Uma decisão da Justiça da União Europeia pode abrir caminho para grandes mudanças na F1, abrindo a possibilidade dos times criarem uma Superliga própria e entrada da Andretti na categoria, desencadeando possíveis novas investigações da UE na F1.
Chega o final do ano, quando pensamos que está tudo tranquilo, vem alguma coisa que balança as estruturas da F1, mesmo que não diretamente. Uma decisão ligada ao futebol pode abrir brecha para que grandes movimentos possam ser tomados na categoria máxima.
Na última quinta (21), o Tribunal de Justiça da União Europeia declarou que as ações promovidas pela FIFA e UEFA para abafar a grande movimentação de alguns grandes clubes europeus para formar uma Superliga de futebol a parte das duas entidades. Em um grande resumo: os clubes que querem formar esta nova liga não podem ser pressionados ou retaliados a não o fazer, pois são práticas que vão contra as leis de concorrência da União Europeia.
Esta decisão acaba por criar situações que podem permitir grandes reviravoltas na F1 e estão diretamente ligadas à briga FIA x F1.
A relação entre as duas partes nunca foi totalmente tranquila. Mesmo depois do Pacto de Concórdia de 1981 e suas diversas emendas, várias brigas aconteceram e a possibilidade de cisão esteve na mesa em muitos momentos, com o último grande embate em 2009/2010.
Com a chegada de Mohammed Ben Sulayem ao comando da FIA no final de 2021, a batalha cresceu em proporção. Em busca de aumentar a arrecadação da entidade, que não fechava suas contas no azul há anos e que sofreu bastante com a COVID, e principalmente garantir o controle da entidade sobre a F1, afinal o que existe é um acordo comercial em que a marca é cedida à Formula One Management (FOM).
Nos últimos tempos, a temperatura voltou a subir e o último ato da famosa investigação de conflito de interesses de Susie e Toto Wolff, motivando uma rara união entre os times, deu mais força a uma conversa que sempre existiu, até se tentou em 1981 e nunca foi a frente: a cisão F1 x FIA.
Embora seja controlada por uma empresa estadunidense, a F1 tem sua Sede em Londres e algumas ramificações em Luxemburgo e Holanda. E mesmo com o Brexit incompleto, a parte empresarial está sujeita às leis europeias. Tanto que anteriormente, a União Europeia fez várias investigações sobre práticas comerciais e vários ajustes foram feitos para evitar tantas intromissões. A última destas foi uma ação que Sauber e a então Force India entraram na justiça europeia em 2015 para reclamar de práticas abusivas e da distribuição de dinheiro. Rapidamente, um acordo foi feito e a ação retirada...
Com a decisão da justiça europeia, abriria a possibilidade de que as equipes pudessem criar um campeonato próprio e deixar a FIA na chuva. Ok, teria que ser outro nome e a entidade poderia organizar uma outra disputa com outras equipes. Mas as principais marcas estariam em outra liga e não poderiam ser penalizadas (pelo menos não de forma aberta) pela FIA em fazer este tipo de ação.
Esta seria uma tremenda derrota para Ben Sulayem, que sabe que a F1 garante boa parte da arrecadação da entidade que preside e que dá maior visibilidade. Este ano, ele deu mostras que sairia dos holofotes e deixaria que outras pessoas assumissem o comando da categoria, inclusive com forte trânsito entre as equipes e a F1. Mas parece que o ego falou mais alto...
Outro assunto que pode vir a tomar mais corpo por conta desta decisão é a entrada da Andretti. Já aprovada pela FIA, o time de Michael Andretti vem conversando com a Liberty Media para que possa entrar na categoria. Em um momento em que a F1 discute o novo acordo comercial para começar a valer em 2026, a equipe estadunidense poderia alegar que a FOM usa de ferramentas monopolistas para impedir a sua entrada e forçar o acesso pela via judicial. Isso poderia começar uma nova investigação por parte da União Europeia e colocar a categoria em uma situação que poderia colocar muita coisa em jogo...
Ainda são possibilidades estas duas vertentes. Porém, com a novidade desta decisão da justiça europeia, tem que se colocar sim no horizonte. Muita coisa está em jogo e todos querem uma solução negociada, sem que vá para as barras da justiça. Afinal, vários interesses estão em jogo e um movimento em falso pode pôr tudo a perder...