Maique sentiu que alguma coisa estava errada em uma quinta-feira. O corpanzil de 2,10m e 106 quilos não conseguia realizar aqueles exercícios corriqueiros de musculação no treino. A partir dali o pivô do Paulistano viveu dias difíceis. Testou positivo para covid-19, foi parar na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e saiu vitorioso de uma batalha que já matou 1.532 pessoas no Brasil, segundo números do Ministério da Saúde.
"O conselho que dou é para que todos possam se cuidar, que isso (doença) não é brincadeira. No Brasil muita gente ainda não está acreditando", afirmou o jogador de 26 anos, em entrevista exclusiva ao Estado.
O jogador está recuperado e mantém uma rotina de treinos em Campos, no Rio, cidade onde nasceu ao lado da mãe, dona Marta e dos irmãos, para estar preparado para o possível retorno do Novo Basquete Brasil (NBB). O torneio foi interrompido no dia 15 de março. A situação de Maique se tornou pública quatro dias depois. O pivô havia entrado em quadra pela última vez no dia 9 e sentiu os primeiros sintomas no dia 12. Ele não vê culpa da Liga Nacional de Basquete no episódio, apesar de demorar para parar o campeonato após uma orientação da Confederação Brasileira de Basketball.
Como foi descobrir estar com covid-19?
Um choque, foi muito difícil acreditar que estava com o vírus. Nunca passou pela minha cabeça que eu poderia pegar. A minha família e o pessoal do meu convívio social também ficou em choque.
Quais sintomas você teve?
Começou com um leve desconforto físico. Fui treinar na academia na quinta-feira (dia 12 de março) e não consegui fazer os exercícios com o peso que estava acostumado, me senti muito cansado. No dia seguinte, na manhã de sexta, já cheguei cansado ao treino, sentindo calafrios, querendo ficar doente. A imunidade baixa. No período da tarde, já estava com dor de cabeça, no corpo, mal-estar e aquele estado febril. Aí fui ao médico do clube, que me examinou e disse que só deveria ser uma inflamação na garganta, me passou um anti-inflamatório e fui para casa, sem treinar naquela tarde. A noite de sexta para sábado foi muito difícil. Não consegui dormir, sentindo muito calafrios, dor no corpo e cheguei para o treino, me sentindo muito mal e aí fui ao médico e fiz o teste.
Qual foi o período mais difícil?
Os quatro primeiros dias foram complicados. Eu não sentia gosto de nada, tinha um pouco de falta de ar, principalmente no período da noite, quando eu sempre piorava. Tinha tosse, sentia muita dor de cabeça.
Como foi lidar com isso? Naquela altura, 19 de março, quando foi anunciado que você estava com covid-19, eram 621 casos e seis mortes no Brasil
Tentei lidar de uma maneira positiva. Os médicos me passaram bastante confiança. A minha família, minha mãe, ficou bastante preocupada, eu também fiquei preocupado. Mas procurei ser positivo e colocar Deus na frente de tudo.
Como foi o processo de recuperação? Você tomou algum remédio?
Não teve muito mistério. Procurei me alimentar o melhor possível para aumentar minha imunidade. Fiquei em observação no hospital, passei apenas uma noite na UTI, mas basicamente foi alimentação e repouso, tomando apenas alguns remédios para dor de cabeça, para melhorar o mais rápido possível.
O que você pode falar para as pessoas sobre sua experiência?
Foi uma situação que me afetou muito fisicamente. No primeiro treino, depois que eu me recuperei, pensei que nunca mais poderia jogar basquete. Em 10 minutos, eu estava muito ofegante, cansado... E eu sou um atleta. O conselho que dou é para que todos possam se cuidar, que isso (doença) não é brincadeira. No Brasil muita gente ainda não está acreditando. Ouça o que os médicos estão falando. Temos de ficar com os olhos bem abertos neste momento e tomar muito cuidado.
Acredita que esta situação poderia ter sido evitada? A Liga Nacional de Basquete demorou para suspender o NBB?
Não sei se cabe eu responder. Acho que eles tentaram fazer o melhor para os jogadores, para eles também. A covid-19 não estava tão disseminada no Brasil ainda, muita gente não acreditava. Em um primeiro momento, eles optaram por realizar os jogos com os portões fechados. Eu acabei contraindo o vírus e não sei onde foi. Pode ter sido na viagem de avião (para o jogo em Campina Grande, na Paraíba, diante da Unifacisa), mas eu também estava mantendo minha rotina normal. Não sei onde foi. A liga fez o que considerou melhor para os atletas e para eles. Assim que (o vírus) tomou uma proporção enorme, eles tomaram uma decisão correta de parar o NBB.
Acredita que há clima para o NBB voltar?
Vai ficar um pouco estranho, porque vamos voltar com os playoffs. Ainda tínhamos duas equipes (Brasília e São José) com chances de classificar. Vamos tentar seguir em frente. Infelizmente teremos de ser profissionais e seguir em frente, não olhar para trás. Temos de sair mais fortes e seguir.
A Liga tem discutido diversas opções. Qual fórmula considera ideal neste momento?
Acho que temos de aguardar. Quando todo mundo estiver fora de risco, podemos pensar em voltar dentro das limitações diante de tudo que está acontecendo.
Como está sua situação contratual com o Paulistano? O clube renegociou o salário ou está pagando integralmente na pausa?
O meu contrato acaba no dia primeiro de junho e eles vão manter isso até o final. Está previsto para voltarmos aos treinos no final de maio, começo de junho.
Então você deve ficar sem contrato antes do possível retorno do NBB?
É uma situação que ainda precisa ser discutida com os dirigentes (do Paulistano), meu agente e os outros jogadores.
Como tem feito para manter a forma?
Estou procurando seguir a programação que tínhamos no Paulistano. Claro que dentro da limitações, porque não é nada perto do que fazíamos diariamente lá, mas estou procurando trabalhar fisicamente para não perder tanto e também chegar mentalmente forte.
Se o NBB voltar, já teremos o clássico com o Pinheiros...
É um confronto muito importante para o clube. Temos de pensar em fazer o melhor dentro de quadra e tentar sair vitoriosos.