O ex-motorista de aplicativo Anderson Ranchel, de 34 anos, exibia em suas redes sociais uma vida regada a luxo, com viagens internacionais, carros importados e roupas de grife. No entanto, segundo a Polícia Civil do Piauí, ele é suspeito de ser um dos líderes de um grupo que aplicava o golpe do empréstimo, um esquema criminoso digital em que os suspeitos enganaram sistemas bancários e causaram prejuízos milionários. As informações são do Fantástico.
Somente no Piauí, Anderson e outros três homens: Ilgner Bueno, Sávio Máximo e Handson Ferreira fraudaram quase R$ 6 milhões de um banco privado usando apenas celulares.
"São pessoas com uma boa capacidade técnica e que se deslumbraram também com dinheiro fácil", disse o diretor de Inteligência da SSP-PI, Anchiêta Nery, em entrevista ao programa da TV Globo.
O golpe, que se espalhou por 24 estados do Brasil, causou um prejuízo de R$ 19,6 milhões e funciona em duas frentes: os suspeitos usavam grupos de aplicativos e promoviam empréstimos bancários aparentemente descomplicados, prometendo acesso rápido a dinheiro sem qualquer burocracia. Além disso, realizavam abordagens presenciais em locais criteriosamente selecionados.
Muitas das pessoas que contratavam os empréstimos residiam em bairros periféricos de Teresina, onde três dos quatro líderes da quadrilha cresceram e tinham amplo conhecimento da comunidade. Esse conhecimento prévio facilitava a persuasão dos potenciais cúmplices para se envolverem no esquema.
No último dia 5, a Polícia Civil de Piauí deflagrou a ”Operação Prodígio” contra o esquema de fraude financeira. A ação cumpriu 25 mandados de busca e apreensão e 30 mandados de prisão temporária nas cidades de Teresina, Floriano, Amarante e Nazaré do Piauí. A operação teve apoio da Superintendência de Operações Integradas e Diretoria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Segundo a polícia, a investigação, que durou mais de um ano, descobriu que a fraude consistia em cooptar essas pessoas para abrir contas bancárias com dados falsos que levassem o banco a aumentar o limite de crédito desse cliente.
Neste caso, as contas eram abertas por meio do aplicativo da instituição, com informações pessoais verdadeiras, como nome e CPF, mas com informações profissionais fictícias, geralmente dizendo ser médico, engenheiro ou atleta profissional.
“O nome da Operação ‘Prodígio’ faz referência ao fato de que alguns dos investigados, bastante jovens, com idade entre 19 e 21 anos, se apresentavam ao banco como médicos, até mesmo já com residência médica concluída. Algo bastante improvável. Outros apresentavam-se como engenheiros, com a mesma idade”, informou Nery.
Uma vez aberta a conta, a associação criminosa simulava uma série de transações bancárias para “esquentar” a conta, de forma que o banco entendesse que aquela renda declarada era legítima.
"Informando uma renda mensal que ele não tinha: R$ 40 mil por mês, por exemplo. Só que, assim que ele abria a conta, recebia um PIX de R$ 40 mil para que o motor de crédito do banco pensasse: poxa, essa renda é legítima", explicou o delegado ao Fantástico.
Quando o grupo criminoso acreditava ter atingido o máximo de limite de crédito possível, “tombava” o banco, não realizando mais qualquer pagamento.
Para levantar o dinheiro das contas da instituição financeira, o núcleo financeiro da associação criminosa se valia de empresas fantasmas e meios de pagamento diversos (cartão de crédito, boleto bancário) que envolvem múltiplas empresas do sistema financeiro. Tudo para dificultar a ação de investigação, segundo apontado pela polícia.
Todo o trabalho iniciou após notícia de crime apresentada pela Diretoria de Segurança do banco, que detectou a fraude e acionou a Polícia Civil do Piauí. Ao final do Inquérito Policial a PC-PI compartilhará provas com outros estados e novas prisões podem ocorrer.
O Fantástico teve acesso a alguns dos depoimentos de suspeitos de liderar o grupo, que confessaram a participação no esquema. As investigações apontam que a quadrilha ficava com 20% a 40% de cada empréstimo e alguns deles chegava a até R$ 120 mil.
Ao programa da TV Globo, a defesa de Anderson Ranchel não quis se pronunciar sobre o caso. Já os advogados de Handson Ferreira disseram, por meio de nota, que os fatos serão efetivamente esclarecidos quando for possibilitado o contraditório e a ampla defesa.
As defesas de Ilgner Bueno e Sávio Máximo não retornaram os contatos do Fantástico.