Não é segredo para ninguem que a indústria automobilística anda em mares revoltos, especialmente a europeia. A combinação queda de vendas, aumentos de custos e competição chinesa pegaram de jeito as montadoras do Velho Continente.
Em momentos como esse, investimentos em competições entram na mira dos planilheiros como potenciais cortes de custos. Um exemplo claro que temos recentemente foi a desistência da Renault em desenvolver seu motor para 2026, mesmo tendo iniciado o projeto.
Uma das preocupações da F1 nos últimos anos foi criar um ambiente em que as equipes pudessem gerar recursos de modo que seu desempenho ajudaria a criar recursos para seu desenvolvimento e sustentação. O Teto Orçamentário, tanto para equipes como motores, e o acordo comercial foram vitais para isso e ajudar a trazer novas marcas.
Aqui entra a Volkswagen. Após tantas idas e vindas ao longo dos anos, os alemães finalmente disseram sim e decidiram usar a Audi como veículo para entrar na F1, realizando a compra da Sauber e desenvolvendo sua própria unidade de força. A sua irmã e concorrente Porsche também tencionou entrar, mas a frustração das negociações com a Red Bull deixou o sonho mais longe...
Estima-se que a Audi tenha desembolsado cerca de US$ 600 milhões até aqui para comprar 100% da Sauber. O processo que era para ter acontecido até o final de 2025 foi antecipado para este ano. Só que muita coisa aconteceu para a Audi desde que ela anunciou a sua entrada oficial na F1...
Primeiro, houve a saída de toda a diretoria que havia aprovado o projeto F1. O novo CEO, Gernot Dollner, assumiu o posto em setembro do ano passado e demorou a dar sua visão sobre a empreitada, até mesmo por questões estatutárias. O OK veio, mas ele só foi pisar pela primeira vez no paddock da F1 em Spa, em agosto deste ano.
Depois, houve a mudança do próprio comando do projeto F1. Vindo da McLaren, Andreas Seidl veio com carta branca para tocar a transição da Sauber, time onde ele esteve quando a BMW era dona, para Audi. Mas uma série de desacertos com a Diretoria motivou sua saída, vindo Mattia Binotto para seu lugar.
Para tornar a coisa mais desafiadora, o grupo Volkswagen vem discutindo uma série de ações diante da queda de vendas. A aposta em uma linha mais eletrificada não vem se pagando e as vendas caíram. A Audi também entrou neste bolo: nos 9 primeiros meses deste ano, vendas e produção caíram mais de 10% e o lucro operacional caiu mais da metade em relação ao ano passado....
Muitas discussões estão acontecendo, mas só a Audi fala em um corte de até 4.500 empregos, cerca de 15% da sua força de trabalho atual, em “médio prazo”. Fica difícil explicar um mega investimento na F1 enquanto se fala em demissão ou redução de benefícios do Hans Chucrute, metalúrgico de Ingolstadt (sede da Audi)...
Uma saída surgiu para “salvar” o projeto viria de dentro do próprio grupo Volkswagen. A notícia veio inicialmente com o britânico Joe Saward e outras fontes confiáveis começaram a confirmar: a participação do Fundo Soberano do Catar. Nos últimos anos, este fundo árabe ampliou seus tentáculos nos mais diversos campos. No campo esportivo, foi a compra do Paris Saint-Germain. Outro deles, a Volkswagen: eles têm 10% das ações do grupo, sendo o 4º maior acionista da montadora e o 3º com direito a votos.
O modelo que se fala é que esse fundo compraria parte do time, talvez seguindo o exemplo do Fundo Soberano do Bahrein com a McLaren, que atualmente é dono de 70% da área de corridas. Isso ajudaria a pagar a conta e diminuiria o peso da conta. Inclusive há uma especulação entre alguns jornalistas que cobrem a F1 que, no fim, o time nem levaria o nome da Audi, que ficaria focada na unidade de potência.
Por euqnato, o trabalho segue na Alemanha e na Suiça. Especula-se que algum anuncio oficial seria feito nas próximas semanas, quando será disputado o GP do Catar. Até lá, cabe observar o desenvolvimento dos acontecimentos...