Não existe chance de curtir um São João no Nordeste sem dançar ao som de Tareco e Mariola, um sucesso do forrozeiro Petrúcio Amorim, nascido em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Nas mesmas ruas do bairro do Vassoural que inspiraram os versos do artista, vive Marta Alves, presidente da Associação dos Idealizadores das Comidas Gigantes da cidade.
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A princípio, o nome da organização parece estranho, mas é mais fácil de entender do que se imagina. Se os caruaruenses defendem ter a maior cultura junina do País, as iguarias típicas também teriam que ser as maiores - literalmente.
Por lá, um circuito de comidas gigantes é tradição durante o festejo junino. Durante todo o mês de junho, os organizadores servem petiscos enormes e gratuitos para todos os gostos: quentão, tapioca, canjica e muitas outras variedades.
No caso de Marta, as iguarias escolhidas foram Tareco e Mariola, justamente as mesmas eternizadas pela canção de forró. Aos 64 anos, a aposentada assume o trabalho de organizar e distribuir a comida: “Por mim, teria São João o ano inteiro”.
Ao Terra, a presidente da Associação dos Idealizadores das Comidas Gigantes de Caruaru conta como entrou para o circuito, dá detalhes da produção e destaca os momentos marcantes de uma vida dedicada aos festejos juninos e à tradição das iguarias que têm o tamanho do empenho que emprega pela cultura local.
Orgulho gigante
“Tive a sorte de nascer na terra do melhor e maior São João do mundo”, faz questão de destacar a caruaruense Marta. Patriotismo à parte, a declaração da aposentada demonstra a dedicação dos moradores de Caruaru em exaltar e perpetuar a cultura da cidade.
O circuito das comidas gigantes nada mais é que uma forma de reforçar as características culturais do festejo. Por meio de proporções gigantescas, os organizadores chamam atenção e despertam a vontade dos que passam pelo circuito em experimentar iguarias típicas da região.
O movimento se tornou tão importante para a cidade que ganhou até uma data no calendário municipal: em 22 de maio é celebrado o dia oficial das Comidas Gigantes. Pouco antes do mês junino, as iguarias gigantescas também são oferecidas nas ruas de Caruaru neste dia.
Na vida de Marta, as comidas enormes entraram lá em 2008, quando criou a Caminhada do Tareco e Mariola Gigantes. “Na época, era presidente da associação de moradores do bairro e, como sempre fui animada, me pediram para fazer uma festa por lá. Foi aí que tive a ideia de distribuir o tareco e a mariola, em referência à música do compositor que nasceu aqui”, lembra o forró de Petrúcio Amorim.
Com nomes que podem soar diferentes para pessoas de outras regiões do Brasil, tanto o tareco quanto a mariola fazem parte da cultura nordestina. O tareco nada mais é que um biscoitinho feito com farinha de trigo, ovos e açúcar. Já a mariola é um doce armazenado em forma de tabletes, geralmente feito com banana, caju ou goiaba.
Ao apostar nessa dupla e planejar a festa, a aposentada não sabia que faria tanto sucesso. “Tive a ideia de chamar um grupo da terceira idade, contratei um carro de som à base de muito forró e a gente saiu descendo a avenida Vassoural”, lembra.
Um ano depois, a Associação dos Idealizadores das Comidas Gigantes foi fundada. A organização surgiu em 2009 com cerca de 15 participantes, incluindo Marta. Além da Caminhada do Tareco e Mariola Gigantes encabeçada por ela, estão grupos como o do Maior Chocolate Quente do Mundo e o do Maior Bolo de Macaxeira do Mundo.
Atração que agrada ao paladar
Para entregar tanta comida aos que vão curtir os festejos em Caruaru, os responsáveis por cada tipo de prato se organizam em grupos para preparar as iguarias a tempo. Segundo Marta, as gostosuras são feitas com, no máximo, três dias de antecedência. Para o quentão gigante, por exemplo, a preparação só começa na véspera.
No caso do tareco e da mariola distribuídos pela aposentada, o trabalho braçal e as horas de fogão são dispensados. Isso porque Marta encomenda os docinhos de comerciantes locais.
“O tareco vem de uma fábrica tradicional aqui do meu bairro, que passou por gerações de uma família. A mariola vende em uma cidade próxima e já chega assim. Não sou eu quem fabrico, mas busco tudo com três dias de antecedência para conseguir organizar”, explica.
Apesar da ‘mão na roda’ em encomendar as iguarias já prontas, Marta tem o trabalho de ensacar os doces e garantir que tudo saia nos conformes. Para esse ano, por exemplo, cerca de 5 mil bolsinhas com tareco e mariola foram distribuídas no evento.
Os alimentos que são partilhados gratuitamente no período junino passam por diversas mãos cuidadosas até alcançar os que estão ali só para curtir a festa. Somente no evento dedicado ao tareco e a mariola gigantes, é estimada a presença de cerca de 15 mil pessoas.
No circuito junino, que também recebe incontáveis visitas, a aposentada garante que o público é variado: de moradores a turistas, todo mundo aproveita para passar por lá e fazer uma ‘quentinha’. "O pessoal consome e ainda leva para casa, viu?! Levam bolsa, enchem... Pessoas em situação de rua também vão lá receber. É gratuito e todo mundo sai muito feliz em participar", detalha.
A demanda é tanta que Marta assegura que as iguarias acabam rápido, mesmo sendo enormes. "Por mais gigante que a comida seja, na hora da distribuição não passa de 15 minutos (risos)", relata a presidente da associação.
Resistência cultural
Para garantir a diversão e o alimento gratuito para tanta gente, o circuito de comidas gigantes de Caruaru conta com o apoio da gestão municipal e de marcas patrocinadoras. Porém, Marta revela que sente falta de um suporte maior.
"A gente corre atrás o tempo todo. O gasto é realmente absurdo para poder colocar essa festa na rua e, a cada ano, tentamos divulgar cada vez mais para arrumar parceiros. Tudo é complicado. Muitas vezes, terminamos a festa devendo às bandas", desabafa a presidente da associação.
Para ela, a solução seria que iniciativas de fora de Pernambuco também se interesassem em investir no movimento cultural. "O bom seria a gente ter empresas de fora, empresas que vêm do sul ou até do nordeste também, mas é complicado. Ano a ano a gente tenta, manda os projetos, manda tudo, mas eles não se interessam", lamenta.
Apesar dos percalços, a arte e a cultura dão todo o gás para Marta seguir fortalecendo o circuito. Há pouco mais de 15 anos no projeto, ela conta que o dia mais marcante em todo esse tempo foi quando o conterrâneo Petrúcio Amorim prestigiou a festa que leva o nome de seu maior sucesso.
"Foi muito emocionante por ele ser do bairro, por eu ter feito a festa em homenagem a música dele, Tareco e Mariola. Onde eu passo, eu falo que essa música é o hino do nosso Vassoural, conta a história do nosso bairro", se emociona Marta.
Na canção, o artista exalta a história local, com suas iguarias e personagens inesquecíveis. "Eu me criei matando a fome com tareco e mariola/ Fazendo versos dedilhados na viola/ Por entre os becos do meu velho Vassoural", dedica o refrão.
Além da presença ilustre, outra passagem marcante na vida da aposentada foi a volta da festa e do circuito após a pademia. "Dois anos sem evento e quando abriram foi muita gente! Foi muito emocionante. A gente luta tanto para colocar festa na rua e quando vê que está tudo certo, o povo brincando, forrozando, animado, é gratificante demais", lembra.