanto a política fiscal acelera, o Banco Central é obrigado a frear
Enquanto a política fiscal acelera, o Banco Central é obrigado a frear
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

A economia, assim, está no limite do crescimento.

Enquanto a política fiscal acelera, o Banco Central é obrigado a frear (e ele já sinaliza com uma Selic a 15% neste ano). Com esse solavanco, o carro quebra.

Publicidade

É por isso que as críticas ao órgão têm sido injustas. Os juros não são a doença, mas justamente um remédio que pode ser aplicado até certa dose, antes que mate o paciente. A doença é a falta de controle fiscal. O câmbio e os preços são, assim, apenas reflexo de uma economia em desequilíbrio - da qual o termômetro é a constatação.

Mas há uma terapia fundamental nesse caso: a reforma administrativa, capaz também de ajudar a tornar o Estado mais eficiente e, em longo prazo, melhorar a qualidade do gasto.

O Brasil tem tudo para ser um modelo de crescimento nas atuais circunstâncias do cenário global, e nós, do setor produtivo, continuamos otimistas com esse horizonte. O País vive hoje pelo sonho das economias avançadas: uma matriz energética limpa e total segurança alimentar.

A política fiscal não pode pôr tudo isso a perder.

TAGS
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações