Um produto com a mesma composição que outro pode ser mais caro só por causa da embalagem cor de rosa? Apesar de não parecer justo, isso costuma ser frequente, segundo alguns estudos publicados sobre a chamada "taxa rosa".
O termo não diz respeito a um imposto ou algo do tipo, mas à prática de empresas que criam distinções de preços entre produtos voltados para os públicos feminino e masculino. Geralmente, são as mulheres que pagam mais caro.
Diversas instituições já produziram análises do tipo, e todas chegaram a conclusões similares. Confira:
- Em março deste ano, o Procon de Juiz de Fora (MG) comparou, de forma online e presencial, os preços de produtos para homens e mulheres. Os remédios para dor, com mesma composição química mas voltados para o público feminino, foram os que tiveram maior variação de preço, sempre mais caro na versão para as mulheres, em quatro estabelecimentos diferentes;
- Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de 2020, mostrou que 28% dos produtos tinham a chamada "taxa rosa", sendo que a maior incidência ocorreu em itens de vestuário (46%).
- Antes, em 2017, um estudo da Escola Superior de Publicidade e Marketing (ESPM) apontou que, em média, as mulheres pagam 12,7% mais caro por produtos similares aos dos homens.
Para a economista Carla Beni, professora da FGV, a incidência da "taxa rosa" acaba impactando o orçamento geral das mulheres, que, segundo a última atualização do Instituto Braisileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já ganham, em média, 17% a menos que os homens.
"Outro dado é que 50,8% dos lares, segundo o Dieese, são chefiados por mulheres. E quando você pega o mapa da inadimplência, a mulher está mais inadimplente do que o homem. No final das contas, a gente chefia a casa, paga mais do que deveria para os produtos e serviços destinados à mulher, e, normalmente, também é a mulher que acaba fazendo as compras domésticas. Então, sim, isso tem um impacto no orçamento feminino e no orçamento dos lares, em grande medida", considera Carla Beni.
A economista defende que haja maior conscientização do público feminino com relação à chamada "taxa rosa", para que esses produtos superprecificados sejam boicotados.
A taxa rosa nos produtos de higiene e limpeza
Os aparelhos de depilação aparecem com muita frequência nos estudos. No levantamento da FGV, um aparelho de mesma marca e com as mesmas características, era vendido 36% mais caro na versão para mulheres do que para homens.
Já no estudo do Procon de Juiz de Fora, um creme depilatório para mulheres era 15,79% mais caro do que o produto similar vendido para homens.
Ao comparar dois produtos de uma mesma marca e que tenham as mesmas características, mudando apenas o gênero ao qual está destinado, a economista Carla Beni explica que é possível denunciar a cobança exagerada ao Procon.
"Em uma questão constitucional já, você não pode cobrar mais para um público específico. Isso é uma questão de direito do consumidor. Então, o próprio Ministério da Justiça agora dentro tem estimulado esse debate, esse assunto e a denúncia", afirma.