Às vésperas da Conferência do Clima da ONU (COP 26), três grandes grupos do Brasil, Volkswagen, Raízen e Shell, se uniram para trabalhar em projetos com foco no uso do etanol para a redução das emissões de CO2. A ideia é que o combustível brasileiro seja uma ponte para a descarbonização até a eletrificação total dos veículos, que vai demorar mais a ocorrer em países menos desenvolvidos.
A parceria prevê o desenvolvimento de novas fórmulas mais eficientes para o etanol, uso de gás natural renovável feito a partir de resíduos da cana usada na produção do combustível, material hoje descartado, e instalação de postos de recarga para carros elétricos.
As medidas serão implementadas até 2023 e vão ajudar principalmente na descarbonização do setor automotivo ao stimular o uso do etanol, aliado à estratégia complementar entre carros elétricos, híbridos e flex.
Outro objetivo é "valorizar no mundo a capacidade que o etanol tem", segundo Lauren Wetemans, vice-presidente de negócios de Downstream da Shell para a América Latina.
Os três grupos defendem o uso do etanol como biocombustível com baixa emissão de gases de efeito estufa principalmente em países onde a eletrificação das frotas vai demorar a ocorrer em razão dos custos elevados.
Pela medição de emissões pela metodologia do poço a roda - que considera o CO2 não renovável emitido pelo veículo somado à emissão de CO2 no processo de produção e transporte - o etanol está à frente dos demais combustíveis, incluindo os modelos eletrificados quando avaliado a forma de geração da energia.
"Para nós, a estratégia não tem de ser só a eletrificação, pois há várias opções e o etanol melhora o meio ambiente, gera empregos, contribui para o crescimento da economia do País e tem muito espaço para crescer e alavancar o papel dos biocombustíveis", afirma Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina.
A montadora já anunciou a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento para o uso do etanol como indutor de energia elétrica em carros a célula de combustível, por exemplo. Nos próximos dias, o grupo vai lançar dois carros elétricos para o mercado brasileiro, o ID.3 e o ID.4.
Novas fórmulas para o etanol
A parceria contempla o desenvolvimento de potenciais novas fórmulas de etanol pela Raízen e a Shell, com apoio da Volkswagen, que usará seus veículos para os testes, assim como sem centro de P&D. Também o fornecimento de gás natural renovável dos parques de bioenergia da Raízen para substituir o uso do gás natural nas fábricas da montadora no Brasil.
Segundo o presidente da Raízen, Ricardo Mussa, o gás renovável reduz em mais de 80% as emissões de CO2. Também será feito o fornecimento de energia para a rede de concessionárias Volkswagen por meio das usinas de geração distribuída de energia renovável.
O executivo informa que o fornecimento de biogás será produzido em sua planta de Piracicaba (SP), que receberá investimentos de R$ 250 milhões e vai atender outras empresas além da Volkswagen. Para as concessionárias da marca será oferecida energia solar e de biomassa, mais barata que a usada atualmente e renovável.
Em paralelo, a Raízen vai instalar uma rede de eletropostos de recarga rápidos nos postos da Shell primeiro em grandes centros e corredores como os de São Paulo ao Rio e São Paulo a Belo Horizonte.A empresa tem 7,3 mil postos no País e na Argentina. A Shell é uma das controladoras da Raízen, junto com a Cosan.