FIA restringe mais pilotos e equipes em revisão das regras

FIA publica atualizações do Código Desportivo e dificulta a situação de pilotos e times em relação a questionamentos e postura de decisões

23 jan 2025 - 12h41
Mais uma para a conta: Ben Sulayem endurece a situação para pilotos e equipes reclamarem e/ou se poscionarem
Mais uma para a conta: Ben Sulayem endurece a situação para pilotos e equipes reclamarem e/ou se poscionarem
Foto: FIA

Muito pode se falar de Mohammed Ben Sulayem. Porém, uma coisa não se pode negar: ele é um cara que busca cumprir aquilo que prometeu. Em sua campanha, ele prometeu recuperar as finanças da FIA e trazer a entidade mais próxima a seus membros.

Pode se questionar os métodos, mas ele vem conseguindo entregar: a FIA deve apresentar lucro em 2024 (embora seja uma entidade sem fins lucrativos) e os valores distribuídos aos diversos membros aumentou nos últimos tempos. Sobre este último ponto, os detratores dizem que é um método bem “cartoleiro tupiniquim” para garantir o controle da entidade.

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Esta é a visão “boa” da gestão Ben Sulayem. Porém, como a gestão vem sendo feita é que levanta dúvidas para o grande público, especialmente naquele que é o principal produto da FIA: a F1. Temos sempre que lembrar que a FIA não é somente automobilismo: ela abrange uma série de ações ligadas ao setor automotivo (por exemplo: a FIA ajuda a regular a questão de permissão internacional de habilitação para dirigir), bem como também algumas áreas de turismo...

Ben Sulayem assumiu com o peso de Abu Dhabi nas costas. Mas ao longo deste seu mandato, foram tapas e beijos com a Liberty Media, equipes e pilotos. Sem contar as inúmeras mudanças de pessoal acontecidas. Isso acabou por estressar as relações internas na categoria e deixar a imagem de Ben Sulayem e da FIA bem vulnerável diante do grande público.

Uma das últimas arengas da FIA foi justamente contra os pilotos. Ben Sulayem declarou que os pilotos deveriam moderar o que falam durante as corridas, já que muita coisa vai para transmissão. Isso motivou uma posição até então inédita da associação dos pilotos, a GPDA, questionando uma série de posturas da entidade, incluindo até a questão da transparência do uso do dinheiro das multas.

No final de 2024, a FIA resolveu aumentar mais a aposta e realizou uma série de mudanças no seu estatuto e em diversos pontos do Código Desportivo e seus anexos. Basicamente, este é o conjunto de normas que a FIA utiliza em suas competições e serve de base para a atuação das entidades desportivas ao redor do mundo.

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As mudanças foram aprovadas na Assembleia Geral da FIA em dezembro, mas só foram publicadas nesta quarta (22/01). E o que veio foi um verdadeiro endurecimento de posturas da FIA em relação aos pilotos. A principal desculpa era a questão de esclarecer algumas situações anteriores em relação a posicionamentos dos pilotos não somente em aspectos políticos ou religiosos, mas também em relação às decisões dos comissários e da entidade, bem como reduzir casos de assédio moral e até ameaças à integridade física.

Antes da Assembleia, vários membros expressaram a sua preocupação em relação ao teor das mudanças.  Mesmo assim foram aprovadas e em vigor. Basicamente, dá poderes aos Comissários não somente impor multas financeiras, mas que podem levar até a punição com perda de pontos. No caso da F1, uma punição inicial seria de 40 mil euros, conforme prevê o Anexo B do Código Esportivo.

Anexo B do Código Esportivo, onde estão previstas as multas pelos descumprimentos
Foto: FIA

O fato é que a chiadeira está em campo e algumas fontes, segundo a BBC Sport, dizem que a FIA não consultou a GPDA e órgãos internos ligados a pilotos para este tipo de decisão.

O fato é que, mais uma vez, a FIA fica em uma situação delicada diante do público. Em entrevistas dadas a alguns veículos, Bem Sulayem se considerou vítima de perseguição de alguns jornalistas, especialmente de parte da mídia britânica.

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O fato é que Ben Sulayem está em campanha para ser reeleito na FIA (mandato acaba esteeste ano). A sua posição já esteve mais ameaçada, mas como uma raposa, soube recuar e compor. Existe método no modo um tanto abrutalhado do emiradense, que sabe que ainda tem as cartas a seu favor. Porém, uma oposição mais forte pode aparecer (especialmente vinda da Europa) e até mesmo traições internas (que foram consideradas anteriormente diante da briga da FIA com a Liberty Media). Como já escrevi aqui, já tivemos casos de derrubadas históricas...(ver aqui)

Todo caso, agora se cria uma situação que, se mantida, pode criar uma verdadeira “paz de cemitério” caso seja levada ao pé da letra. Nós já tivemos uma pequena mostra disso no WEC, onde existe uma regra em que o Balanço de Performance estabelecido pela Organização não pode ser questionado publicamente. O então Diretor Técnico da Toyota, Rob Leupen, fez uma observação sobre o tema em Interlagos a um jornalista e levou uma multa de 10 mil euros. Aparentemente, o padrão agora passa a ser esse.

A ver qual será a reação do mundo do esporte a motor em relação a isso. Uma coisa é ter respeito a comissários e normas. Outra, é estabelecer uma mordaça e obedecer sem questionar.

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