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Trens-bala "made in China" ganham espaço no mercado global

Empresas europeias precisam desenvolver estratégias para manter competitividade, afirmam especialistas

9 jul 2014 - 13h16
<p>China investiu cerca de US$ 500 bilhões na sua malha ferroviária de alta velocidade e agora exporta trens</p>
China investiu cerca de US$ 500 bilhões na sua malha ferroviária de alta velocidade e agora exporta trens
Foto: ChinaFotoPress / Getty Images

Antes conhecida como centro de manufatura de produtos de baixa tecnologia e pelo uso de mão de obra pouco qualificada, aos poucos a China caminha no sentido de se tornar uma exportadora de bens de alta tecnologia. E o setor que mais representa essa mudança é o ferroviário.

Quando, há mais de uma década, a China decidiu expandir a malha ferroviária para trens de alta velocidade, conectando a nação de norte a sul e de leste a oeste, o país não tinha nenhuma base de produção industrial capaz de executar esse imenso projeto. Os trens teriam que ser importados de companhias estrangeiras, como a alemã Siemens, a japonesa Kawasaki e a francesa Alstom.

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Hoje, entretanto, as companhias ferroviárias chinesas já dominam a tecnologia para construir os trens e procuram mercados no exterior para comercializar seus produtos, competindo, assim, com empresas já estabelecidas no segmento. Recentemente, a China South Locomotive and Rolling Stock (CSR), a maior fabricante de trens do país, assinou um contrato de venda de seis trens-bala com a empresa ferroviária nacional da Macedônia.

O negócio foi fechado na sequência de outros acordos entre a China e países do Leste Europeu, como a Romênia e a Hungria, para construir ferrovias para trens de alta velocidade. A China também está promovendo sua infraestrutura e tecnologia ferroviária de alta velocidade em outros países da Ásia e da África.

De compradora a produtora

Esses negócios são apoiados numa grande quantidade de investimentos. O país investiu cerca de US$ 500 bilhões na infraestrutura de sua malha ferroviária de alta velocidade. Apesar de denúncias de corrupção e de um acidente fatal em 2011 – que matou 40 pessoas, chocando o público e resultando numa breve desaceleração da expansão da malha ferroviária – o ritmo de negócios aumentou desde então. Atualmente, a China tem mais de 11 mil quilômetros de trilhos exclusivos para trens de alta velocidade, refletindo o desejo de Pequim de impulsionar as atividades econômicas do país por meio da alocação de recursos em projetos de infraestrutura.

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Inicialmente, a China comprou trens e equipamentos de empresas estrangeiras, mas, mais tarde, seus engenheiros redesenharam os projetos das máquinas e conseguiram construir seus próprios modelos capazes de atingir uma velocidade de até 350 a 400 quilômetros por hora. A mudança causou dor de cabeça para empresas como a Siemens e a Alstom, que esperavam lucrar com a expansão chinesa.

O que alguns chamam de cópia de tecnologias estrangeiras, Pequim classifica como um trajeto de "introdução, digestão, absorção e reinovação". Adquirir o acesso à tecnologia através de joint ventures e compartilhar acordos é uma "prática amplamente seguida mundo afora, e duvido que seja uma abordagem exclusivamente chinesa", afirma Thomas König, especialista em China do Conselho Europeu de Relações Internacionais.

Competitividade internacional

Além disso, a expansão da malha ferroviária de alta velocidade resultou num declínio dos custos de produção para os fabricantes chineses, tornando-os mais competitivos do que concorrentes alemães e franceses, por exemplo. Entretanto, a questão da competitividade não se limita a esse mercado. De acordo com Nicola Casarini, especialista em Ásia do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, "a Europa está perdendo competitividade perante a China à medida que mais e mais produtos chineses competem com os europeus".

Analistas também argumentam que, ao contrário de empresas como a Siemens, as companhias ferroviárias chinesas – que são estatais – têm a vantagem injusta da garantia da infusão de capital público para aumentar a produção. König afirma que a China "identificou, logo no início, o potencial do mercado e agora está tirando o máximo disso". Na tentativa de aumentar seu impacto sobre mercados europeus, Pequim conseguiu "fechar acordos com países que foram duramente atingidos pela crise do euro ou que estão procurando maneiras para incentivar o crescimento de suas economias", diz.

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O especialista acrescenta que a China é amplamente percebida como uma "alternativa relativamente livre de problemas em relação aos processos burocráticos muitas vezes nada atraentes da União Europeia". König aponta, porém, que não deve haver razão para que as companhias europeias fiquem para trás, considerando que a indústria chinesa está apenas no início de uma ascensão significativa.

Mercado promissor

O rápido crescimento populacional e a migração para mercados emergentes devem impulsionar a demanda por trens de alta velocidade nas próximas duas décadas. De fato, muitos países como Rússia, Índia e Brasil estão discutindo seus projetos de trens-bala. Nas economias desenvolvidas, onde tecnologia e registros de segurança comprovados são fatores importantes, as empresas europeias continuarão a ter uma grande parcela do mercado.

No entanto, companhias chinesas "se tornarão importantes competidoras em países em desenvolvimento, especialmente porque Pequim pode usar sua vantagem competitiva nos custos com maior eficiência e impulsioná-la em licitações, oferecendo financiamento através de seus bancos de desenvolvimento", afirma Rajiv Biswas, economista-chefe especialista em Ásia da empresa de análise de dados IHS.

König ressalta que, para superar a competição chinesa, as empresas europeias precisam entender melhor e se ajustar às necessidades de seus consumidores. Biswas afirma quer "haverá muitas oportunidades para as empresas europeias competirem com a China, desde que elas sejam capazes de desenvolver suas estratégias para competir de forma eficaz em diversas áreas fundamentais, inclusive custos de produção, tecnologia e financiamento". Os europeus precisam desenvolver estratégias, como a criação de joint ventures com parceiros locais em países em desenvolvimento, algo que irá reduzir os custos, conclui o especialista.

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