Fernando Alonso é um daqueles casos em que raramente há meio termo. Entre fãs e especialistas, é bem conhecido o estilo “ame ou odeie” do espanhol – especialmente fora das pistas, onde tem fama de egoísta, problemático e manipulador. Uma coisa, entretanto, é consenso: mesmo tendo faturado apenas dois títulos em 17 temporadas, Alonso é classificado por público e crítica como um dos melhores pilotos da história. E mesmo há muito tempo sem resultados expressivos, o espanhol fará falta à Fórmula 1 em 2019.
Aos 37 anos, Alonso já não tem olhos apenas para a categoria onde fez 22 pole positions, venceu 32 corridas e foi ao pódio 97 vezes. No ano passado, se ausentou do GP de Mônaco para disputar as 500 Milhas de Indianápolis, prova que chegou a liderar antes de abandonar com o motor quebrado. E desde o começo de 2018, está envolvido com as provas de longa duração. Participou das 24h de Daytona em janeiro, antes de iniciar a disputa do Mundial de Endurance, o WEC, em um protótipo da Toyota – equipe pela qual venceu as 24h de Le Mans em junho.
“O grande problema na F-1 é que as coisas são muito previsíveis. Você pode colocar no papel agora qual será o resultado da classificação em Mônaco, em Silverstone, no Canadá. Dá para acertar a ordem dos 15 primeiros colocados errando uma ou duas posições. Já no WEC você pode ter a mente aberta e ser flexível sobre tudo, precisa se adaptar a todas as curvas, todas as voltas, diferentes estilos de pilotagem. As corridas são imprevisíveis até a bandeira quadriculada”, cutuca o espanhol.
Sem chances de alcançar os números de Lewis Hamilton e Sebastian Vettel (que chegaram à categoria quando ele já era bicampeão mundial, mas que venceram nove dos 11 campeonatos que disputaram juntos), sem portas abertas nos times de ponta e longe de ter um carro vencedor, Alonso resolveu que seria mais feliz longe da Fórmula 1. Pouco depois de completar 300 corridas, em agosto, anunciou que deixaria a McLaren ao fim da temporada 2018. Os jornalistas que acompanham as corridas acreditam que seu carisma e seu conhecimento técnico farão falta. Para a imprensa espanhola, o fato de Alonso não ter espaço é um problema do sistema, não do piloto.
“Estou convencido que algo não funciona bem quando aquele que é provavelmente o melhor piloto de sua época anuncia sua retirada com apenas dois títulos mundiais. Apareceram diante de seus olhos outros objetivos, como o WEC e a Indy, despertando a paixão do piloto vencedor que ele é. Creio que desafios como a Tríplice Coroa são mais atraentes que a F-1 agora”, disse seu conterrâneo Antonio Lobato, jornalista dos mais atuantes na época de seus dois títulos.
Fernando Alonso fará seu último GP do Brasil neste domingo. A organização da prova já prometeu uma homenagem ao piloto, que faturou seus dois títulos mundiais no circuito paulistano. Embora nunca tenha vencido nesta pista, o bicampeão subiu ao pódio de Interlagos nada menos que oito vezes, e é bastante querido por boa parte da torcida brasileira.