Os trabalhos começaram efetivamente nos boxes de Monaco e as tão faladas mudanças que a Mercedes traria para o W14 finalmente apareceram. Como falamos alguns dias atrás, eram mudanças que mereciam sim dizer que é uma versão B do carro que começou o ano.
O que chamou a atenção de todos foram principalmente dois pontos: suspensão e laterais.
Suspensão
Como exposto antes, a Mercedes promoveu uma mudança na geometria da suspensão. A foto feita pelo jornalista espanhol Albert Fabrega deixa claro isso. Sem mexer no conceito pushrod, que implicaria em ter que construir um novo chassi, o time bebeu na fonte da Red Bull.
Podemos ver pela comparação que o braço da suspensão passou a ser montado mais em cima. Isso permite que a Mercedes possa trabalhar mais em algumas posições de ajuste, melhorando a parte de rodagem e do comportamento do carro, especialmente quando das freadas.
A suspensão tem por objetivo manter a altura do carro o mais estável possível. Com a adoção do efeito solo, esta característica passa a ser mais crítica ainda, pois quanto menos o carro oscilar e estando mais próximo do chão, mais pressão aerodinâmica ele gera.
Então, os carros têm usado acertos muito mais duros do que antes, para o carro oscilar menos. Para que não perdessem tanto, a Red Bull trabalhou muito neste campo (e aqui foi onde Newey teve o foco do seu trabalho). Pela foto acima, dá para notar que os taurinos optaram por colocar o braço da suspensão bem no alto da frente.
Além de garantir uma melhor distribuição do esforço, esta configuração ajuda a melhorar o fluxo do ar para a parte de trás do carro, tanto para a carroceria, como para os tuneis do assoalho, aumentando a geração de pressão aerodinâmica
Laterais
O W14 apareceu com um conceito igual aos demais: uma entrada de ar mais larga, bem como um desenho mais convencional, criando mais fluxo de ar para fora do carro e deixando mais claro a questão da queda da parte traseira para o difusor.
Não que o W14 já não estivesse usando destes conceitos. Em texto de fevereiro (aqui), apontamos que a Mercedes, embora mantivesse o zeropod, adotava a figura dos “canhoes” e do “escorregador” dos demais.
Agora, a equipe técnica se rende ao caminho feito pelos demais, adotando uma solução que é baseada na Ferrari com pitadas de Aston Martin e McLaren. Em uma primeira vista, soa como uma concepção que remonta às primeiras modificações feitas pelos times a esta altura na temporada passada.
Porém, como a Mercedes é a última a abraçar este desenho, aparentemente o caminho é se colocar em um passo atras dos demais para fazer a ideia funcionar, salvar esta temporada e preparar para 2024, já sob a batuta de James Allison.
As mudanças nao foram só externas. Internamente, foram mudadas as posições dos radiadores por conta da nova entrada de ar e mudanças nas grelhas. Isso também impacta em como vai ser feita a troca de ar. Desde o ano passado, a Mercedes usa uma tecnologia inspirada em foguetes espaciais para a refrigeração. A ver como esta solução vai se comportar agora. Afinal de contas, se o motor é refrigerado melhor, pode funcionar em regimes mais elevados, gerando mais potência.
Monaco não é um dos locais mais recomendados para testar mudanças radicais em carros. No caso da Mercedes, os pilotos terão que confirmar muito nos dados obtidos nos simuladores de fábrica e na sensibilidade dos pilotos. O fato é que o comportamento dinâmico deve ser bem diferente e os referenciais de pilotagem mudam.
Os carros vão para pista na sexta e aí veremos a efetividade das mudanças. Teremos outras, especialmente na Espanha, onde deve vir um assoalho revisado. Olhando o carro parado, não soa tão efetivo e até mesmo uma novidade antiga. Mas o relógio que é o grande patrão aqui. Se o tempo aparecer, está tudo certo.