Mais de 50 empresas estão se preparando nos últimos dois anos para realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) nos próximos trimestres, disse o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, em conversa com o Estadão/Broadcast. Mas acrescentou não haver ainda certeza de quando essa janela vai se abrir, já que o problema está na demanda, que depende de discussões sobre o juro, especialmente nos Estados Unidos.
"Difícil dizer em qual trimestre começaremos a ver os IPOs", afirmou Finkelsztain. Provavelmente, acrescenta, quando os sinais forem de que as coisas vão parar de piorar. Na sua opinião, a janela para novas listagens pode ficar mais clara no início do próximo ano. "Se houver visibilidade de que o juro lá fora ficará alto por mais tempo, mas parou de subir, isso é positivo; de que a China não desacelera tanto, é positivo", diz.
Finkelsztain lembrou que o "mercado de capitais não combina com incertezas" e que "fomos atropelados por uma agenda internacional de incerteza", citando a política monetária dos EUA, o nearshoring e o crescimento mais lento da China.
Ao mesmo tempo, o presidente da B3 disse que o mercado de capital brasileiro mudou de patamar, o que favorece a atração do fluxo externo para o Brasil. "Tenho escutado que o Brasil tem janela única, com juro em queda, PIB e mercado local grande, além de menor competição de recursos entre os emergentes", afirmou.
Finkelsztain defendeu ainda que ofertas a partir de R$ 500 milhões poderão ser bem-sucedidas, encontrando demanda equilibrada entre brasileiros e estrangeiros.
"Desmistificamos que só pode ter IPO muito grandes. É fato que temos um mercado que prefere IPOs na casa de bilhão, mas isso não significa que não possamos ter empresas na casa de milhões, com governança e que posteriormente sigam com um follow on", afirmou. De outro lado, o presidente da bolsa diz que o mercado brasileiro não tem maturidade para fazer IPOs de empresas menores.
Setores tradicionais, como infraestrutura, energia e saneamento, devem puxar a fila, e Finkelsztain descartou a necessidade de os estrangeiros serem maioria. "Não vejo IPOs sendo liderados por investidores locais ou estrangeiros. Está mais balanceado", acrescentou.
Pessoas físicas
O presidente da B3 afirma acreditar que a retomada da bolsa trará um número de novos investidores ao mercado, mas não necessariamente acompanhados de volume financeiro relevante. "Vamos ver um crescimento no número de investidores, entretanto, de menor volume financeiro", disse. No boom dos IPOs de 2020 e 2021, marcado por um movimento de queda abrupta de juro, houve um forte ingresso de recursos de pessoas físicas em bolsa.
Agora, Finkelsztain aposta na realocação de investimentos dos 5 milhões de CPFs que já investem por meio da bolsa para ativos mais arriscados, citando, além das ações, fundos imobiliários e ativos no exterior. "Potencialmente temos mais um, dois ou três milhões de CPFs que podem entrar na bolsa, mas o volume financeiro virá dos atuais investidores, mais maduros e com educação financeira, que vão migrar para ativos de risco", afirmou.
Finkelsztain participou do evento "Reflexão sobre o cenário econômico brasileiro", organizado pelo Estadão, com apoio do Broadcast, em parceria com o B3 Bora Investir, site de notícias e conteúdo educacional produzido pela Bolsa.