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'Uma alta nos juros não é boa para os bancos', diz professor da FGV

Rafael Schiozer, professor titular de Finanças da FGV EAESP, afirma que o governo pode agir com mais firmeza para cortar despesas

11 dez 2024 - 03h10
(atualizado em 12/12/2024 às 11h37)

ESPECIAL PARA O ESTADÃO - Rafael Schiozer, professor titular de Finanças da FGV EAESP, com área de pesquisa em estabilidade financeira, gestão de bancos, riscos e crises financeiras, diz acreditar que o Brasil possui instituições financeiras sólidas, mas que foram impactadas e precisaram se adaptar com a entrada no mercado das fintechs e dos bancos digitais. De acordo com ele, em 2024 o maior desafio foi o aumento da inadimplência, que corre o risco de persistir no ano que vem, especialmente entre as pessoas de mais baixa renda. Para Schiozer, o governo federal errou ao vincular o debate sobre o Imposto de Renda ao pacote fiscal recentemente anunciado e precisará fazer novos cortes de gastos em 2025.

Qual a sua avaliação sobre as instituições do sistema financeiro brasileiro na atualidade?

O Brasil tem um sistema financeiro sólido, mas que ainda convive com uma concentração excessiva por parte de algumas grandes instituições. Mas essa situação está gradualmente diminuindo, em grande parte por conta das fintechs que cada vez mais ingressam no mercado, dando a ele uma maior amplitude. O lado negativo é o aumento de inadimplência, em especial da baixa renda, em operações de empréstimo pessoal e no cartão de crédito. Existem várias teorias para explicar esse fato, nenhuma delas excludente. Houve uma oferta muito grande de crédito para a baixa renda, o número de cartões de crédito aumentou muito. Já por parte das empresas, tivemos também aumento da inadimplência, mas em níveis bem mais baixos.

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Considera que o pacote de ajuste fiscal anunciado recentemente pelo governo federal atende às expectativas do mercado?

Realmente, o pacote acabou sendo anunciado de uma forma um pouco atrapalhada. O governo federal poderia nesse momento ter focado mais nos cortes de gastos e deixado a discussão do Imposto de Renda mais para a frente. Isso prejudicou a divulgação e a recepção do pacote. A reforma dos militares poderia ter sido mais forte e a questão do abono salarial melhor resolvida. Creio que a desindexação do salário mínimo também poderia ser um pouco maior. Mas acho que a reação do mercado talvez tenha sido um pouco exagerada. Creio que ainda exista espaço para a administração federal cortar mais gastos. Sou otimista com relação a isso.

De que forma as instituições do sistema financeiro têm reagido às inovações tecnológicas?

O sistema financeiro respondeu muito bem as inovações tecnológicas, mas ainda convive com o desafio de lidar com as fraudes, correndo atrás da criatividade dos fraudadores. Mas não vejo problema com inovações tecnológicas, muito pelo contrário, o que temos hoje no Brasil é modelo mundial. E isso também facilitou a diminuição da concentração bancária.

Acredita que uma mudança na direção do Banco Central poderá alterar os rumos da política monetária brasileira?

Não acredito em mudança de postura do Banco Central por aspectos políticos. Claro que a nova diretoria pode priorizar este ou aquele projeto, mas a postura adotada até agora tem sido correta. Com as críticas que faz ao Banco Central, o governo federal dá um tiro no pé e acaba criando instabilidade desnecessária.

Quais as perspectivas para o sistema financeiro em 2025?

Acho que vai ser um ano sem sobressaltos. Um possível risco seria a inadimplência disparar, mas não acredito que isso aconteça. Talvez mais para o final do ano tenhamos margem para uma queda na taxa de juros. Um fator que pode impactar a economia brasileira é a posse de Donald Trump como presidente americano, talvez seja um início de governo meio atribulado, que gere alguma instabilidade macroeconômica. Mas não acredito que ele irá impor novas tarifas a produtos brasileiros.

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