Um piloto de corrida negro e jovem da periferia de São Paulo recebeu o apelido de 'Hamilton da favela', e diz se inspirar no heptacampeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton para seguir o mesmo caminho dentro e fora das pistas.
Wallace Martins, que atualmente corre na categoria Fórmula Delta, ganhou o apelido dos outros pilotos por causa das semelhanças de aspecto e de estilo com Hamilton.
Aos 18 anos e carismático, Martins não se importa com a comparação, e até diz que um de seus sonhos é copiar o britânico. "Acho que ele é um piloto que é muito dedicado ao que faz", disse Martins. "Você vê que ele ganha a corrida e está sempre já pensando em ganhar a próxima".
"E fora a história também. Vir de periferia, ser negro, o único negro ali na Fórmula 1, então tem muito do que se inspirar na história dele", acrescentou.
Como Hamilton, que fala constantemente sobre a luta contra o racismo, Martins enfrenta uma série de obstáculos em sua carreira incipiente. Ele está competindo contra pessoas que já correram nos Estados Unidos, mesmo nunca tendo saído do Brasil.
Quando ele começou no negócio notoriamente caro do automobilismo, corria uma prova e perdia as duas ou três seguintes enquanto familiares e amigos vendiam camisetas e organizavam vaquinhas para arrecadar dinheiro suficiente para ele voltar ao grid.
Durante a pandemia, ele testou carros e trabalhou como mecânico em troca de comida para a família. "Nada disto é fácil", disse ele à Reuters. "Melhorou muito, mas ainda não é fácil".
Martins estreou no kart aos 10 anos, e o sucesso o levou à Fórmula Vee, e depois à Fórmula Delta. Ele acumula 8 vitorias e 21 pódios em 44 corridas, de acordo com o site de automobilismo Driver DataBase, e atualmente está na terceira colocação da Copa Yokohama, o troféu dado ao melhor piloto nas três últimas provas da temporada.
A última corrida acontece no dia 19 de dezembro em Interlagos, o mesmo circuito no qual os pilotos de Fórmula 1 correrão neste final de semana.
Reportagens recentes sobre o talento e as lutas de Martins ajudam a atrair patrocinadores e também lançam luz sobre seu histórico de dificuldade em um esporte caro.
"Todo mundo que você vê ali (correndo) tem um patrocínio, aí você pergunta como que foi o patrocínio, a pessoa é filho do dono da loja, alguma coisa do tipo", disse Martins. "Então é um esporte muito de elite."