A Ação Brasileira de Combate às Desigualdades, ABCD, lançou nesta quarta-feira, 30, o Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, no Salão Nobre do Congresso Nacional em Brasília. O relatório Um retrato das desigualdades no Brasil hoje conta com 42 indicadores sobre 9 temas diferentes e foi apresentado na solenidade. Dentre os dados, números que ilustram desigualdades territoriais, de gênero e raciais no Brasil.
Um dado que ilustra a desequilíbrio social no País são os super-ricos do Brasil compreendem apenas 0,01% da população, cerca de 20 mil pessoas. Mas mesmo com um número baixo, a classe acumula em média R$ 151 milhões em estoque de riqueza, o total do patrimônio, descontadas as dívidas. Outro fator apontado é que apesar dos altos números, os mais ricos pagam metade do percentual imposto de renda de pessoa física se comparado a algumas faixas da classe média.
Durante o evento, o coordenador-geral da ABCD, Oded Grajew, destacou: "Países que têm alta desigualdade são países que têm muitos conflitos. Isso é muito maléfico para a sociedade. O Brasil é o oitavo país mais desigual do mundo. Somos campeões mundiais em desigualdade. Isso numa das maiores economias do mundo. Não é vergonhoso para todos nós?."
O diretor de pesquisas do CEBRASPE, Tomás Wissenbach, apresnetou os dados ressaltou o objetivo do Pacto. “Um diagnóstico que possa ser utilizado como linha de base e atualizado anualmente para que a sociedade e governo possam monitorar avanços e retrocessos, e assim, aperfeiçoar políticas públicas”. Veja a seguir os principais indicadores:
Desigualdade de classes
O resultado aponta que os super-ricos do Brasil acumulam riqueza média com valores milionários:
- 1% mais rico - R$ 4,6 milhões em estoque médio de riqueza;
- 0,1% mais rico- R$ 26,2 milhões;
- 0,01% mais rico - R$ 151,5 milhões.
Os 10% mais ricos possuem um rendimento mensal domiciliar per capita 14,4 vezes mais do que os 40% mais pobres, em média.
O número baixo de ricos contrasta com os dados da base da tabela social. Cerca de 7,6 milhões de brasileiros se encontram em situação de extrema pobreza: vivem em domicílios cuja renda per capita é inferior a R$ 150 por mês. Isso equivale a 2,8% da população, segundo o IBGE, com dados de 2022.
Impostos
A discrepância também aparece na cobrança de impostos. Os resultados apontam que no Brasil, os 10% mais pobres pagam 26,4% da renda em tributos, enquanto os 10% mais ricos apenas 19,2%. Os dados são do Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Quem tem renda média superior a 320 salários mínimos, cerca de R$ 422 mil mensais, paga por volta de 5,43% de IRPF, sobre os rendimentos finais, segundo dados do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil.
A classe média é a que mais paga imposto de renda, chegando a 11,25% entre os que ganham 15 a 20 salários mínimos, entre R$ 19,8 mil e R$ 26,4 mil.
Região
As desigualdades crescem dependendo da região. O maior número é no Nordeste, onde 10% mais ricos ganham 14,4 vezes mais do que os 40% mais pobres da população. Um exemplo é a Paraíba, onde a renda média dos mais ricos é 17,2 vezes maior que a dos mais pobres. Já em Santa Catarina, a diferença é de 8,2 vezes.
As outras regiões têm o Norte com 13,6 vezes a mais, Sudeste, 13,1 vezes maior, Centro-Oeste 12,2 vezes a mais, e a menor diferença é no Sul, 10,1 maior.
Os números se agravam quando se fala da extrema pobreza no País. Cerca 6,4% das pessoas no Maranhão vivem com até R$ 150 por mês; esse percentual é de 1,3% em Santa Catarina.
Outros dados
O plano mostra dados que vão além do problema de distribuição de renda, e expõe desigualdades de acesso a serviços, como educação, saúde e habitação.
- Analfabetismo funcional: o problema afeta 29,4% da população de 15 a 64 anos, e dessa porcentagem, 48,3% são pessoas com renda de até um 1 salário mínimo por mês.
- Cor e gênero: Homens e brancos têm melhores desempenho em todos os indicadores. Enquanto a renda média da mulher negra é R$ 1.663 por mês, a de um homem branco é R$ 3.929.
- Crianças abaixo do peso: 4,1% de crianças com até 5 anos são afetadas, onde 12,9% deste grupo são moradores do Pará.
- Moradores de áreas de risco: 4,06 milhões de pessoas em todo o país, com maior concentração em Minas Gerais (14% do total)
Grajew ainda ressaltou que os númeres não são apenas para pesquisa, mas que foram levantados para que haja mudanças. "O observatório mostra uma agenda que tem de ser feita, não só em relação a grupos sociais, étnicos, de gênero e de raça, mas também territoriais. Se um gestor enxerga uma desigualdade, deve dizer: Aqui que tem que se investir com prioridade."