As taxas dos DIs fecharam a última sessão do ano em alta, com ganhos anuais de mais de 500 pontos-base para alguns contratos, à medida que investidores consolidavam suas apostas baseadas em um profundo pessimismo com o cenário fiscal brasileiro e refletiam sobre as perspectivas para o próximo ano.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 15,435%, ante 15,351% do ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,955%, em alta de 20 pontos-base ante o ajuste de 15,751%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 15,76%, em alta de 23 pontos ante 15,527% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2031 tinha taxa de 15,47%, ante 15,251% na sexta-feira.
Em meio a uma sessão de agenda macroeconômica esvaziada e com poucas notícias no radar, também marcada por um volume fraco de negociações, investidores consideravam as expectativas para 2025 a fim de determinar suas posições no último pregão do ano.
Nesse ponto, as projeções do mercado para a economia brasileira continuam pessimistas.
No relatório Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda, o mercado elevou pela décima primeira vez consecutiva suas projeções para a inflação ao final de 2025, agora em 4,96% ao ano, de 4,84% na semana anterior, mantendo-se acima do teto da meta, que é de 4,5%.
Ainda para 2025, os economistas reduziram marginalmente a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), agora em 2,01%, ante 2,02% na semana anterior, o que representaria uma forte de desaceleração em relação à expansão de 3,49% projetada para este ano.
Os investidores também seguem receosos com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, particularmente após o duplo anúncio pelo executivo no fim de novembro de um esperado pacote de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda que gerou mal-estar no mercado.
Apesar da aprovação das medidas de contenção de gastos no Congresso e do adiamento do debate sobre a reforma do IR, os contínuos temores pela trajetória fiscal têm feito os agentes financeiros elevarem de forma acentuada os prêmios de risco do país, particularmente nas taxas de contratos de prazo mais longo.
A taxa do DI para janeiro de 2029, por exemplo, teve alta acumulada de 626 pontos-base neste ano, enquanto a taxa para janeiro de 2031 avançou 518 pontos em 2024.
"Expectativas de inflação... refletem um cenário de uma economia com uma produção positiva e uma disparidade no mercado de trabalho, (com) políticas fiscais e parafiscais pró-cíclicas expansionistas e prêmios fiscais dada a relutância do governo em adotar uma orientação orçamental mais restritiva", disse em relatório Alberto Ramos, chefe de economia para América Latina do Goldman Sachs.
Ajustes também continuam sendo feitos devido à perspectiva de uma política monetária mais restritiva pelo Banco Central, que acelerou o ritmo de aperto da Selic com uma alta de 1 ponto percentual neste mês, além de ter sinalizado mais dois aumentos do mesmo tamanho nas próximas duas reuniões do Copom.
Apesar do "guidance" do BC, operadores colocam 75% de chance de uma alta de 1,25 ponto na Selic, agora em 12,25% ao ano, na reunião de janeiro do Copom.
Em meio ao avanço dos prêmios de risco, o Tesouro Nacional chegou a atuar no mercado de títulos em sessões recentes, realizando a recompra de notas e letras e deixando de vender títulos adicionais, mas as operações têm tido efeitos pontuais.
No cenário externo, os rendimentos elevados dos Treasuries também têm fornecido um impulso para a manutenção dos juros futuros em patamares altos no Brasil.
Nos primeiros meses do ano, os rendimentos dos títulos norte-americanos subiram devido à redução das expectativas do mercado para os cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve, que reduziu os juros três vezes, com 100 pontos acumulados, neste ano. Em janeiro, operadores projetavam até seis cortes.
Já no segundo semestre, os rendimentos avançaram com a perspectiva, e depois concretização, da vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, com o mercado reagindo a medidas do republicano que são consideradas inflacionárias, como tarifas e cortes de impostos.
O rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha queda de 7 pontos-base, a 4,252%.