Lionel Andrés Messi Cuccittini torna o esplêndido comum. Seu talento quase sobrenatural lhe deu fama, adoração, fortuna e uma carreira irretocável, com 40 títulos e sete prêmios de melhor do planeta. Mas existe um troféu que o craque argentino ainda não levantou: o da Copa do Mundo.
Ainda que se diga que sua idolatria seguirá a mesma com ou sem a taça pela Argentina, a obsessão do camisa 10 é coroar, aos 35 anos, uma trajetória extraordinária com a conquista que lhe falta. Ele tem neste domingo, contra a França, a oportunidade derradeira de alcançar o Santo Graal do futebol mundial.
"Estamos a um passo do nosso objetivo depois de lutar muito", disse o capitão argentino, cuja braçadeira ele veste há uma década. O pensamento do atacante é coletivo. Os recordes batidos, marcas de expressão e outros números não importam se a Argentina amargar mais um vice, repetindo o que aconteceu em 2014, no Brasil, quando a taça escapou a ele e a seus companheiros por detalhes e ficou com a Alemanha. "Tudo isso é lindo, mas na final eu quero outra coisa. O mais importante é conseguir o objetivo do grupo".
Suas apresentações geniais e a sua melhor versão em Copas, com cinco gols e três assistências em seis partidas, foram fundamentais para levar a Argentina à decisão. As marcas expressivas não mais impressionam porque quem acompanha Messi está acostumado a vê-lo superar recordes.
Messi é o goleador máximo de sua seleção na história das Copas (11 gols), o artilheiro do torneio do Catar ao lado de Mbappé (cinco) e se tornará neste domingo o atleta com mais jogos em Mundiais, superando o alemão Lothar Matthäu ao jogar uma partida de Copa do Mundo pela 26ª vez.
"O que posso dizer sobre Messi que já não foi dito? Dou graças a Deus por ser argentino. Ele é o melhor do mundo", salientou o zagueiro Lisandro Martínez.
Os argentinos têm o entendimento de que Messi, independentemente do resultado da final deste domingo, já está na mesma prateleira que o ídolo Diego Maradona, morto em 2020. Consideram que o capitão da atual seleção tem um lugar ao lado do dono do gol do século e principal responsável pelo título mundial em 1986.
Mas a vitória sobre a França não deixará dúvidas para ninguém. Argentina campeã com Messi protagonista de uma Copa como nunca se viu deixará o camisa 10 consolidado no panteão dos melhores da história. O técnico Lionel Scaloni já está convicto disso.
"Se Messi é o maior da história? Às vezes parece que é porque somos argentinos, somos assim, mas creio que não haja qualquer dúvida", opinou. "Tenho o privilégio de treiná-lo, de vê-lo e é emocionante. Cada vez que você o olha, gera algo no companheiro, nas pessoas, e não só para os argentinos. É algo que vai além. É uma sorte e um privilégio".
Novo Messi
Nasceu em 2019 após decepções um novo Lionel Messi. Na penúltima Copa América, sediada no Brasil, o craque argentino começou a ser mais Maradona. Deixou de ser um personagem introvertido, tímido e apresentou sua versão mais pujante e enérgica.
A gênese desse personagem maradoniano se deu na noite de 6 de julho de 2019, quando foi expulso na disputa pelo terceiro lugar com o Chile. Sua seleção ficou com o bronze depois de vencer os chilenos, mas ele recebeu o vermelho naquela partida e afirmou que o torneio estava "armado" para o Brasil vencer. Dias antes, a seleção brasileira eliminou a Argentina em jogo em que o time alviceleste reclamou da não marcação de dois pênaltis.
O camisa 10 detonou a arbitragem, acusou a Conmebol de corrupção e disse que a Argentina não faria parte daquilo. Depois da partida, se recusou a receber a medalha de bronze."Não fui à premiação porque nós não temos de ser parte desta corrupção. Nos faltaram com respeito durante toda a Copa. Não nos deixaram chegar à final", reclamou o craque na época.
Essa versão contestadora foi consolidada no Mundial do Catar com o famoso "¿Qué mirás bobo?" que lançou para o centroavante holandês Wout Weghorst. A frase virou estampa de camisetas e canecas, rodou o mundo e se tornou símbolo da nação na Copa. O Messi maradoniano no Catar também devolveu as provocações de Van Gaal com insultos e uma comemoração a la Riquelme, mostra empenho ao ajudar os colegas na marcação e comemora cada vitória como se fosse a última. Será neste domingo.
"Estou desfrutando. Faz algum tempo que eu venho desfrutando muito da seleção, depois de tudo o que passamos, conseguimos a Copa América, chegamos ao Mundial com 36 jogos invictos, e terminar tudo isso com uma final é incrível".
O título da Copa América de 2021 teve papel importante nessa transformação do craque argentino. O troféu, conquistado com vitória por 1 a 0 sobre o Brasil na final no Maracanã, afastou a fama de "pecho frío" do camisa 10, muitas vezes considerado mais espanhol do que argentino por ter passado uma vida no Barcelona, responsável por desenvolvê-lo no futebol.
Ele se afirmou como líder também com as palavras, nas quais tropeçou por anos. Sempre foi uma liderança técnica, mas passou a ser também uma referência para os companheiros no vestiário. Seu discurso antes e depois de cada partida e o comportamento com os atletas lhe fez ser uma figura ainda mais idolatrada. No Catar, ele é venerado e deixa devotos, entre torcedores, jornalistas e rivais.
"Vejo ele feliz hoje, como todo argentino", disse o goleiro "Dibu Martínez", na véspera da finalíssima. Ele tem uma forte ligação com o ídolo que virou amigo, a ponto de ele dizer que morreria por Messi. O capítulo mais importante de sua fantástica trajetória no futebol termina neste domingo no Oriente Médio. Resta saber se o futebol dará a Messi a Copa que lhe falta.