Nelson Piquet se pronunciou à imprensa internacional sobre o termo de conotação racista usado para se referir a Lewis Hamilton durante uma entrevista dada em 2021 e que viralizou recentemente nas redes sociais. O tricampeão emitiu um comunicado nesta quarta-feira (29) pedindo desculpas ao piloto inglês e "a todos que se sentiram afetados", mas se defendeu, dizendo que foi 'vítima' de uma "tradução incorreta".
O comentário com uso de termo racista por parte de Piquet ocorreu no ano passado, quando o tricampeão comentava a batida entre o piloto da Mercedes e Max Verstappen no GP da Inglaterra de Fórmula 1. No vídeo, que ganhou repercussão na imprensa internacional, o jornalista Ricardo Oliveira questionou Piquet sobre uma manobra parecida de Ayrton Senna no passado, e o tricampeão discordou. "O 'neguinho' meteu o carro e não deixou [Verstappen passar]. […] O 'neguinho' deixou o carro, porque não tinha como passar dois carros naquela curva. […] O 'neguinho' fez de sacanagem", disse Piquet na entrevista concedida em 3 de novembro de 2021.
O vídeo ressurgiu nas redes sociais semana passada e se tornou viral no Brasil. Mas não demorou para cair os primeiros respingos fora do país, até que chegou aos jornalistas estrangeiros e explodiu de vez.
Em sua nota, Piquet começa o texto dizendo que gostaria de esclarecer a história que estourou no mundo e motivou notas de repúdio de praticamente toda a comunidade da F1 e dos esportes a motor em geral. Sem prever o tamanho da repercussão negativa na mídia, o ex-piloto fez questão de deixar claro que "nunca teve a intenção de ofender ninguém".
"Gostaria de esclarecer a história circulando na mídia em relação a um comentário que fiz durante uma entrevista no ano passado", disse Piquet. "O que disse foi mal pensado, e não vou me defender disso, mas quero esclarecer que o termo usado é um termo amplamente e historicamente usado no português coloquial do Brasil como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa' e nunca teve a intenção de ofender", seguiu.
"Nunca usei a palavra que algumas traduções me acusaram de usar. Condeno fortemente qualquer insinuação de que usei a palavra com o propósito de menosprezar um piloto por causa da cor da pele dele", frisou. "Peço sinceramente desculpas a todos que se sentiram afetados, inclusive Lewis, que é um piloto incrível, mas a tradução atualmente circulando nas redes sociais não está correta", frisou.
"Discriminação não tem espaço na F1 e na sociedade e fico feliz em esclarecer o que penso neste sentido", concluiu.
Assim que a fala de Piquet se tornou de conhecimento público, a Fórmula 1 emitiu uma nota de repúdio, mesmo sem citar o nome do tricampeão. "Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer forma e não faz parte da sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso esporte e merece respeito. Seus esforços incansáveis para aumentar a diversidade e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o qual estamos comprometidos na F1", ressalta a nota da F1.
A Mercedes também se manifestou oficialmente sobre a linguagem usada por Piquet. "Condenamos nos termos mais fortes qualquer uso de linguagem racista ou discriminatória de qualquer tipo. Lewis liderou os esforços do nosso esporte para combater o racismo e ele é um verdadeiro campeão da diversidade dentro e fora das pistas. Juntos, compartilhamos a visão de um automobilismo diversificado e inclusivo, e este incidente destaca a importância fundamental de continuarmos lutando por um futuro melhor", disse a equipe.
A FIA também repudiou o acontecimento, dizendo por meio de nota oficial em sua conta no Twitter que "condena veementemente qualquer linguagem e comportamento racista ou discriminatório, que não tem lugar no esporte ou na sociedade em geral. Expressamos nossa solidariedade a Lewis Hamilton e apoiamos totalmente seu compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão no esporte a motor", finalizou a entidade.