Quando a Toyota anunciou o acordo de parceria com a Haas em outubro do ano passado, muitos começaram a se perguntar sobre uma possível volta dos japoneses à F1. É público e notório que a fábrica tem um amargor ao tratar de sua passagem na categoria e tem uma espécie de “negócio inconcluído”.
Isso ficou claro quando Akio Toyoda, o CEO da Toyota, participou do evento de divulgação da parceria e disse que ele havia sido o responsável por decidir a saída da Toyota 15 anos atrás e seria o responsável por aquele momento.
Não era recente que a Toyota já olhava a F1 novamente, ainda mais com o sucesso da sua rival Honda. O anúncio de Ryo Hirakawa como piloto reserva da McLaren em 2023 não foi algo feito aleatoriamente. O piloto japonês é um dos nomes tratados com cuidado pela montadora, que o tem como um dos principais nomes no FIA WEC, onde é bicampeão (22 e 23).
Pelo lado técnico, os japoneses nunca deixaram muito a F1 de lado, pois suas instalações em Colônia (Alemanha) seguiram sendo usadas por várias equipes para testes aerodinâmicos em seu túnel de vento. Para se ter uma ideia, a McLaren foi cliente até o ano passado, quando terminou a construção de sua nova unidade.
O acordo com a Haas prevê apoio na área de engenharia, incluindo desenvolvimento e fabricação de peças, além do desenvolvimento de um simulador na sede britânica da Haas (o time usa o da Dallara, na Itália). Este foi um dos pontos positivos indicados por Ayao Komatsu, chefe da Haas, pois permitiria ao time ter mais força no desenvolvimento e pensar em coisas como testes.
Este ponto foi confirmado nesta segunda (13), quando a Haas anunciou que faria seu primeiro teste com um carro de temporadas anteriores (TPC) em Jerez. Além da sua dupla de pilotos (Bearman e Ocon), o time dará espaço para que Ritomo Miyata, piloto do programa de desenvolvimento de pilotos da Toyota, faça suas primeiras voltas em um F1.
O teste traz a chance do time integrar mais seus pilotos com a equipe de engenharia, ganhando tempo para trabalhar no carro e dá a chance para que Miyata possa pilotar um F1, já que a Toyota decidiu mudar a sua linha de desenvolvimento para o piloto, o retirando do Endurance e só o deixando nos monopostos (foi confirmado como piloto da ART para esta temporada na F2).
Não podemos esquecer que o acordo Haas/Ferrari vai até 2028...
O fator Hitech
Mas por outro lado, a Toyota também estabelece laços em outro campo: a Hitech. O time britânico passa a ter o apoio da Toyota Gazoo Racing a partir deste ano dentro de um programa de desenvolvimento de pilotos (além de Miyata) e Ryo Hirakawa passa a ser reserva da Alpine nesta temporada. Temos que lembrar que o chefe de equipe da Alpine, Oliver Oakes, é fundador e dono da Hitech...
Em um momento em que a Renault considera oportunidades para a Alpine na F1 e a Hitech quer crescer (ela participou do processo de escolha de novas equipes estabelecido pela FIA), um negócio não pode ser descartado...Até porque, neste caso, parte dos custos poderiam ser divididos. Mesmo com um teto de gastos, uma ajuda para pagar a conta sempre é bem vinda...
Independentemente disso, a Toyota vai se movimentando internamente: A unidade de Colônia receberá novos investimentos em breve, incluindo o túnel de vento. Membros do time do WEC e do WRC já foram deslocados para o Japão para trabalhar em “projetos especiais” na área de competições. Oficialmente, o foco é o desenvolvimento do novo Hypercar movido à hidrogênio. Porém, há o trabalho no que poderia ser uma unidade híbrida para a F1 dentro das regras atuais, embora os japoneses não tenham ainda se habilitado junto à FIA para ser um novo fornecedor (já existem conversas para que se juntem às discussões da nova unidade de potência prevista inicialmente para 2030). E muitas informações da Haas fluem na Alemanha e no Japão para o entendimento do carro atual e iniciar o projeto de 2026...
A Toyota parece ter aprendido com seus erros anteriores e faz uma abordagem cautelosa e progressiva. Nada diferente de seu modo habitual de trabalho. A F1 olha com muitos bons olhos e quer mais uma montadora em seu campo. Mas a pergunta que fica no ar é: vão comprar algum time ou virão novamente com uma estrutura do zero, como a 12ª equipe?
Não importando como, aparentemente, eles virão mesmo.
