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'Verdade e trabalho' serão respostas para carta, diz Mourão

O vice-presidente é o coordenador do Conselho da Amazônia; o Itamaraty confirmou que embaixadas brasileiras receberam carta de instituições que exigem um freio no desmatamento no País

24 jun 2020 - 16h17
(atualizado às 16h32)

BRASÍLIA - O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, responsável pela coordenação do Conselho da Amazônia, afirmou, nesta quarta-feira, 24, que o Brasil vai responder "com a verdade e com trabalho" a carta de investidores estrangeiros contra o desmatamento na floresta amazônica. O Itamaraty confirma que o documento foi recebido por embaixadas brasileiras e diz o tema está sob análise no governo.

"O Brasil responderá com a verdade e com trabalho responsável em prol da proteção e preservação da Amazônia", disse Mourão ao Estadão/Broadcast.

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Vice-presidente Hamilton Mourão
14/02/2019
REUTERS/Ueslei Marcelino
Vice-presidente Hamilton Mourão 14/02/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Em nota, o Itamaraty confirmou que a carta foi recebida por "algumas embaixadas brasileiras". "No momento, o Ministério está examinando o tema, em coordenação com os demais órgãos responsáveis pelas políticas ambientais no Brasil", respondeu o Ministério de Relações Exteriores após ser questionado pela reportagem.

Na terça-feira, 23, um grupo formado por quase 30 instituições financeiras em todo o mundo divulgou uma carta na qual exige que o governo brasileiro freie o crescente desmatamento no País. A informação foi noticiada pelo jornal britânico Financial Times.

Para o grupo, a continuidade da prática criou "uma incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil". "É provável que os títulos soberanos brasileiros sejam considerados de alto risco se o desmatamento continuar", escreveu o grupo, conforme reproduziu o jornal.

No Ministério da Economia, a pauta do desmatamento é tratada com um assunto delicado. Há preocupação de não gerar mais "ruído" sobre o aumento do desmatamento e as ações do governo.

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Por meio de nota, o ministério informou que "defende a busca pela adoção de melhores práticas regulatórias e combate a práticas econômicas ilegais". Segundo a pasta, "tais compromissos constam, inclusive, de nossos compromissos e prioridades na área econômica internacional, como a acessão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a negociação de acordos comerciais".

Na terça, o assunto foi comentado pelos presidentes dos bancos Bradesco e Itaú. A questão ambiental é, na opinião do presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, o principal 'perigo' que ameaça o Brasil. "No momento em que a sociedade se percebe frágil, a gente deve olhar para outros perigos. As consequências ambientais podem até vir de uma maneira mais lenta do que as da saúde como a covid-19, mas são mais duradouras e difíceis de reverter", declarou.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, destacou que "todo mundo falava de sustentabilidade, de problema com o Planeta, de aquecimento global, reflorestamento, derrubada, de qualidade do ar, da água, todo mundo falava sobre isso, mas de fato nós temos de reconhecer que fizemos muito pouco em relação a isso".

Também na terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que investidores internacionais não estariam devidamente informados sobre as ações do Brasil para o desenvolvimento de atividades ambientalmente sustentáveis e que o País "tem um grande potencial em negócios sustentáveis".

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Campos Neto declarou que "existe falta de informação grande sobre o que Brasil faz na área climática", afirmação que referendou o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, que disse "saber" que a imagem do País não está "muito boa" aos olhos externos na questão ambiental, mas que essa situação se deve ao que chamou de "desinformação".

Aumento na área desmatada

Os sinais de alerta do setor econômico nacional e de organismos estrangeiros reflete a situação do desmatamento na Amazônia. Neste ano, mesmo com a pandemia do coronavírus, o número de áreas desmatadas tem superado o volume de 2019, como atestam os dados do próprio governo. Essa preocupação ganha ainda mais força a partir deste mês, com o período de seca na Amazônia e o avanço das queimadas.

Como mostrou o Estadão, faltando ainda mais de um mês para fechar o calendário anual em que se mede o desmatamento da Amazônia, os alertas feitos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que as perdas deste ano já superam as do ano anterior.

De acordo com dados disponíveis no site Terrabrasilis, de 1º de agosto do ano passado até 11 de junho deste ano, foram feitos alertas para a derrubada de 6.870 km² de floresta. Entre 1º de agosto de 2018 a 31 de julho de 2019, foram 6.844 km². Os registros do mês de junho deverão estão disponíveis somente em 10 de julho.

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O Deter é um sistema dinâmico de monitoramento por satélite, que fornece em tempo real alertas para orientar a fiscalização em campo. Por conta disso, ele só indica uma tendência do que está ocorrendo. Quem traz a taxa oficial de desmatamento é outro sistema no Inpe, o Prodes, que "vê" mais e faz um retrato ainda mais dramático.

No período de agosto de 2018 a julho de 2019, o Prodes aponta que a Amazônia perdeu 10.129 km². O valor representa uma alta de 34,41% em relação aos 12 meses anteriores. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, a perda havia sido de 7.536 km². Com o Deter em franca elevação nos últimos 13 meses, especialistas já calculam que o Prodes deve trazer também uma nova alta expressiva neste ano.

Dados inflados

Numa tentativa de dar uma resposta à situação, o governo iniciou, em 11 de maio, a operação militar "Verde Brasil 2", liderada pelo Conselho da Amazônia, liderado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Como revelou o Estadão, porém, a operação inflou os dados de suas primeiras investidas na floresta no combate ao crime ambiental, embutindo em seu balanço o resultado de operações que não tiveram nenhuma ligação com o apoio militar.

Foi o que ocorreu, por exemplo, com as apreensões, multas e destruições de máquinas que o Ibama havia feito em uma megaoperação no Pará, entre os dias 4 e 16 de abril, ou seja, realizada um mês antes. Procurado pela reportagem, o próprio Ministério da Defesa, responsável por consolidar o balanço da operação militar, confirmou a utilização dos dados sem nenhuma relação com a sua iniciativa.

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