Wilson Fittipaldi Junior. Este era o nome de batismo. Logo uma herança do pai, que foi um homem de comunicação e de competição. Mas justamente por isso logo virou o "Wilsinho". Uma tradição nossa, que vem dos portugueses, que tem por habito colocar apelidos carinhosos entre os seus queridos.
Só que também temos o "Tigrão", que veio da postura agressiva na pista, ajudado pelo grande porte. E ao longo da história, foi sendo gravado nos boxes da vida.
Podemos dizer sim que a história dos Fittipaldi e do automobilismo brasileiro estão umbilicalmente ligados. E Wilsinho foi parte importante de tudo. Junto com o irmão, correram de motocicleta e depois de carro (com Emerson, mais novo, sendo mecânico). Wilsinho fez parte da mitica equipe Willys, sendo um dos primeiros a andar com um monoposto feito aqui, em 1967, que deu algumas voltas na Argentina.
Foi um dos responsáveis também pelo sucesso do Fitti-Vê, que ganhou os campeonatos da Fórmula Vê em 1968. E não parou como construtor: além de monopostos, também fez um Fusca de 2 motores e ainda montou o Fitti-Porsche, montado com base nos escombros de um carro de Wilsinho que Emerson fez o favor de bater. Além de uma série de equipamentos para carros.
Com o sucesso de Emerson na Inglaterra, Wilsinho também fez a jornada para a Europa e foi na cola do seu irmão mais novo: estreou em 1970 na Fórmula 3 inglesa e no ano seguinte, já estava na F2, batendo roda com nomes como Ronnie Peterson e Carlos Reutemann. Nesta época, um nome também fazia companhia e vinha já dos projetos brasileiros: Ricardo Divilla.
Em 1972, faz o salto para a F1 pela Brabham, sendo piloto pagante em um time que era companheiro de Carlos Reutemann e Graham Hill. Fez boas provas, mas a equipe estava em transição de comando, com Bernie Ecclestone assumindo o time, e o carro não era dos melhores. Embora tenha feito boas provas, incluindo o GP Brasil, em que chegou em terceiro, não pontuou.
Os primeiros pontos vieram na temporada seguinte, com um quinto lugar na Alemanha e um sexto lugar na Argentina. Mas a falta de perspectiva de melhores respultados e vendo que não adiantava ser um piloto pagante sem ter bom equipamento, fez com que o velho espírito construtor batesse e o grito de liberdade foi dado: "Chega! com o dinheiro que ou para estes caras, eu faço meu próprio carro".
Ainda em 1973, mandou Divilla ao Brasil verificar se havia condições de se fazer um carro. Dois meses depois, com uma resposta positiva, decidiu se jogar de cabeça: iria tirar um ano sabático para estruturar seu F1.
Eram outros tempos: com aluminio reforçado, um Ford Cosworth, uma caixa de cambio Hewland e um acordo de pneus, era possível construir um F1 e ir para a pista. E assim Wilsinho Fittipaldi, junto com Ricardo Divilla, iniciaram o projeto do seu F1. Inicialmente, o projeto foi feito inteiramente com dinheiro proprio, vindo parte dos contratos fechados por Emerson. Na busca por apoiadores, muitos risos foram dados por empresas contatadas.
Mas quando da Copa da Alemanha, um comercial na TV chamou a atenção de Wilsinho: um monte de acuçar com uma bandeirinha espetada em cima. Era a Copersucar. Com a ajuda de uns amigos, o contato foi feito e a cooperativa paulista tornou-se a patrocinadora da equipe, inclusive dando nome (Visa Cash App ou Kick são longe de ser novidade...)
E assim foi. Além disso, Wilsinho incorporou Jack Brabham e se tornou piloto e chefe de equipe. E assim foi em 1975, em jornada dupla. Em entrevistas, ele proprio assumiu que isso atrapalhou em alguns momentos, mas que fazia parte. Seu plano era fazer mais um ano e preparar o time para ser um lugar para pilotos brasileiros, incluindo Emerson Fittipaldi. Mas era em um futuro longuinquo...
Só que futuro chegou logo em novembro de 1975, quando as negociações entre Emerson e McLaren chegaram em um impasse e a Copersucar aceitou bancar o salário que o brasileiro recebia na época: Emerson seria piloto da sua própria equipe e Wilsinho seria definitivamente chefe de equipe. Era mais uma vez os dois irmãos juntos, fazendo o que mais gostavam.
Só que as coisas não correram como o esperado por diversos motivos, incluindo a impaciencia brasileira. Muitas coisas a favor apareceram, mas no momento errado. Ao longo de oito temporadas e 104 GPs, tiveram bons momentos, sendo o maior o segundo lugar no GP do Brasil de 1978. Só que o dinheiro escasso e as dívidas fizeram com que o sonho terminasse em 1982.
Mas ele soube se reerguer. De volta ao Brasil, participou de corridas de Turismo e Stock Car. Em paralelo, começou a preparar a carreira de seu filho Christian, fazendo o misto de empresário e chefe de equipe em alguumas vezes. E ajudou a chegar à F1.
Em um momento, os Fittipaldi se encontram na pista. Em um evento no México, chamado "Corrida das Nações", Wilsinho e Christian correram juntos pela primeira vez. Emerson também participaria, mas não foi possível. Depois, iria ter outros encontros, levanto inclusive a uma edição das Mil Milhas, em 1994, onde venceram.
Embora cada vez tenha ficado afastado do volante, Wilsinho nunca deixou a velocidade. Depois foi um dos arquitetos da volta da Formula Vee junto com Ricardo Divilla e ainda trabalhou para trazer a F4 para o Brasil, além de fazer diversas clinicas de formação de pilotos e ser figurinha fácil em Interlagos.
Nos ultimos anos, a saúde vinha dando alguns sustos e deixando Wilsinho debilitado. Mas estava de alguma forma participativo. Até mesmo deu uma entrevista para o Parabólica na época da morte de Carlos Reutemann em 2021. Este aqui que vos fala esteve rapidamente com ele no paddock do GP de São Paulo ano passado, sendo muito bem recebido.
Após um incidente no Natal, Wilisnho esteve internado, lutando pela vida. Voltou para casa, mas neste dia 23 de fevereiro de 2024, completou sua ultima volta entre nós. Seu nome sempre ficará marcado entre os amantes da velocidade por sua competência e velocidade. F3, F2, Mil Milhas, Fórmula Vee... a velocidade sempre esteve contigo nestes 80 anos de intensidade. Vá com Deus, Wilsinho.